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Far Cry 6: visual é lindo, mas deja vu da série incomoda

Série sofre do "mal" de roteiros repetitivos e rasos, mas prova que ainda sabe produzir boas mecânicas e ambientações cinematográficas

8 out 2021 - 10h00
(atualizado às 11h26)
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Far Cry 6 diverte, mas sensação de deja vu incomoda:

Far Cry é uma ótima série. Disso não há dúvidas. E foi no terceiro título da franquia desenvolvida pela Ubisoft que o auge, em termos de história e inovação, aconteceu. Um enredo excelente, com um vilão que marcou a indústria, o sanguinário Vaas Montenegro, fez o conceito da série ser uma referência no gênero. No entanto, a fórmula parece estar um tanto desgastada em sua sexta edição, que apesar de trazer todos os elementos divertidos de sobrevivência e tiro em primeira pessoa, ao mesmo tempo traz uma sensação de deja vu.

Parece meio óbvio o "Vale A Pena Ver de Novo" por se tratar de uma série, mas não é. Isso porque Far Cry 6 teria muito mais "espaço" para crescer em história e personagens. Afinal, o sofrimento encontrado em Yara, ilha fictícia onde se passa a campanha, é a mais dura realidade.

Pode parecer apenas mais uma história de um ditador lunático, mas o contexto por trás do "El Presidente" é muito mais real e profundo do que tudo o que já foi feito na franquia. Yara é um retrato político de países que sofreram com golpes, fazendo seus povos serem privados de liberdade.

Histórico político de Yara é abordado de forma superficial

O enredo se passa com a personagem Dani - e pode ser escolhida tanto no gênero feminino quanto no masculino -, que depois de escapar com vida das forças armadas de Anton Castillo, interpretado por ninguém menos do que o incrível Giancarlo Esposito, se junta ao grupo de guerrilheiros "Libertad". A missão? Livrar sua nação das garras do regime corrupto.

Neste quesito, acredito que faltou histórico para o time de roteiristas, e o pior... sensibilidade. O tema ditadura foi tratado de forma leviana, e, em certos momentos com sarcasmo até demais (quase como se fosse uma paródia). Ou seja, o lado político do jogo, que poderia facilmente ser um dos destaques na narrativa, se perde completamente. Far Cry também é humor pastelão? Claro que sim. Mas não pode ser só isso. Ou melhor, não deveria.

E se a narrativa falha, os personagens também falham. Queria dizer que os personagens são tão interessantes quanto seus visuais (e expressões faciais) mas estaria mentindo. Em alguns momentos, era possível sentir a indiferença de quem criou os diálogos. Guerrilheiros perdidos pela floresta, retratados fielmente com base nos estereótipos que muitas vezes países do Hemisfério Norte têm a respeito da América do Sul. Entediante.

Far Cry 3, Anton Castillo ganha vida na face e voz de Giancarlo Esposito
Far Cry 3, Anton Castillo ganha vida na face e voz de Giancarlo Esposito
Foto: Divulgação/Ubisoft

Mecânicas e I.A. não decepcionam

Depois do fiasco da I.A. de Far Cry 5 fiquei apreensiva. De nada adiantava ter um parceiro ou um cão amigo para te proteger, se eram eles quem denunciavam sua furtividade. Enfim... águas passadas, porque as mecânicas de Far Cry 6 funcionam bem, assim como as parcerias.

Os pets divertem, e muito. São lindos, fofinhos (o cachorrinho Chorizo é destaque pelo carisma), mas há uma grande variedade de animais úteis pelas ilhas. Seja nas montarias, com cavalos que são meios de transporte muito ágeis, ou com os animais de caça, que são muito eficientes nos combates em campo aberto.

Os inimigos foram aperfeiçoados e, apesar da artilharia pesada, é possível curtir a violência caótica durante os confrontos. O único aqui é que, para zerar todo o jogo, você precisa conquistar os postos avançados das forças armadas, da mesma forma. São postos demais para conquistar. Quem sabe um dia eu faço, ou não.

Inclusive, nada de muito diferente foi acrescentado aos ataques, a não ser o uso das 'superarmas', crias de Juan, um velho bêbado que serviu em forças especiais no passado, e a a customização das armas, que agora depende muito mais de progressão de nível do que de exploração. Em resumo, é divertido e com um toque ou outro de novidade.

Cenário de filme

Se a história de Far Cry 6 é fraca, a engine é potente. Meus olhos ficaram vidrados a cada detalhe. Impossível não se apaixonar pela ilha, pelas expressões faciais e por toda a ambientação cinematográfica. Me arrisco a dizer que é um dos jogos mais bonitos que já vi na vida.

Aliás, um dos toques mais requintados no jogo é a possibilidade de explorar um mapa com diversas nuances. A trajetória que começa na "Isla del Santuário" e vai até "Isla del León" permite diversos panos de fundo e muitas rotas alternativas para cada missão. Para os fãs que, assim como eu, curtem refazer missões de diversas formas, o cenário é um verdadeiro aliado nas estratégias.

Joguei no PC, em uma placa RTX 2060, com todas as configurações no máximo possível, e não identifiquei nenhum problema de textura. O máximo que aconteceu comigo foram pequenos bugs, mas nada que prejudicasse o andamento da história ou os gráficos.

Antagonista

Por fim, não poderia deixar de fazer uma menção honrosa a "El Presidente", um psicopata alucinado e bem "carne de pescoço". Apesar de não estar à altura das loucuras de Vaas Montenegro, o "dono de Rook Islands em Far Cry 3, Anton Castillo ganha vida na face e voz de Giancarlo Esposito.

Atuações tão brilhantes quanto as que foram vistas no seriado "Breaking Bad", quando Esposito viveu Gus Fring nas telinhas. E, sim, para os fãs da série, é possível sentir a vibe de Gus em Far Cry 6. Certamente, a franquia ainda sabe produzir "bons" vilões.

Podemos esperar mais de Far Cry no futuro?

Sempre parto do pressuposto que a indústria precisa pensar em novidades para os jogadores e isso deve fazer parte das grandes franquias, sim. Mesmo que a dinâmica (psicopata subjuga o povo > resistência reage e tenta tirá-lo do poder > herói aparece e faz o serviço) seja divertida, a Ubisoft zerou tudo o que poderia. Por isso, é hora de reinventar a série, para que ela continue no futuro.

Bom, a menos que não seja lucrativo, aí é claro que não vai acontecer, não é mesmo?

A verdade é que Far Cry 6 precisa ser o último exemplar deste "modelo de negócio", porque eu não vou aguentar jogar outro igual. Chega de deja vu, né, dona Ubisoft? 

Far Cry 6 recebeu nota 7 na análise do GameON
Far Cry 6 recebeu nota 7 na análise do GameON
Foto: Divulgação/Ubisoft

*Esta análise foi feita no PC, com uma cópia do jogo gentilmente cedida pela Ubisoft.

Fonte: Game On
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