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Aragonés e a lição espanhola: É momento de olhar com mais carinho para o meio-campo do Brasil

LANCE! resgata revolução no futebol de 'La Roja' para exaltar nova geração de meio-campistas brasileiros, que ganhou elogios de Tostão em comentários à reportagem

23 out 2019 - 06h35
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Luis Aragonés morreu em 2014, vítima de uma leucemia. Em uma carta muito emocionada de despedida e agradecimentos ao treinador, Xavi Hernández fala sobre como o ex-comandante de La Roja foi importante para a autoestima do meio-campista em um momento delicado. Ao final da temporada 2007/2008, o jogador estava em cheque no Barcelona e figurava na lista de possíveis transferências do clube blaugrana. Até que veio a Eurocopa.

Aragonés entregou a chave da casa a Xavi. "Aqui manda você, e que me critiquem", teria dito o treinador, segundo o relato do ex-atleta. Assim, com o time centrado em um meio-campo muito técnico, completado por Xabi Alonso, Santi Cazorla e David Silva, porém frágil fisicamente, a Seleção Espanhola foi campeã europeia em 2008, na Suíça, com Xavi eleito o melhor jogador do torneio.

Espanha comemora conquista da Euro-2008 (Foto: AFP)

Dentro de campo, a missão era "simples": recuperar a bola o mais rápido possível. Pois, caso precisassem marcar o espaço e/ou jogar por meio de transições, aqueles mesmos jogadores estariam perdidos. Assim, "Don Luis" plantou uma semente - da qual Vicente Del Bosque e Pep Guardiola colheriam toneladas de frutos nos anos seguintes.

NOVA GERAÇÃO PODE OXIGENAR MEIO-CAMPO BRASILEIRO

Brasil, 2019. A Seleção brasileira enfrenta seu pior momento sob o comando de Tite. São quatro jogos sem vitórias desde o título da Copa América. Para tentar retornar às boas atuações após o empate com a Colômbia e a derrota para o Peru, na Data Fifa do início de setembro, o treinador do time brasileiro esvaziou o meio e povoou o ataque.

Contra Senegal, à frente de Arthur e Casemiro, um quarteto formado por Phillipe Coutinho, Neymar, Jesus e Firmino. Diante da Nigéria, o jogador do PSG sentiu lesão no início e o gremista Everton integrou o quadrado. Nada funcionou e o Brasil amargou dois empates por 1 a 1, em Singapura. Enquanto os esforços foram dedicados ao setor ofensivo, as respostas poderiam estar um pouco atrás.

Brasil de Tite mostrou falta de inspiração nos últimos amistosos (Foto: Pedro Martins / MoWA Press)

SEMIFINAL ENTRE FLAMENGO E GRÊMIO TERÁ MARCA DA NOVA GERAÇÃO

Como destacou Higor Leonardo em publicação no 'El9ymedio', há uma semana, três nomes saltam aos olhos em uma nova geração de meio-campistas: Bruno Guimarães, Gerson e Matheus Henrique. Os dois últimos se enfrentam nesta quarta-feira, no segundo jogo da semifinal entre Flamengo e Grêmio, pela Libertadores. O trio é parte de um grupo com potencial para rebobinar o estilo do futebol praticado tanto dentro do país, quanto com a "amarelinha". Desde que recebam o controle - como houve com um tímido Xavi em 2008. E a lista de 'controladores' não para por aí. Na última convocação de André Jardine para a Seleção olímpica, além do destaque do Athletico-PR, tivemos Allan (Fluminense), Douglas Luiz (Aston Villa-ING e ex-Vasco), e Wendel (Sporting-POR e ex-Flu). Com essas características, e idade para estar em Tóquio-2020, ainda há Jean Pyerre, companheiro de Matheusinho no Grêmio.

TOSTÃO VISIONÁRIO

SINERGIA: 'Don' Luis Aragonés e Xavi marcaram época na seleção espanhola (Foto: Reprodução)
SINERGIA: 'Don' Luis Aragonés e Xavi marcaram época na seleção espanhola (Foto: Reprodução)
Foto: Lance!

Esta fornada vai na contramão da separação entre volantes e meias-atacantes - fonte de tantas reclamações de Tostão, ex-jogador e atual colunista. E alguns de seus textos para a "Folha de São Paulo", o campeão do mundo em 1970 lamenta como um país de Falcão e Toninho Cerezo, por anos, abandonou a primazia pelo tipo de jogador que domina todo o centro do campo, de área a área.

Em conversa com o LANCE!, o maior artilheiro da história do Cruzeiro comentou o retorno da produção desta categoria de meio-campista, cuja a fôrma parecia perdida em algum momento da década de 1980.

Antes artistas com os pés, Tostão também inspira com as palavras Foto: Pedro Silveira/Folhapress

- Está voltando, depois de um longo tempo de divisão de volantes que só marcavam atrás e meias que só atacavam na frente. Estão surgindo os meio-campistas, como Gerson, o Guimarães. O Arthur (do Barcelona) avança menos, mas está tentando jogar num espaço maior - disse Tostão, que destacou a importância deste tipo de jogador para a pentacampeã mundial:

- É fundamental para a Seleção Brasileira. Ter algo como o Kross, que é mais armador, mas joga de uma intermediária a outra, o Modric, o Pogba… É importantíssimo, depois de ficarmos 20, 30 anos sem formar esse tipo de atleta. Por isso a maioria desses europeus, ao invés de jogador com dois volantes e um meia avançado, jogam com um volante centralizado e um armador de cada lado.

Tostão, assim como o LANCE!, relembrou os agentes de uma revolução recente - apesar das raízes no "futebol total" da Holanda de 1974 - e apontou uma ressalva na contenda brasileira.

- O grande exemplo dessa transformação do meio-campo foi a Espanha de Xavi e Iniesta. São dois armadores que iam e voltavam. Os dois se movimentavam de uma intermediária outra. Foi o auge da seleção espanhola, os dois com o Busquets, que formavam o meio-campo do Barcelona do Guardiola. Então esse negócio de dois volantes em linha está acabando. Porém, no futebol brasileiro, o Flamengo é a exceção.

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