Exame de próstata, cicatriz e pelos: mulheres trans tiram dúvidas sobre cirurgia
Influenciadoras digitais compartilham suas experiências nas redes sociais de maneira didática, divertida e emocionante
Em março deste ano a atriz Gabriela Loran passou a compartilhar nas suas redes sociais a vida após a chamada cirurgia de redesignação de gênero. Em um relato emocionante afirmou: “Meu corpo templo mudou, mas a minha mente não. Tudo mudou e ao mesmo tempo a sensação de que eu sempre fui assim. Sim, tudo mudou, é tudo novo, mas eu já sabia como seria".
De lá pra cá, Gabriela contou como foi a primeira ida à praia, as novas possibilidades de roupas, o conforto na academia e um pouquinho do processo da cirurgia em si.
"Ontem, fez três meses da cirurgia e é o período em que você pode voltar para as atividades físicas normalmente, obviamente devagarzinho porque internamente está tudo cicatrizado e pra quem não sabe o resultado final dessa cirurgia, o resultado estético final é com um ano de cirurgia", contou ela no vídeo publicado no dia 30 de abril.
Por enquanto Loran vem falando mais sobre os aspectos emocionais da cirurgia, porém outras figuras célebres da internet como a influenciadora e atriz Mandy Candy, que passou pelo procedimento em 2012, tem feito uma série de postagens mais detalhadas sobre o tema, tirando dúvidas enviadas pelos seus seguidores.
Cicatrizes
Sempre bem humorada, Mandy costuma explicar sua cirurgia como a que "transformou o xibiu em xibiua", se referindo ao pênis e a vagina. Em um dos vídeos publicados ela conta que sim, o procedimento deixa cicatrizes.
"Deixou cicatriz. Os pontos em volta, sabe, da xibiua? Só que são cicatrizes muito pequenininhas, mal dá para ver. E como as pessoas têm pelos não dá para ver nada, porque ali tem pelo tapando, entendeu? Só que, no meu caso, eu tive que tirar um pedaço da minha barriga pra construir porque o que eu tinha lá embaixo, pra fazer, se é que você me entende, era muito pequenininho e precisava de mais tecido. Então, eu fiquei com uma cicatriz enorme na barriga, que parece de cesariana".
Pelos
Realizada na Tailândia, pelo fato de na época não ter profissionais tão qualificados no Brasil, Mandy optou pela cirurgia chamada de inversão, que utiliza os nervos e tecidos do pênis e do escroto para construção da vagina.
A influenciadora explica que o tecido do escroto é utilizado por ser elástico, no entanto passa por um processo de retirada de pelos e a parte interna da vagina fica lisa. "Tem pelo por fora como qualquer outra, dentro, amiga, jamais".
Próstata
"Às vezes as pessoas tentam me ofender falando 'quando tiver mais velha vai ter que fazer o exame de próstata'. Sim, provavelmente terei que fazer, porque eu ainda tenho próstata. Quando a gente faz a cirurgia, não sei se todos os métodos, mas o método que eu fiz, a próstata não é retirada. É um fato muito importante: a gente que é trans também pode ter o câncer de próstata. É mais difícil de ocorrer por causa do uso de hormônio e tudo mais, porém com saúde não se brinca, então, a gente tem que ir ao médico".
Mandy conta inclusive que acha positivo que a próstata seja mantida, tendo em vista que é também um ponto de prazer durante a prática do sexo anal.
"E de forma alguma eu me sinto ofendida quando alguém tenta me diminuir por eu ter essa parte no meu corpo. Afinal, é só uma parte a mais do meu corpo. Daqui uns anos eu vou ter que fazer o exame [de próstata]".
A influenciadora também publicou vídeos respondendo sobre menstruação, valores do procedimento e até gravidez. Você pode conferir tudo no seu perfil do instagram @mandycandy.
Vale ressaltar que algumas pessoas trans, além do processo de redesignação de gênero, que é a cirurgia genital, optam por uma série de outros procedimentos, ditos de feminilização como próteses mamária, retirada do "pomo de adão" e costelas, entre outros, porém é uma decisão individual e não existe uma lista de processos que uma pessoa deva seguir para ser entendida trans.
Hoje o país conta com cerca de 3 milhões de pessoas trans, conforme autodeclaração, segundo estudo comandado por Giancarlo Spizzirri - psiquiatra ligado à Faculdade de Medicina da USP, e publicado na revista Scientific Reports em janeiro deste ano.