Batalha automotiva: BYD desafia gigantes e governo intervém
Descubra como a BYD mexe com o mercado automotivo brasileiro e como a decisão do governo sobre impostos de importação impacta nessa disputa
BYD pediu ajuda do governo sem medo de encarar VW, GM, Toyota e Stellantis no Brasil. As marcas não gostaram e pediram prevenção da isonomia. Governo respondeu, mas não escolheu um lado
O cenário automotivo global passa por uma transformação sísmica, com a ascensão de novos players e a redefinição das regras do jogo. O mundo passou a "aceitar" o carro elétrico depois que a China passou a ser a manda-chuva nesse quesito. E, hoje, ninguém tem coragem de "peitar" a maior economia do mundo.
No Brasil, essa revolução ganhou contornos ainda mais nítidos com a "chegada" avassaladora da BYD no mercado de automóveis em 2023 - e também de outras marcas, como GWM, GAC e Omoda & Jaecoo. A estreia dessa turma colocou em xeque o domínio histórico de montadoras tradicionais como Volkswagen, GM, Toyota e todas as marcas do Grupo Stellantis.
O embate virou uma bola de neve. A BYD pediu ajuda ao Governo - em resumo, isenção de impostos, como você verá a seguir - e as empresas tradicionais reagiram. Mandaram carta conjunta ao presidente Lula, em 15 de julho, alegando que o governo deveria preservar a isonomia concorrencial e "proteger a indústria".
Neste início de semana, a BYD respondeu e chamou os autores da carta, a quadra de marcas tradicionais, de "dinossauros" e "obsoletos". O governo brasileiro decidiu intervir, alterando as regras de importação e adicionando uma nova camada de complexidade a essa disputa.
A ascensão da BYD
A BYD, gigante chinesa que começou sua jornada como fabricante de baterias, transformou-se em um dos maiores players globais no setor automotivo, especialmente no segmento de carros elétricos e híbridos.
Sua estratégia agressiva de preços, bom nível de tecnologia embarcada e um portfólio diversificado tem permitido a rápida expansão em mercados emergentes, incluindo o do Brasil.
Importante dizer que, atualmente, a empresa não só vende carros, mas investe em infraestrutura local e aposta na construção de fábricas, o que a posiciona como competidor de longo prazo e não importador.
A ira dos titãs: VW, GM, Toyota e Stellantis
Para as principais montadoras tradicionais - Volkswagen, General Motors, Toyota e Stellantis -, a chegada da BYD representa um desafio.
Acostumadas a um mercado mais previsível e com baixa concorrência no segmento de eletrificados, essas empresas agora se viram forçadas a acelerar seus planos de eletrificação e a rever suas estratégias de precificação e produção.
A resposta tem sido variada: algumas apostam em novos modelos híbridos e elétricos, outras em parcerias estratégicas (inclusive com outras empresas chinesas), e há aquelas que buscam fortalecer a produção local para competir em pé de igualdade.
O governo entra em jogo
A decisão do Comitê Executivo de Gestão da Câmara de Comércio Exterior (Gecex-Camex) saiu nesta semana: antecipar em um ano e meio do fim do cronograma de elevação da tarifa de importação para os carros elétricos e híbridos.
Com a decisão, carros que chegam importados em kits de peças e finalizados no Brasil, em um processo industrial conhecido como CKD (de Completely Knocked Down) ou SKD (de "semi", ou seja, inteiramente desmontados), passarão a ser tributados em 35% a partir de janeiro de 2027, e não em julho de 2028.
O Gecex-Camex ainda decidiu estabelecer cotas adicionais de importação com alíquota zero nos próximos seis meses para importados em peças e para os parcialmente montados.
Traduzindo: a decisão do governo federal atende parcialmente aos pedidos da BYD - que queria a redução do imposto de importação (II) por três anos - e das montadoras representadas pela Anfavea, que pediam a aplicação imediata dos 35% de imposto.
A medida também cria uma espécie de "período de transição". Essa janela permite que as marcas ajustem suas operações e cadeias de suprimentos, ao mesmo tempo em que sinaliza o compromisso do governo com a industrialização e a geração de empregos.
A expectativa é que isso force os novos entrantes a investir mais rapidamente na produção local, enquanto as montadoras já estabelecidas ganhem fôlego para se adaptar ao novo cenário.
O futuro da indústria
A disputa entre BYD e as fabricantes tradicionais, somada à intervenção governamental, desenha um futuro complexo e dinâmico para a indústria automotiva brasileira.
A competição promete beneficiar o cliente, com mais opções de veículos eletrificados e, possivelmente, com preços mais competitivos.
Para as empresas, o desafio será se adaptar rapidamente às novas realidades de mercado e às políticas governamentais, investindo em tecnologia, produção local e estratégias de vendas inovadoras.
Em resumo, a era da eletrificação chegou para ficar - e o Brasil se posiciona como um campo de batalha crucial nessa transformação global.