PUBLICIDADE

Jogos de Paris

Corrupção não será mais possível, diz novo presidente do COB

Paulo Wanderley assumiu a presidência do Comitê Olímpico Brasileiro há duas semanas após a renúncia de Carlos Arthur Nuzman.

27 out 2017 - 10h35
Compartilhar
Exibir comentários

Com a renúncia de Carlos Arthur Nuzman, a presidência do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) ficou nas mãos de Paulo Wanderley, de 67 anos, então vice e um dirigente que fez currículo na Confederação Brasileira de Judô, entre 2001 e 2016. Seu maior desafio até o fim do mandato, em 2020, é recuperar a credibilidade da família olímpica brasileira, abalada com denúncias que levaram Nuzman à prisão, acusado de participar da compra de votos para a escolha do Rio como sede dos Jogos de 2016.

"Se isso (corrupção) foi possível acontecer, não será mais possível daqui para frente", disse Paulo Wanderley, novo presidente do Comitê Olímpico Brasileiro.
"Se isso (corrupção) foi possível acontecer, não será mais possível daqui para frente", disse Paulo Wanderley, novo presidente do Comitê Olímpico Brasileiro.
Foto: Rafael Bello/COB

Ao mesmo tempo, o dirigente vai trabalhar para a capacitação dos atletas, a fim de mantê-los, vários deles, no topo do esporte mundial, e de dar condições a outros para que despontem em suas modalidades. A tarefa aí também não será nada fácil. Os recursos minguaram depois de 2016, principalmente com a fuga de patrocinadores.

Nesta entrevista exclusiva ao Terra, Paulo Wanderley, nascido em Caicó, no Rio Grande do Norte, morador de Maceió, e já providenciando sua mudança para o Rio, fala sobre os temas recorrentes nas últimas semanas e afirma que será implacável com desvios no COB, com um recado claro para os demais dirigentes esportivos do País. “Ou se adapta (à realidade) ou sai.”

Se uma pessoa apaixonada pelo esporte nacional lhe perguntasse – ‘presidente, o sonho de uma potência olímpica foi um Rio que passou em minha vida?’ -, qual seria a sua resposta?

PW – Que vai ser possível sim, temos material humano pra isso, técnicos, pessoas capacitadas, paixão pelo esporte. O rio não passou ainda não, está passando e nós vamos chegar. Quando? Não sei, não tenho bola de cristal. Mas temos as ferramentas pra isso.

Os Jogos de Tóquio em 2020 vão mostrar a realidade do esporte brasileiro, consequência da fuga pós-2016 de patrocinadores das confederações olímpicas e mesmo do COB?

PW – É um cenário totalmente diferente. Se nós tivéssemos as condições favoráveis que tivemos no ciclo até os Jogos do Rio, já seria difícil. E na Ásia, a logística é muito mais difícil, vai requerer uma aclimatação de mais tempo. Enfim, costumes, comidas. Evidentemente que tudo isso aí é a realidade: a evasão de patrocínios privados, a questão de recursos públicos também minguados. Uma situação que não chegou a ser uma novidade ou uma grande surpresa, tanto é verdade que algumas confederações estão sofrendo com menor intensidade porque previram isso e estão de alguma forma se sustentando e sobrevivendo. Mas, sim, vivemos num período difícil e Tóquio 2020 será um desafio para o esporte brasileiro

Novo presidente do COB vê desafio logístico para Tóquio 2020:

Seu mandato vai até 2020. O senhor considera que tem direito a se candidatar à presidência do COB daqui a três anos e depois, em 2024, ainda tentar a reeleição?

PW – Nosso estatuto e a legislação esportiva só permitem uma recondução ao cargo. Eu era vice e fui efetivado presidente agora. Mas considero que eu integrava a chapa da presidência na eleição de 2016, estou dentro do primeiro mandato sim e portanto só haveria condições de uma reeleição em 2020. É muito cedo para falar em candidaturas futuras, estou no início de um trabalho. Se vai ter segundo mandato, se vou querer, se estou planejando, não, há nada disso no momento.

Recentemente, Luiz Lima deixou a Secretaria de Alto Rendimento do Ministério do Esporte e afirmou não haver razão para atletas federados, com mais de 16 anos, não participarem da escolha do presidente de suas confederações. O que o senhor tem a dizer sobre isso?

PW – Eu respeito toda e qualquer opinião, principalmente vinda de um atleta, um atleta olímpico. Respeito. Agora, é necessário que se atue conforme a legislação vigente. Sou legalista, obedeço o que está escrito. Se quer mudança, tem que mudar a legislação. Com relação a participação de atletas, desde o primeiro momento sou favorável. Mas é preciso decidir o quantitativo, o formato, Quem é atleta? Eu sou atleta. Pratico judô desde os 10 anos. Hoje, pode-se dizer, o Comitê Olímpico Brasileiro tem um atleta praticante na presidência, sedentário ultimamente por causa da demanda de trabalho. Na Confederação Brasileira de Judô (que presidiu de 2001 a 2016), todo o corpo técnico é composto por faixas pretas. De vez em quando, ocupávamos o tatame para lutar.

O senhor é faixa preta?

PW –Sou faixa vermelha e branca, uma graduação superior.

Então seria conveniente moderar nas perguntas?

PW – Que isso! Sou da paz, o judô é um esporte muito cordial, a gente não provoca.

Presidente, nomes de peso do esporte nacional, como João Havelange, Ricardo Teixeira, José Maria Marin, Marco Polo Del Nero, Carlos Arthur Nuzman, Ary Graça, Carlos Nunes, entre outros, estiveram (ou estão ainda) envolvidos com escândalos na Justiça. A corrupção na gestão do esporte nacional é endêmica?

PW – Infeliz coincidência todos esses nomes juntos. Não é de fato o que todo desportista almeja. Mas aconteceu, é fato, não tem como negar isso aí. Mas eu tenho uma avaliação. Se isso foi possível acontecer, não será mais possível daqui para frente.

Qual a garantia disso?

PW – A transparência, o envolvimento da sociedade como um todo, os controles internos terão que existir, porque não existiam, não importa o motivo. Agora é assim: ou se adapta ou sai.

O senhor é inflexível quanto a isso?

PW – Sem dúvida. Ou atendemos às demandas de legislação, de conceitos de governanças e de transparência ou é melhor sair. Se não tiver condições de atender a isso é melhor sair.

Com relação aos controles internos, já existe alguma medida prática?

PW – A própria motivação de criação de um novo modelo estatutário para o COB, com uma comissão já criada e em funcionamento e que em novembro apresentará a proposta de reformulação. Queremos avançar. Quanto à utilização de nossos recursos de origem pública, todos os dados são acessados pelo TCU e Ministério do Esporte, órgãos que já exercem um controle.

Até que ponto as dívidas milionárias do Comitê Organizador dos Jogos do Rio afetam o COB?

PW – Compromete na primeira medida que não conseguem pagar o que nos estão devendo. No momento, isso é uma situação que se refere à Rio 2016 e aos órgãos governamentais que tiveram à época o comprometimento com eles.

Mas não se confundem Rio 2016 e COB, por terem sido presididos ambos por Carlos Arthur Nuzman?

PW -Rio 2016 é Rio 2016, e COB é COB, o que aconteceu realmente foi que a direção era a mesma. E confundiu sim. Muitas pessoas acham que tudo relacionado à Olimpíada do Rio era da alçada do Comitê Olímpico Brasileiro, mas não se deve assim interpretar.

Então vice-presidente do COB, o senhor passou a falar em mudanças profundas no comando do esporte nacional somente depois da prisão e afastamento de Nuzman ou isso é apenas uma impressão?

PW – Eu vou ser bastante claro com você. Demonstrei na minha administração da CBJ qual tinha de ser o caminho. Numa proporção muito menor que o COB, que conta agora com 30 confederações olímpicas, a CBJ lidava com 27 federações estaduais e a situação lá era caótica. Foi assim durante todos os anos 90 e até mais para trás. Não tinha organização, a administração era bastante doméstica. Claro, vieram recursos novos. Mas isso não é isolado. Montamos uma equipe, um conceito de administração diferente. Isso não foi de uma hora para outra. A CBJ foi ter um primeiro patrocínio forte em 2005. Trabalhei com um portfólio de patrocinadores para não depender apenas de um. Durante os 16 anos na CBJ nunca houve uma pendência sequer com o Ministério do Esporte nem com atletas. Nenhum conflito com atleta. Saí do discurso para a prática. Claro, foi um trabalho de equipe. Agora, não custa lembrar que só comecei de fato a exercer a vice-presidência do COB em abril (a eleição foi no final de 2016). Tudo pra mim no COB é muito recente.

O senhor falou com Carlos Arthur Nuzman nos últimos dias?

PW - Não, até porque isso é impeditivo. Não falei, não tive possibilidade de falar, de comentar, nem de mandar recado, nada. A própria segurança jurídica dele necessita desse distanciamento.

Fonte: Especial para Terra
Compartilhar
Publicidade
Publicidade