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Yu Gi Oh! Master Duel vale a pena para todos?

Iniciantes x nostálgicos x entusiastas. Será que o jogo tem o mesmo valor de diversão para todos? Ou é melhor esquecer o coração das cartas?

21 fev 2022 - 08h00
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Yu-Gi-Oh! Master Duel
Yu-Gi-Oh! Master Duel
Foto: GameON

O ano é incerto, mas você sabe que está na segunda metade da década de 2000; ao ligar a televisão, se depara com algumas personagens caricatas e de olhos grandes duelando por meio de cartinhas com fundo marrom. “É hora do duelo!”, você ouve, e os pelos do seu braço se eriçam como os de um gato em fuga. A diferença é que aqui a fuga pertence a uma categoria diferente: é a fuga da chatice do cotidiano.

Essa foi a infância de muitos brasileiros que, a essa altura, já estão mais próximos dos 30 ou 40 anos do que dos 15. Por mais que essa afirmação possa doer a alguns, é necessário aceitar a realidade. Mesmo assim, como que buscando certa nostalgia dos que abandonaram o coração das cartas e, ao mesmo tempo, dando ao cardgame novas possibilidades de se inserir no mundo dos games competitivos (o famigerado universo dos e-sports), Yu Gi Oh! Master Duel surgiu praticamente sem aviso numa noite nublada de janeiro.

Imagem: Yu-Gi-Oh! Duel Monsters
Imagem: Yu-Gi-Oh! Duel Monsters
Foto: GameON

É um tanto complicado abordar o título sem ter um público específico em mente, isso porque há jogadores que retornarão ao Yu Gi Oh! por causa de Master Duel depois de anos (a essa altura, décadas até); outros simplesmente mudaram de plataforma, tendo jogado, nos últimos tempos, em simuladores feitos por fãs; alguns leigos tentarão aproveitar o tão famoso jogo de cartas que quase venceu Pokémon na década de 2000; e mais alguns só vão aproveitar o game para aperfeiçoar seus decks reais, dado que uma das grandes atrações é o PvP (player vs player, ou pancadaria entre parceiros).

Mecânicas evoluídas

Imagem: PC Gamer
Imagem: PC Gamer
Foto: GameON

O que tanto mudou no sistema de jogo para você precisar se perguntar se Yu Gi Oh! Master Duel vale a pena? Bom, tudo. Quem não acompanhou o cenário competitivo nos últimos 20 anos e só se divertiu no recreio do fundamental com o Rei Caveira ou o Dragão Branco de Olhos Azuis vai se sentir mais perdido que o próprio Yugi Muto quando enfrentou Duke Devlin no seu sistema próprio de jogo com dados. Lógico, o sistema em si não teve alterações bruscas, ou seja, você ainda depende de um deck razoável e de sorte, mas agora existem muitas combinações e fatores que podem jogar ao seu favor.

Arquétipos, fusões diferentes, cartas das mais variadas cores e raridades, lista de cards banidos em competições, monstros de categorias XYZ, sincro, link e pêndulo. Pessoalmente, acompanhei a evolução disso até os decks sincro — depois simplesmente joguei a toalha e investi em passatempos menos complexos, como ler Guerra e Paz, de Liev Tolstói, ou Os Irmãos Karamázov, do Dostoiévski. Mas ei, há espaço para aprender se você estiver interessado em voltar a jogar a sério!

Imagem: Reprodução
Imagem: Reprodução
Foto: GameON

Yu Gi Oh! Master Duel tem um modo solo para que jogadores inseguros possam aprender mecânicas às quais não estão acostumados, além de treinar com decks e experimentar combinações novas. Tudo isso, é claro, visando o objetivo principal do título, que é a batalha entre jogadores. E é bom você rezar para encontrar um iniciante como você, ou então estar muito bem preparado, do contrário poderá acabar como o rapaz do tweet abaixo.

Em tradução livre: "Eu odeio YuGiOh. Eu invoco um monstrinho, e aí meu adversário joga uma carta mágica com cinco parágrafos de texto mais notas de rodapé que diz que porque eu dormi menos de 8 horas na noite passada, ele pode invocar o Dragão Destruidor de Culhões ou qualquer coisa assim e aí o jogo acabou e eu que me foda. (Imagem: Twitter/Mallack_)
Em tradução livre: "Eu odeio YuGiOh. Eu invoco um monstrinho, e aí meu adversário joga uma carta mágica com cinco parágrafos de texto mais notas de rodapé que diz que porque eu dormi menos de 8 horas na noite passada, ele pode invocar o Dragão Destruidor de Culhões ou qualquer coisa assim e aí o jogo acabou e eu que me foda. (Imagem: Twitter/Mallack_)
Foto: GameON

O começo provavelmente será desafiador, mas, caso o jogo realmente tenha te pescado (pela primeira ou trigésima vez, fica a cargo das suas escolhas), não deixe de investir nele, pode ser que você se descubra um grande mestre tal qual o protagonista do anime/mangá homônimo. É claro, para isso você terá que estudar o famigerado meta do game e como ele funciona de fato, mas ei, se até o ENEM tem meta, que dirá Yu Gi Oh! Master Duel.

O problema do meta

Antes de iniciar essa discussão, vale especificar o que é o meta de um jogo. Metagame, ou simplesmente meta, é um termo genérico usado para expressar o que seriam as estratégias mais comuns e eficientes em determinado cenário. Jogos que, por exemplo, possuem muito disso são os MOBA, como League of Legends e Dota 2. Ele é mais comum em títulos que possuem um grau médio de estratégia necessário para superar os adversários, e muitas vezes envolve habilidades ou personagens específicas.

Imagem: Reprodução
Imagem: Reprodução
Foto: GameON

Mais especificamente no Yu Gi Oh! Master Duel, o meta está relacionado ao uso de determinadas cartas ou decks que são, por falta de definição melhor, bastante poderosos e quase invencíveis, a menos que você construa um deck próprio baseado em contra-atacar determinada carta. Isso é um problema grande porque gera um ciclo que se retroalimenta e, sem atualizações por parte da desenvolvedora, os jogadores se transformam nos reis do game. Essa questão não seria ruim se isso não significasse que iniciantes serão devorados sem piedade e, muito provavelmente, deixarão de jogar.

O jogo é bom, mas a limitação do meta vai ser a queda dele. Se você tentar jogar com coisas que não sejam os decks meta, não vai ser uma experiência positiva. Mesmo assim, no começo o jogo é bem generoso com o dinheiro pay to win para comprar boosters, além de poder liberar arquétipos de decks inteiros no modo solo, ele que me prendeu mais que o PvP em si.” — Ricardo Lucas, designer, confeiteiro e jogador de Yu Gi Oh! Master Duel.

Ou seja, retomando uma prática já conhecida da comunidade, inevitavelmente, o jogador que quiser se destacar com mais velocidade precisará pagar por pacotes de cartas. Como quase sempre acontece, é até possível alcançar um bom nível e bons pacotes de cartas sem esse elemento, mas num tempo muito superior ao de quem deposita dinheiro na conta. Esse dinheiro é gasto para comprar as gemas necessárias para abrir pacotes (no maior estilo eye candy da EA ou da Activision Blizzard), divididos em três categorias.

Imagem: Yu-Gi-Oh! Wiki
Imagem: Yu-Gi-Oh! Wiki
Foto: GameON

No total, são 10.000 cartas. Como diria um certo conhecido de todos, são mais de 8.000 cards para montar seu deck, o que constitui um leque insano de possibilidades. Mas será que esse leque é tão grande assim mesmo ou só uma seleta porção de decks consegue enfrentar o famigerado meta? Pois é o que parece, infelizmente. Independente disso, esse tipo de estratégia e acontecimento sempre estará presente em jogos competitivos, ainda mais nos jogos de carta.

São cerca de 5 decks que conseguem jogar bem no competitivo; isso se amplifica ainda mais com o MaxxC, que pode ter 3 cópias, porque ele cabe em muitos decks que já tem grande potência. Mesmo assim, o jogo te permite ter mais de um deck, o que te dá a opção de montar um "meta" e um mais pra diversão.” — Murilo Oliveira, editor de vídeos e jogador de Yu Gi Oh! Master Duel.

Banlist, eventos e cross-save

Imagem: Reprodução
Imagem: Reprodução
Foto: GameON

Uma reclamação constante, seja da dupla entrevistada, seja de usuários nas redes, é sobre a falta de eventos que ampliem a vida útil do jogo. No momento de escrita dessa matéria, Yu Gi Oh! Master Duel já tem um evento marcado, mas, ao que parece, isso só ocorreu por pura pressão da comunidade. O que, convenhamos, é ótimo por um lado, já que mostra que a desenvolvedora ouviu as reclamações, mas, por outro, é preocupante, dado que as exigências precisaram ser feitas.

A falta de eventos pode ser um fator que afaste os jogadores também. Não só, talvez seja necessário algo além do battlepass para incentivar o uso de decks diferentes ou novas estratégias por parte dos devs para diversificar os tipos de decks que encontramos no meta.”, completou Ricardo.

Claro que são estilos de jogo muito diferentes, mas tomemos como exemplo Apex Legends. Além do passe de batalha longínquo, há pelo menos dois eventos por temporada para adicionar mais tempero ao jogo; o mesmo pode ser dito de Fortnite, que ainda recebe diversas skins de personagens ou mesmo de celebridades, o que é um belo combustível para atrair e prender a atenção dos jogadores. Coisas do gênero são importantes para manter a sanidade num jogo competitivo, mesmo que seja só por diversão.

Imagem: Yu-Gi-Oh! News
Imagem: Yu-Gi-Oh! News
Foto: GameON

E, por falar em diversão, a lista de cartas banidas do game é bem diferente da lista usada por competições oficiais de TCG ou mesmo OCG. Isso também varia conforme a região, sem dúvidas — os Estados Unidos têm diferenças na lista em comparação ao Japão —, o que fez com que os criadores de Master Duel solidificassem uma lista híbrida, com algumas banidas numa lista, mas livre em outras, e outras simplesmente livres de tudo. Essa discrepância pode ser benéfica ou terrível, a depender do ponto de vista, principalmente no cenário competitivo.

Para Murilo, “Falta uma banlist atualizada em relação ao game real (TCG e OCG), visto que a carta mais forte do Yu Gi Oh! Master Duel (MaxxC), no game real, é banida, enquanto que, no título, seu uso é ilimitado.”.

Faz-se necessário balancear a experiência de um modo mais assertivo, o que só agregará valor ao game. Outro problema relatado é o de problemas na conexão; Yu Gi Oh! é um jogo costumeiramente lento, em que, muitas vezes, você precisa ler com atenção os efeitos de determinada carta caso não tenha decorado o baralho inteiro. Mesmo assim, é um tanto desanimador você passar 200 segundos do seu turno lendo a carta para, depois, seu oponente ser desconectado.

Um ponto positivo que versa sobre questão semelhante é a questão do cross-save, ou seja, você pode jogar no computador, no console ou mesmo no celular e compartilhar o progresso numa mesma conta, da mesma forma que a Epic Games Store faz com seu fenômeno, Fortnite. É bastante útil para quem não passa o tempo todo na frente do PC ou videogame e quer continuar aproveitando a batalha dos monstros enquanto faz uma dolorosa e longa viagem de ônibus ao trabalho. Cuidado para não ser assaltado, entretanto.

Yu Gi Oh! Master Duel vale a pena?

No fim das contas, você ainda deve estar se perguntando se Yu Gi Oh! Master Duel vale a pena. A resposta, claro, depende. Depois de tanto tempo na internet, já era de se esperar que o texto fosse te ludibriar para que você pensasse numa resposta própria, né? De qualquer forma, o jogo é digno de nota, mas você se interessar por ele acaba se relacionando muito com a sua postura acerca da curva de aprendizado e também em como você lida com o estresse de pegar 5 decks iguais seguidos no competitivo que vão te destruir sem piedade.

Caso seja um jogador oldschool, ou seja, que só se divertia quando pré-adolescente, mas quer dar uma chance para a infinidade de novas cartas e mecânicas, vá lá! Jogue o modo solo, busque aprender sobre essas funções atualizadas e, quem sabe, se aventure no competitivo quando achar que está preparado. Para tudo isso, lógico, é necessária uma dose aceitável de paciência.

Agora, se você é um fã inveterado da franquia e acompanhou os maiores lançamentos, torcendo com paixão para lançarem um disco de duelo na vida real ou um jogo online decente, parabéns, Yu Gi Oh! Master Duel foi feito para você. Só tente ter um pouco de benevolência com quem está começando agora. Ou não também, transforme-se na maldade encarnada e conquiste a coroa dos duelos para você, esmagando com crueldade seus adversários.

Fonte: Game On
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