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Jovem de 13 anos e 1,19m contraria médicos e realiza sonho no Parapan

Atleta mais novo dos Jogos de Lima, Javier Córdova não se intimida em frente a uma mesa quase na altura dos olhos. Garoto driblou problemas de saúde e virou ícone em El Salvador

24 ago 2019 - 08h02
(atualizado às 11h29)
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Uma vida dedicada ao tênis de mesa já foi enredo improvável para Javier Córdova, em Sant Ana, terceira cidade mais populosa de El Salvador. Mas isso é passado. O jogador mais jovem dos Jogos Parapan-Americanos de Lima (PER), aos 13 anos, orgulha o país.

Ele nasceu com acondroplasia, tipo mais comum de nanismo. A causa provável é uma mutação genética que provoca alteração no desenvolvimento da cartilagem das placas de crescimento.

Com 1,19m, ele compete na classe 8, para andantes. A mesa tem 76 centímetros de altura. Não existe uma categoria específica que reúna pessoas com essa característica na modalidade. Também não há idade nem altura mínima para competir no tênis de mesa, diferentemente de outros esportes.

Javier em ação contra o equatoriano Paul Polo (Foto: Divulgação)

Aos dois anos, Javier precisou ser levado às pressas duas vezes a uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Na época, os médicos afirmavam que ele não poderia fazer esforços, em decorrência de um problema nos pulmões.

- Disseram que Javi não seria igual aos outros garotos. Foi horrível. Logo depois, descobrimos a síndrome que afetou seu crescimento. Mas ele nasceu fruto de muito amor. Sempre ouviu de nossas bocas: "você é grande" ou "não diga que você não pode" - contou a mãe de Javier, Susana.

Criado por amantes de esportes, o atleta teve todo o estímulo para se encantar pela bolinha e a raquete. Hoje, se destaca pelos golpes rápidos, em meio às adversidades e à falta de experiência de quem dá os primeiros passos como esportista. Apenas 30 centímetros separam a superfície da mesa de seus olhos.

Javier conduz compatriota na Vila dos Atletas (Foto: Gerson Villalta)

- Para mim, o importante é não deixar que os adversários me intimidem, por serem mais altos e mais velhos - contou Javier, ao LANCE!.

Após começar a se interessar pela prática na escola, aos nove anos, e a treinar com atletas convencionais, uma vez que ainda falta em El Salvador uma liga paralímpica, veio a grande oportunidade na vida do menino.

No ano passado, ele viajou a Orlando (EUA) para disputar um torneio da Associação Atlética dos Portadores de Nanismo da América (DAAA, em inglês), entidade que patrocina e organiza eventos esportivos para pessoas com a síndrome. As mesas atendem aos mesmos padrões mundiais de qualquer competição, sem qualquer facilidade para quem tem baixa estatura.

Javi conquistou o título e, devido ao resultado, foi convidado ao Parapan. A Federação Internacional de Tênis de Mesa (ITTF) o autorizou a competir.

Javier Córdova levou a medalha de ouro em torneio voltado para atletas com nanismo, em Orlando, em 2018 (Foto: Gerson Villalta)

Em sua primeira grande competição, Córdova buscou se ambientar à vida de atleta. Na sexta-feira, ele encerrou a participação em Lima, após derrota para o croata Steven Roman, por 3 a 0.

Antes, perdera para o canadense Curtis Caron e e para o equatoriano Paul Polo, de 51 anos, em um confronto de gerações que chamou a atenção do público. Uma cena que El Salvador torce para que se repita, mas com outro resultado.

Javier e o técnico Gerson Villalta, um incentivador (Foto: Reprodução)

El Salvador tem 16 atletas em Lima e faz planos

Javier Córdova, de El Salvador, é o atleta mais novo do Parapan de Lima, com 13 anos (Foto: Gerson Villalta)
Javier Córdova, de El Salvador, é o atleta mais novo do Parapan de Lima, com 13 anos (Foto: Gerson Villalta)
Foto: Lance!

A delegação de El Salvador no Parapan de Lima conta com 16 atletas, representados em cinco esportes: bocha, atletismo, natação, halterofilismo e tênis de mesa. O jovem Javier tem a companhia de três colegas em sua modalidade: Melvin Muñoz, o mais experiente do grupo e que foi ao Parapan do Rio-2007, Josue Mora e Gabriel Espinoza.

É o governo, por meio do Instituto Nacional de Esportes de El Salvador (INDES), que ofereceu recursos ao Comitê Paralímpico Nacional para arcar com todas as despesas dos atletas na capital peruana.

Treinador do tênis de mesa, Gerson Villalta e sua esposa Alicia de Villalta, tia de Javier e técnica de bocha, coordenam as ações do esporte paralímpico no país. Ele, inclusive, traça planos para o fortalecer a prática e inserir mais praticantes no movimento.

- Eu estive no Japão há dois meses em um curso de participação social e agora iremos implementá-lo em Em Salvador. Esperamos que a Fundação ITTF nos ajude na missão. É um projeto grande e desejamos que cresça - disse Gerson.

BATE-BOLA

Javier Córdova, atleta do tênis de mesa, ao LANCE!

Como é sua rotina em El Salvador?

Eu estudo todos os dias, de segunda a sexta-feira, de, 6h às 12h. Depois, almoço e treino de 16h às 19h. Aos sábados, às vezes acontecem eventos em São Salvador e vamos para lá. Aos domingos, eu descanso. Gosto de passar o tempo com meus pais.

Não há uma liga paralímpica no seu esporte em El Salvador. Isso é um problema?

Eu treino com atletas convencionais, porque não tenho adversários da minha classe em El Salvador. Com isso, eu sei o que fazer contra os meus adversários nas competições. O mais importante que meu técnico me fala é para dar meu máximo e não ficar triste quando não ganhar, porque sou novo e tenho muito a aprender ainda, mas estou no caminho.

Você tem inspirações no esporte?

(Melvin) Muñoz é muito importante para mim, pois me dá conselhos e confiança.

Como está sendo a experiência em Lima?

Eu me sinto orgulhoso de ter chegado a um evento deste tamanho e sou muito grato. Dei o melhor de mim em todas as partidas. O mais difícil foi deixar minha família portanto tempo e viajar. Só tenho minha tia Alicia aqui. Mas é bom para me dar experiência. Ainda não conheci todos os países que eu gostaria, mas no futuro espero ter essa chance.

COM A PALAVRA

Gerson Villalta

Técnico de El Salvador

Classificação não é a ideal

Fazem dois anos e meio que Javier começou a jogar tênis de mesa. Ele participou de um acampamento da Fundação Agitos, do Comitê Paralímpico Internacional (IPC), que incentiva a prática e a inclusão. Estuda em uma escola regular, está no sétimo ano e, graças ao apoio dos professores, pode passar alguns períodos fora para competir. Em Lima, chegou nervoso, mas foi se soltando aos poucos. Chegou a fazer oito e nove pontos nos demais sets (de 11 pontos) contra o equatoriano. Possivelmente, a classe dele não será a 8 e sim a 7 ou 6 (quanto menor o número, maior é o grau de deficiência). Não estou satisfeito com a classificação. Javier tem 1,19m. Falta tensão nos braços, como os rivais. É seu primeiro evento nesta magnitude e fez um bom papel. Agora, vamos prepará-lo para o Parapan-Americano Juvenil, que acontecerá na Colômbia.

Coletivos vencem. Medalhas devem sair neste sábado

O Brasil estreou em duas modalidades coletivas com vitórias. O ponto alto foi o triunfo da Seleção Brasileira de rúgbi em cadeira de rodas sobre a Colômbia.

Com 20 tries (pontos) do fluminense Júlio Rocha, nossa equipe fez 48 a 41. Hoje, o time encara o Canadá, às 14h (de Brasília).

No vôlei sentado, os brasileiros bateram o Peru por 3 a 0, com parciais de 25-19, 25-18 e 25-18. Eles volta à quadra neste sábado, às 14h, contra a Costa Rica.

O tênis de mesa pode garantir medalhas no mesmo dia. Há 11 atletas nas quartas de final, 12 semifinalistas e um finalista nas disputas.

Lance!
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