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Seleção dos EUA quer tetra e igualdade no futebol feminino

Americanas chegam à França como favoritas e usam exposição como plataforma de movimento por equidade de gênero

4 jun 2019 - 04h43
(atualizado às 09h25)
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A seleção feminina de futebol dos Estados Unidos chega à Copa do Mundo da França, que começa sexta-feira, como a favorita ao título. Mas uma estrela a mais na camisa e o tetracampeonato não bastam para as 23 americanas. Elas não querem só ganhar. Herdeiras da luta de outras gerações por equidade entre homens e mulheres no esporte dos EUA, as jogadoras fizeram da exposição na Copa uma bandeira por direitos iguais e espaço para as mulheres nos estádios.

Com os cabelos platinados com mechas rosas, a estrela e meia Megan Rapinoe anunciou há uma semana: "A mudança que temos visto não é suficiente". "Para os recursos e capacidade que sinto que a Fifa tem para implementar essa mudança, eu não acho que estejam fazendo o bastante", disse a jogadora. A Fifa aumentou o prêmio dado na Copa Feminina, é verdade. De US$ 15 milhões em 2015 para US$ 30 milhões neste ano, o que ainda não passa nem perto da verba de US$ 400 milhões para a Copa do Mundo masculina. E não é apenas o dinheiro, disse, mas é preciso deixar de reproduzir apenas o que é feito no campeonato masculino.

Megan Rapinoe conduz bola pela seleção dos EUA
Megan Rapinoe conduz bola pela seleção dos EUA
Foto: Vincent Carchietta-USA TODAY Sports / Reuters

Fora dos campos, a batalha de 2019 do atual time de futebol começou em março, no Dia Internacional da Mulher, quando 28 jogadoras decidiram processar a federação americana de futebol para pedir salários iguais aos dos jogadores. Em 2016, a entidade já havia sido obrigada na Justiça a corrigir discriminações como diárias de alimentação mais baixas para as mulheres do que para os homens.

Megan Rapinoe esteve nos bastidores e holofotes dos dois movimentos nos tribunais. Na Corte, alegam que jogaram 19 jogos a mais do que a seleção masculina em um período de três anos, gastaram mais tempo em treinos, viagens e coletivas de imprensa. A receita dos jogos femininos também não deixa a desejar nos Estados Unidos, pelo contrário.

O que gera o sucesso do time feminino de futebol no país? Apesar de não ser possível creditar a um só fator, a resposta para a pergunta sempre inclui e começa pela expressão "Título IX". O "Título IX" é uma lei federal que foi parte de emendas de educação em 1972 e abriu o caminho para a participação das mulheres no esporte, garantindo o fim da discriminação baseada em gênero no financiamento de times e atletas nas instituições de ensino.

"Ainda que essa não tenha sido a ideia original por trás da lei, acabou tendo um enorme impacto nos esportes femininos. A ideia principal era focar no fim da discriminação de mulheres nas instituições de educação", explica Susan Ware, historiadora e autora do livro Title IX: a brief story with documents.

"Sempre houve mulheres que quiseram praticar esportes e eram boas nisso. Mas não se estabelecia que havia algo de errado com o fato de os times masculinos receberem 99% do orçamento para esportes e os femininos receberem 1%. As pessoas achavam que essa era a forma como as coisas deveriam ser. Houve uma consciência coletiva a partir dos anos 70 e as pessoas abriram os olhos e viram o quão desigual o tratamento era", afirma a pesquisadora.

A lei se aplicou a instituições de ensino - mas não ao esporte profissional. Mesmo assim, a mudança é vista como o trampolim que revolucionou o ingresso das mulheres nas carreiras profissionais esportivas. Nos Estados Unidos, há bolsas de estudo para atletas frequentarem as universidades, que são pagas. O Título IX tornou ilegal o não oferecimento de bolsas a atletas mulheres. "Isso criou o terreno para o esporte feminino começar a ter, finalmente, suporte para atingir seu potencial pleno", diz Susan.

Nas Olimpíadas do Rio em 2016, a corredora Allyson Felix, que levou para casa três medalhas, agradeceu à lei de 72. "O Título IX criou oportunidades para mulheres no esporte. Eu me sinto orgulhosa e inspirada pelas mulheres no nosso time", disse. As americanas levaram 61 medalhas para casa nos últimos Jogos Olímpicos - enquanto os americanos levaram uma a menos: 60. Nos jogos olímpicos de 72, em Munique, portanto antes da lei entrar em vigor, as mulheres dos Estados Unidos conquistaram 23 medalhas. Os americanos tiveram o triplo de conquistas: 71.

A geração da seleção de futebol de 1999, que conquistou a segunda estrela da camisa americana, é considerada o primeiro fruto dessa mudança legislativa. Vinte anos depois, o time de 2019 sabe que chegou aqui graças ao combate à discriminação entre gêneros e se sente na incumbência de impulsionar algo além.

Quatro das 28 jogadoras que estão processando a federação de futebol decidiram criar uma marca - a Re-INC, que será lançada na próxima quarta-feira e deve vender artigos esportivos. A ideia não é só fazer dinheiro, mas aumentar a presença de donas (e não donos) de empresas nos negócios do esporte. O nome é uma referência às palavras reinvenção e redefinição.

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