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Que Grêmio é este? Futebol do time atual provoca debate

Com quatro títulos nos últimos três anos, equipe é comparada às gerações multicampeãs dos anos 80 e 90. L! ouve ex-jogadores e jornalistas sobre o tema

11 mai 2018 - 07h16
(atualizado às 10h35)
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Atual campeão da Libertadores, o Grêmio vive há quase dois anos uma lua de mel com sua torcida. No ano passado, o time comandado por Renato Gaúcho já era elogiado por crítica e público pelo alto nível de sua futebol, muitas vezes envolvendo os adversários. No início deste mês, goleadas sobre o Cerro Porteño (5 a 0, na Libertadores) e Santos (5 a 1, no Brasileirão), aumentaram os comentários sobre o nível dessa equipe e aonde ela pode chegar. E mais: já é possível comparar o atual grupo, que tem a mesma base desde o título da Copa do Brasil de 2016, com as duas gerações mais vencedoras do Grêmio, em partes dos anos 80 e 90?

Base do Grêmio campeão da Libertadores 2017 segue junta
Base do Grêmio campeão da Libertadores 2017 segue junta
Foto: JUAN MAMBROMATA AFP / LANCE!

O LANCE! ouviu jornalistas e também jogadores dos dois esquadrões históricos para tentar dimensionar o significado que o time do presente tem ou pode ter na trajetória de 115 anos clube.

O ATUAL GRUPO

Do time-base titular em 2018, oito jogadores fizeram parte da conquistas da Copa do Brasil em 2016 - a primeira do atual ciclo de Renato no comando. Já nos títulos da Libertadores de 2017, Recopa Sul-Americana de 2018 e Campeonato Gaúcho de 2018, todos estavam presentes. Veja o time-base do Tricolor Gaúcho neste ano e quando os atletas chegaram em Porto Alegre.

Marcelo Grohe (2015); Léo Moura (2017), Geromel (2015), Kannemann (2016), Cortez (2017); Maicon (2016), Arthur (2015 - atualmente no Barcelona), Ramiro (2013), Everton (2014); Luan (2014), Jael (2017)(FOTO: LUCAS UEBEL/GREMIO FBPA)

VITÓRIAS IMPORTANTES NA TEMPORADA

Renato Portaluppi não esconde a sede de vitórias e o desejo de se tornar um grande campeão também como técnico da equipe. Sob comando do ex-ponta, o Grêmio alcançou bons resultados na temporada, com destaque para a vitória por 3 a 0 sobre o Internacional na semifinal do Campeonato Gaúcho, além do placar agregado por 7 a 0 na final, que resultou na conquista do título estadual sobre o Brasil de Pelotas.

Pelo Brasileirão, a maior vitória foi o 5 a 1 sobre o Santos. Na Libertadores, a equipe fez 4 a 0 logo no primeiro triunfo conquistado sobre o Monagas (VEN0 ,pouco menos de um mês depois, veio a segunda surpresa, com a goleada por 5 a 0 em cima do Cerro Porteño, resultado que chamou a atenção dos jornalistas locais.

Questionado sobre a comparação entre a atual equipe e a campeã do mundo, Renato se absteve de eleger a melhor, mas afirmou estar feliz com o trabalho realizado pelo atual elenco gremista, que ele considera apresentar um futebol mais bonito.

— São épocas diferentes. Naquela época que eu jogava, o talento do jogador brasileiro era maior. Tinha mais craques. Era mais difícil, não tinha exame antidoping, por exemplo. Só eu sei o que sofri na Libertadores, naquele jogo contra o Estudiantes na Argentina, e nós fomos campeões do mundo. Mas fico contente pelo que estamos fazendo hoje em dia. Posso falar que estamos jogando um futebol mais bonito. Naquela época era mais competitivo.

ÍDOLO RELEMBRA CONQUISTAS NAS DÉCADAS DE 80

Time-base entre 1981 e 1983: Mazaropi (Leão); Paulo Roberto, Baidek (Newmar), De León e Casemiro (Paulo César Magalhães); China, Osvaldo (Paulo Isidoro) e Tita (Vilson Taddei/Renato Sá); Renato Gaúcho (Odair), Tarciso e Caio (Baltazar); Mário Sérgio e Paulo César Caju(Foto: Reprodução)

Principais títulos: Mundial Interclubes (1983), Copa Libertadores da América (1983) e Campeonato Brasileiro (1981).

A história de títulos da equipe que ficou marcada entre 1981 e 1983 teve início com o bicampeonato estadual em 1980. Em sua melhor fase até então, o Tricolor gaúcho, representado por jogadores consagrados como Leão, Mazarópi, Tarciso, Baltazar, Paulo Roberto e Renato, deu longos passos até o título inédito do Brasileirão, em 1981. Dois anos mais tarde veio o primeiro troféu continental, com a Libertadores de 1983, que foi seguida pela conquista do Mundial no mesmo ano, com um baile de Portaluppi sobre os alemães do Hamburgo por 2 a 1. O ex-atacante fez os dois gols da partida mais importante da história gremista.

PAULO ROBERTO, lateral-direito do Grêmio entre 1981 e 1983

"O nosso time era muito bom. Conquistou o Brasileiro, a Libertadores e o Mundial, que é o título mais importante da história do Grêmio e, por isso, acho que a equipe de 83 é melhor. Nossa marcação era forte, tínhamos velocidade e não dávamos espaço. O time de agora joga o futebol mais bonito. Eles erram poucos passes, tem jogadores de grande habilidade, como Arthur e Maicon, zaga forte com Geromel e Kannemann. O time está entrosado.

As boas atuações têm a ver com o trabalho do Renato, do auxiliar Alexandre Mendes e da diretoria, que manteve boa parte do elenco e da comissão técnica nos últimos anos. Daí vêm as conquistas. Começamos assim em 81 também e mudou pouco para 83. Acho que o trabalho está sendo repetido. Hoje vou ao estádio ver o Grêmio jogar porque dá gosto. Por conta do grupo forte, fica a esperança de título da Libertadores. Ontem mesmo, venceu com time misto e chegou nas quartas da Copa do Brasil."

ANOS 90, ÉPOCA DE OURO

Time-base (1994-1997): Danrlei; Arce, Adílson (Mauro Galvão), Rivarola e Roger; Dinho, Luiz Carlos Goiano, Émerson (Arílson) e Carlos Miguel; Paulo Nunes (Nildo) e Jardel (Zé Alcino/Aílton) (Foto: Reprodução)

Principais títulos: Copa Libertadores da América (1995), Recopa Sul-Americana (1996), Campeonato Brasileiro (1996), Copa do Brasil (1994 e 1997) e Campeonato Gaúcho (1995 e 1996).

Se na década de 80, o Grêmio mostrou sua força ao se tornar o terceiro clube brasileiro a conquistar um título mundial (sucedendo o Santos em 1962/1963 e o Flamengo em 1981), a formação do período entre 1994-1997 ganhou ainda mais destaque por somar sete taças ao histórico do clube.

Sob comando de Luiz Felipe Scolari, entre 1994 e 1996, e Evaristo de Macedo, em 1997, o Tricolor deu origem a mais um timaço, que agregou as conquistas da Libertadores, duas Copas do Brasil, Recopa Sul-Americana, Campeonato Brasileiro e dois Gaúchos. Na equipe temida pelos rivais, jogadores como Rivarola, Danrlei, Arce, Émerson, Mauro Galvão e a dupla Paulo Nunes e Jardel se destacavam por toda a entrega, que rendia bons resultados, como o inesquecível 5 a 0 sobre o Palmeiras, que tinha Cafu, Rivaldo e Roberto Carlos, na campanha da Libertadores.

MAURO GALVÃO, zagueiro do Grêmio entre 1996 e 1997

"Acho que a fase que o Grêmio vive, assim como outros tiveram, são ciclos importantes. O time está caminhando e conseguiu uma boa sequência em busca do título com atuações que colocam o Grêmio não digo no mesmo, mas próximo do patamar dos times de 1994 e 83. O título da Libertadores vai depender dos outros adversários também. Brasileiros como Cruzeiro, Palmeiras, Flamengo, Santos e Corinthians tem as mesmas chances que o Grêmio.

Acredito que o mais importante é que a torcida está satisfeita. Cada time que passou pelo clube deixou sua marca e fez história como esse está fazendo. O investimento do clube para tentar segurar os principais jogadores mais o trabalho do Renato estão surtindo efeito. Além da contribuição agregada pelo estilo de jogo forte e as peças boas no gol, na zaga e no meio. No ataque, os jogadores estão evoluindo, principalmente com Ederson e Jael, que deu uma melhorada."

JORNALISTAS DO RIO GRANDE DO SUL COMPARAM EQUIPES

Nos últimos dias, os debates comparativos entre o time atual e aqueles multicampeões nas décadas de 80 e 90 ganharam espaço nos mais diversos veículos de imprensa de Porto Alegre. O LANCE! Conversou com dois jornalistas da capital gaúcha e, apesar de ambos concordarem que o time atual é um dos melhores da história do clube, há controvérsias sobre a superioridade em relação à equipe campeã mundial em 1983.

RODRIGO OLIVEIRA, jornalista na Rádio Gaúcha

"Gosto mais do Grêmio atual do que os dos anos 90 no quesito forma e estilo de jogar futebol e acredito que o time tem tudo para ser um grande colecionador de títulos, superando outras equipes históricas. Acredito que o Tricolor está muito melhor do que os outros times brasileiros, com uma base muito sólida e sustentável. Apesar de ser difícil superar o título mundial de 83, o time atual pode superar aquela equipe na forma de jogar. Acho que a comparação é válida e só falta esperar as competições chegarem nas fases decisivas, porque o caminho natural é o Grêmio ser campeão de, pelo menos, mais um título grande neste ano."

MARCO SOUZA, setorista do Grêmio na GaúchaZH

"Cubro o Grêmio desde 2011 e esse é o melhor time que eu já acompanhei de perto. A gente vê que a equipe jogar um futebol extremamente competitivo e pode ser, talvez, a única no Brasil que tem condições de disputar contra gigantes sul-americanos e europeus. Acho difícil afirmar que esse é o melhor Grêmio de todos os tempos, porque a gente tira de contexto o que foi feito em outras épocas. Mas esse é o melhor time que vi nos últimos 20 anos pelo estilo e domínio de jogo.

Uma característica que faz diferença é a que vimos na partida contra o Santos, em que o time pressionou até marcar um gol e continuou indo para cima tentando fazer o máximo possível. Em relação aos títulos, acho que falta sequência e pelo futebol que a equipe tem apresentado, a questão das taças fica secundária nesse momento."

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