O anúncio da demissão de Ney Franco pelo São Paulo nesta sexta-feira reativou, quase que de imediato, um antigo sonho do Santos em contratar o treinador. Motivado pelas negativas dos técnicos argentinos Marcelo Bielsa e Gerardo Martino, o Comitê Gestor do clube já planeja iniciar nas próximas semanas tratativas com o ex-comandante são-paulino, visto com o perfil adequado pelo histórico de aproveitamento de jovens jogadores. A presença do técnico no mercado preocupa, inclusive, o interino Claudinei Oliveira.
"Acho que o Ney Franco é um grande nome para qualquer equipe. Ele fez trabalhos muito bons", disse Claudinei. "É um treinador acostumado a trabalhar com a base, então é um bom nome. Acho que é um cara muito capaz e que precisamos ter respeito, principalmente pelo que fez nos clubes. Ele tem o perfil que o clube (Santos) procura, de ser alguém que trabalha com a base. Apesar de não ser estrangeiro, tem esse perfil, e se encaixa, sim (com o que o Santos deseja). Creio que o clube está avaliando todas as situações. A princípio, me passaram que eu sou técnico e que não estão negociando com ninguém", completou.
Claudinei assumiu no mesmo dia do anúncio da demissão de Muricy Ramalho, há 36 dias. Ex-técnico da equipe sub-20, tem agradado, principalmente, pela metodologia coerente, a evolução da tática do time e o fato de utilizar boa parte da geração campeã da última Copa São Paulo, conquista da qual foi o comandante.
Ney Franco, por sua vez, ficou desgastado após um ano no São Paulo. Apesar do título inédito da Copa Sul-Americana, no fim do último ano, ficou pressionado na atual temporada pela eliminação precoce na Copa Libertadores, já nas oitavas de final, e a derrota para o Corinthians na semifinal do Campeonato Paulista. A gota d'água foi o novo revés para o rival, agora válido pela Recopa Sul-Americana.
O técnico é sonho do Santos desde 2011, antes mesmo da contratação de Muricy. Com a negativa de Abel Braga, então técnico do Al Jazira, dos Emirados Árabes, o clube solicitou à CBF o seu "empréstimo" até o fim da disputa da sua participação na Copa Libertadores. Franco, então coordenador das seleções de base, recusou.
Durou um ano a trajetória de Ney Franco no comando do São Paulo. Em 2012, o técnico conseguiu bons resultados no Campeonato Brasileiro e o título na Copa Sul-Americana. Na atual temporada, colecionou eliminações e fracassos: Campeonato Paulista, Copa Libertadores e derrota na primeira partida da Recopa Sul-Americana. O resultado foi a demissão do treinador. Relembre a seguir sete erros que foram fundamentais para o fim do trabalho de Ney Franco no São Paulo.
Foto: Bruno Santos / Terra
Substituto de Lucas O melhor momento de Ney Franco no comando do São Paulo ocorreu no final de 2012, quando tinha em Lucas seu principal jogador. Negociado com o PSG, o jogador deixou o Morumbi ao final daquela temporada. Desde então, o treinador não conseguiu se acertar em relação a seu substituto no elenco. O técnico escalou jogadores como Aloísio, Jadson, Cañete, Douglas, Wallyson, Lucas Evangelista e Silvinho na posição, mas sem nunca conseguir bons resultados.
Foto: Tom Dib / Agência Lance
Jadson e Ganso O São Paulo já contava com Jadson, mas apostou alto na contratação de Paulo Henrique Ganso. Contando com dois talentosos meias no elenco, Ney Franco na maior parte das vezes escalou a dupla ao mesmo tempo no time, só que não conseguiu tirar o melhor dos jogadores.
Foto: Djalma Vassão / Gazeta Press
Defesa inconstante O São Paulo terminou 2012 com a defesa sólida, sofrendo somente 13 gols no segundo turno do Campeonato Brasileiro - o melhor desempenho no returno. O início da temporada viu o fim da constante linha formada por Paulo Miranda, Rafael Tolói, Rhodolfo e Cortez. A chegada de Lúcio fez com que a dupla central fosse desfeita. Além disso, problemas físicos e técnicos obrigaram Ney Franco a alterar constantemente o setor. As laterais também sofreram constantes alterações e não veem titulares absolutos. O técnico não conseguiu achar uma solução e, em sua última partida, formou a defesa com Douglas, Lúcio, Rafael Tolói e Juan.
Foto: Ricardo Matsukawa / Terra
Improvisações Em 2013, com alguns jogadores vivendo fase complicada, Ney Franco passou a optar por improvisações. As laterais e as pontas foram os setores que mais passaram por esta questão. O volante Rodrigo Caio, por exemplo, foi bastante usado na direita. Já Paulo Miranda, bem sucedido neste local em 2012, não conseguiu repetir a performance. Esta situação incomodou a diretoria, que decretou o fim dos improvisos depois da eliminação na Libertadores.
Foto: Sergio Barzaghi / Gazeta Press
Douglas Lateral direito revelado pelo Goiás, Douglas ganhou as graças de Ney Franco. Apesar de bastante criticado pela torcida, o treinador apostou forte no jogador, que atuou em sua posição natural, mas também como meia armador e ponta direita. A confiança de Ney em Douglas chegou a virar piada entre os torcedores são-paulinos.
Foto: Facebook / Reprodução
Falta de sintonia com elenco Ney Franco buscou manter o controle sobre o grupo e sua posição como técnico. Para isso, em declarações à imprensa bateu de frente até mesmo com Rogério Ceni. Nestes casos, entretanto, demonstrou não estar em sintonia com o elenco. Após a derrota para o Corinthians na primeira partida da Recopa Sul-Americana, chegou a dizer que não era ele quem "errava passes". No dia seguinte, o atacante Aloísio deu sua resposta: "eu acho que é 50 a 50. Estamos no mesmo barco. Se afundar, vai afundar com todos juntos. Se navegar, vai navegar com todos juntos. Não tem essa de colocar a responsabilidade em cada um, a responsabilidade é de todos".
Foto: Ricardo Matsukawa / Terra
Antipatia da torcida Mesmo com o bom desempenho no Campeonato Brasileiro de 2012 e com o título da Copa Sul-Americana do mesmo ano, Ney Franco nunca gozou de apoio pleno da torcida são-paulina. No Morumbi, o apoio ao treinador era frágil, e não era difícil ouvir gritos contra o comandante em caso de derrota ou jogo fraco. Com isso, o nome de Muricy Ramalho, que foi demitido do Santos, passou a ser gritado nas arquibancadas do estádio do clube tricolor.
Foto: Djalma Vassão / Gazeta Press
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Com isso, o clássico contra o São Paulo, neste domingo, às 16h (de Brasília), no Estádio do Morumbi, vira um último grande teste para Claudinei. "Continuo trabalhando. Tive uma conversa com o Dr. Odílio (Rodrigues, vice-presidente do Santos) e o clube me garantiu que não está negociando com ninguém até o momento. Já me informaram, inclusive, que qualquer situação diferente eu serei o primeiro a saber. De qualquer forma, eles já me passaram, também, que continuarei na comissão técnica da equipe profissional. O que me resta é aproveitar todas as chances e fazer o melhor trabalho possível", explicou.
O Santos buscou as contratações de Bielsa e Martino, mas desistiu, principalmente, pelos pedidos dos treinadores para só assumirem o clube em janeiro de 2013. O clube anunciou recentemente as contratações dos laterais Cicinho, da Ponte Preta, e de Eugenio Mena, da Universidad de Chile, e tenta viabilizar um acerto com Robinho, do Milan, da Itália.