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Chefe antidoping da Rússia diz que milhares de testes foram manipulados

Admissão pode complicar tentativa russa de evitar penalidades da Agência Mundial Antidoping

16 out 2019 - 04h41
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A Rússia mudou os resultados de milhares de testes antidoping de um número não especificado de atletas, disse nesta semana o chefe da própria agência russa antidoping, confirmando suspeitas de órgãos internacionais que estão pensando em severas punições ao programa russo de esportes. Yuri Ganus, diretor-geral da agência antidoping russa, revelou numa conferência no Colorado que os dados foram ocultos ou alterados para proteger a reputação e posições de ex-estrelas dos esportes que hoje têm cargos no governo ou atuam como altos administradores esportivos na Rússia.

As declarações podem complicar os esforços do país para evitar novas punições por parte de organismos antidoping internacionais. A Rússia já foi barrada de eventos esportivos mundiais, incluindo a Olimpíada de Inverno de 2018, após a descoberta de um amplo programa de doping apoiado pelo Estado, em 2015.

Em menos de duas semanas, uma comissão da Agência Mundial Antidoping (Wada) decidirá se haverá mais banimentos a federações russas de esportes - o que representaria uma volta ao status de pária que se seguiu à descoberta de 2015 - se não forem dadas explicações convincentes para a manipulação de testes entregues pela Rússia à Wada.

A Rússia prometeu entregar dados de milhares resultados de atletas como condição para levantar a suspensão imposta à agência antidoping russa em 2018. O esquema russo, um dos mais audaciosos e sofisticados da história do esporte, corrompeu um grande número de eventos, incluindo várias Olimpíadas.

Ganus disse neste domingo que apenas pessoas com acesso às mais poderosas instituições do país poderiam ter manipulado os dados. Suas revelações surpreenderam, dados os riscos que denunciantes com informações relacionadas ao problema podem enfrentar. Dois outros funcionários antidoping russos ligados ao escândalo morreram em circunstâncias suspeitas. Ganus acredita que suas comunicações eletrônicas e telefonemas estejam sendo monitorados.

Nos meios esportivos, porém, existe a suspeita de que a Rússia permitiu a Ganus denunciar publicamente o escândalo para poder separar o trabalho de sua agência, elogiada pela Wada pelas transformações que fez, daquele das autoridades estatais que controlam o laboratório de Moscou no qual estão os dados dos atletas. Ao levantar o banimento da Rússia no ano passado, antes de o país cumprir duas últimas exigências do "mapa de retorno" - fornecer os dados dos atletas à Wada e admitir que o programa de doping da Rússia era controlado pelo Estado -, a Wada na verdade liberou as autoridades que controlam o laboratório de cumprir os termos do acordo para o levantamento.

No mês passado, o advogado inglês Jonathan Taylor, que chefia a comissão da Wada responsável por monitorar o comportamento da Rússia, disse que o país precisará "tirar um coelho da cartola" para dar uma explicação crível para as anomalias nos dados extraídos do laboratório de Moscou. Associações mundiais de esportes tinham no passado o poder de punir países por casos de doping. Mas, com regras adotadas em 2018, uma decisão negativa contra a Rússia no Tribunal Internacional de Arbitragem Esportiva levaria à suspensão automática de um grande número de associações e federações esportivas do país, sob o código da Wada.

Sob tal banimento, equipes e atletas russos não poderiam competir em eventos esportivos internacionais e o país estaria impedido de sediá-los até que a Wada levantasse a suspensão. Isso deixaria a Rússia fora da próxima Olimpíada, em Tóquio, e até colocaria em risco a participação da seleção de futebol nos jogos de classificação para a Copa do Mundo de 2022, no Catar. / TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ

Estadão
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