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Pessoas com deficiência e o direito ao afeto e ao prazer

Alguns nos enxergam como angelicais e outros como aberrações. Se acha exagero, me diga: com quantas pessoas com deficiência você já ficou?

11 jan 2023 - 05h00
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Pessoas com deficiência são pessoas assim como vocês e também gostam de uma pegação e, quem sabe, um romance
Pessoas com deficiência são pessoas assim como vocês e também gostam de uma pegação e, quem sabe, um romance
Foto: iStock

Esse ano eu tive a oportunidade de fazer a pesquisa e algumas entrevistas para o documentário do cineasta Daniel Gonçalves sobre sexualidade e pessoas com deficiência. Assim como em várias áreas de nossas vidas, a parte sentimental, amorosa e sexual das pessoas com deficiência, também é pouco discutida e, mais do que isso, não é considerada.

Há ainda hoje uma parcela significativa da sociedade que nos enxerga como seres angelicais e imaculados e há os que nos vêem como aberrações, logo, não estamos no patamar de causar algum tipo de interesse afetivo, tampouco sexual. Caso ache que estou sendo radical demais, olhe para si e ao redor de pessoas próximas e me diga: com quantas pessoas com deficiência você já ficou? Já transou com algum PCD? Namorou? Casou? Voltando um pouco, já se permitiu ter algum tipo de interesse?

O corpo não normativo - fora do padrão - assusta e o medo de não saber como lidar, o que fazer/dizer e a certeza de nós somos seres dependentes, também nesse aspecto da vida, causa um certo pavor só de pensar, não é mesmo?

Demorei a me ver com um indivíduo sensual porque até isso é padronizado e com muitos códigos visuais que, em sua maioria, não são  passados para pessoas como eu. Hoje me considero privilegiada, pois estou em um casamento que me realiza em todos esses sentidos, mas confesso que antes de conhecer o Lucas, recorri a aplicativos de relacionamento, como o Tinder, porque achei a forma de flertar/conhecer pessoas mais acessível que numa festa, por exemplo, ainda que rolasse um afastamento imediato dos caras quando sabiam que sou completamente cega. Cheguei até a dar uns beijos eventualmente, mas nada muito duradouro, repito: porque não importa se temos ferramentas se o humano não considerar nossas humanidades até para isso.

Pessoas com deficiência são pessoas assim como vocês e também gostam de uma pegação, uma bagaceira e/ou quem sabe um romance. Acredito que para essa realidade mudar, precisa que haja uma intenção proposital de se permitir e não se afastar à primeira percepção da nossa deficiência.

Fonte: Redação Nós
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