Real Madrid estuda mudança histórica para permitir venda de ações para investidores externos
Clube mantém mesma estrutura de sócios desde 1902, mas pode passar a adotar sistema para competir com rivais no mercado de transferências
Florentino Pérez tem planos para mudar a estrutura do Real Madrid nos próximos anos. Desde 2024, o presidente merengue estuda o plano de modificar o estatuto para permitir que sócios sejam donos de ações do clube, o que também tornaria possível que investidores externos pudessem fazer parte do novo modelo.
Atualmente, o Real Madrid é um dos quatro clubes da primeira divisão espanhola que é controlado pelos sócios. Esse modelo está em vigor desde sua fundação, desde 1902, e é espelhado por Athletic Bilbao, Barcelona e Osasuna. Uma mudança sensível, no entanto, precisaria ser aprovada em Assembleia, com a presença dos sócios.
Na última temporada, o Real Madrid se tornou o primeiro clube de futebol a superar a receita de 1 bilhão de euros. Sem contar com as transferências de jogadores, os cofres somaram cifras equivalentes a 1,185 bilhão de euros (R$ 7,5 bilhões, na cotação atual).
"Posso confirmar que apresentaremos uma proposta de reorganização corporativa à assembleia, que garante que os membros sejam os verdadeiros proprietários do nosso clube. Eles queriam tirar nossa receita para dá-la à La Liga", afirmou Pérez, em novembro de 2024, durante Assembleia Geral do clube.
De acordo com o The Athletic, esta proposta pode vir a ser apresentada ao final deste ano. A ideia é que o Real Madrid possa começar a receber aportes financeiros de investidores externos, que não permitido pelo estatuto atualmente. No entanto, o plano é manter os sócios e corpo diretivo com o controle sobre alguma das decisões.
"Vou dar tudo para que a receita do Real Madrid continue sendo do Real Madrid, a do Barcelona continue sendo do Barcelona e a do Athletic continue sendo do Athletic. Nosso clube deve ter uma estrutura que nos proteja", afirmou o presidente à época.
Uma das possíveis propostas levantadas envolve um modelo semelhante à Sociedade Anônima do Futebol (SAF), no qual futebol e clube social têm administrações separadas. No Brasil, clubes como Botafogo, Atlético-MG e Vasco adotam esse modelo.
"Estamos falando de um clube com uma das maiores capacidades de geração de receita do mundo, mas que, ainda assim, entende a importância de diversificar suas fontes e ampliar seus negócios. A lição que podemos capturar deste exemplo do Real Madrid é que mesmo estruturas sólidas e consolidadas pensam em alternativas de investimento agregadoras de valor", afirma Moises Assayag, sócio-diretor da Channel Associados e especialista em finanças no esporte, com foco em reestruturação financeira e operacional de clubes.
Para o especialista em direito desportivo Cristiano Caús, sócio e fundador do CCLA Advogados, isso que Florentino Pérez cogita fazer no Real Madrid não é novidade no Brasil.
"O Brasil também esteve na vanguarda em relação à gestão empresarial no futebol, embora tenha estacionado por algumas décadas. Como exigia, e depois passou a facultar, a Lei Pelé (Lei nº 9.615/98), tivemos a oportunidade de assessorar a Associação Desportiva São Caetano, que, em 2004, separou o clube social e as demais modalidades esportivas do futebol, cuja equipe vivia uma grande fase. Essa separação foi feita por meio da empresa São Caetano Futebol Ltda., que se filiou à FPF e passou a gerir tudo que dizia respeito ao futebol, com contabilidade própria e independente da AD São Caetano, que, aliás, era uma das sócias da empresa", relembra.
Outro case destacado por Caús também aconteceu em São Paulo. "Um outro exemplo foi a Corinthians Licenciamentos, sucedida pela Panamerican Sports Licenciamentos, ainda antes da entrada dos investidores Hicks, Muse, Tate and Furst e MSI. Nesse caso, porém, a empresa criada pelo Corinthians se dedicava apenas às atividades de licenciamento do clube", afirma ele, que escreveu um capítulo no livro "SAF - Sociedade Anônima do Futebol".