PUBLICIDADE

Uruguai tem desafio de provar que "renascimento" não é acaso

12 fev 2011 - 10h33
(atualizado às 17h03)
Compartilhar
Fábio de Mello Castanho
Direto de Arequipa (Peru)

A volta a uma semifinal de Copa do Mundo depois de 40 anos e a classificação para os Jogos Olímpicos interrompendo uma ausência de 84 anos apontam para um renascimento do futebol uruguaio que será confirmado ou desmentido nos próximos anos. O desafio inicial do país é provar que as quebras dos dois tabus estão relacionadas e não são obras do acaso.

O presidente da Associação Uruguaia de Futebol, Sebastian Bauza, acredita que os resultados são reflexos de um projeto em andamento que teve início com a chegada de Oscar Tabárez à seleção principal em 2006. Com a ideia de maior integração, o treinador passou a ter mais contato com as categorias de base e formou uma equipe de profissionais de sua confiança.

"Junto a isso, mudamos o perfil em busca de jogadores mais inteligentes e incentivamos o estudo. Tem um projeto que obriga todos a terem curso de computação e a apresentarem o boletim de notas. Eles precisam de objetivos psicológicos e físicos. Isso de alguma maneira ajuda a fazer melhores profissionais. O futuro está nos pés e na cabeça", disse.

O presidente reconhece que, assim como o Uruguai, outros países trabalham no mesmo sentido e buscam melhorar a infra-estrutura e promover um crescimento que comece pelas categorias de base. Como o país tem pouco mais de 3,5 milhões de habitantes e 46 mil jogadores credenciados, Bauza acredita que a tradição uruguaia tem que ser um diferencial.

"A celeste é uma marca registrada. Todos precisam saber desta história. Para que eles se sintam identificados, o Gigghia, que marcou o segundo gol no Maracanã (na final da Copa de 1950 contra o Brasil), vai falar com os jogadores na concentração com frequência, para mostrar a importância da camisa do Uruguai. Quando veste a celeste, tem que deixar tudo", disse.

Apesar do discurso apegado à tradição, o presidente acredita que é preciso evoluir em outros aspectos e a campanha no Sul-Americano Sub-20 aponta para esse caminho. "Nosso futebol tem fama de pegador, mas ganhamos da Argentina sem levar um cartão amarelo. Isso é bom porque se jogamos o futebol bem, também temos chances de ganhar", disse.

Dentro deste novo espírito, o técnico da Seleção Sub-20, Juan Verzeri, é formado em engenharia de sistemas e utiliza sua experiência na área para integrar ao futebol. Por meio de um software presente em todas as categorias da seleção, aplica seu conhecimento em busca de detalhes que possam ajudar em ajustes técnicos e táticos. "Basicamente eu trabalhava com grupos humanos, o mesmo que se faz em uma equipe de futebol", explica.

O coordenador das categorias de base, Aldo Gioria, disse que a escolha de um treinador com essa formação não foi casual e está relacionada ao fato de o Uruguai ter limitações. "Esse grupo não tem Neymares, não tem um jogador muito acima dos demais, que pode nos salvar no momento que é preciso. Por isso, precisamos ter conhecimentos técnicos para utilizar nossas virtudes."

Apesar do trabalho em desenvolvimento, existe cautela dos uruguaios ao pensar sobre o futuro. Jornalistas do país presentes no Peru dizem que uma campanha como essa não era esperada e havia até o temor de uma queda prematura na primeira fase.

Em entrevista ao jornal El Pais, Sebastian Bauza falou que o Asssociação Uruguaia de Futebol tem crise financeira e poderia até não disputar a Olimpíada, ameaça que soa muito mais como uma tentativa de provocar comoção e receber mais recursos.

Já Aldo Gioria diz que o renascimento pode ser esquecido se não houver prosseguimento de bons resultados. "Nós queremos primeiro ter mais participações em Mundiais e Olimpíadas. Temos esperança de que ocorra uma mudança na visão de que o Uruguai só era campeão por sorte. Temos que mostrar que também podemos ganhar jogando só futebol e abandonar todo a parte folclórica. Agora, quem pode dizer se isto nos levará aos velhos tempos? Só o tempo irá dizer."

Presidente da AUF credita sucessos a aposta na base e na infra-estrutura
Presidente da AUF credita sucessos a aposta na base e na infra-estrutura
Foto: Miguel Angel Bustamante / Terra
Fonte: Terra
Compartilhar
Publicidade