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Marrocos é o país com o maior número de jogadores naturalizados entre todas as seleções da Copa

Dos 26 convocados pela seleção africana, 14 não nasceram no país; equipe estreia nesta quarta-feira contra a Croácia

22 nov 2022 - 21h10
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Quando Marrocos entrar em campo no Catar, um fator no elenco chamará a atenção: dos 26 convocados para a Copa do Mundo, 14 não nasceram efetivamente no país que defendem. A maioria tem parentes e origens marroquinas, mas o número impressiona. A efeito de comparação, todos os jogadores da seleção brasileira nasceram no País.

Entre os países dos jogadores, está uma longa lista de nações europeias: Holanda, Itália, França, Alemanha, Bélgica e Espanha. Assim como outras seleções africanas, esse fato indica uma tendência observada nos últimos anos: a emigração de africanos, rumo a países da América e, principalmente, Europa. Achraf Hakimi e Hakim Ziyech, duas das principais estrelas da seleção, nasceram na Espanha e na Holanda, respectivamente.

Ao longo de sua história, o território, hoje conhecido como Marrocos, passou por influência de Portugal, França e Espanha - esta, inclusive, mantém controle de um enclaves na Ceuta, região no litoral africano. Ela já foi motivo de preocupação na fronteira espanhola. Em 2021, milhares de marroquinos tentaram imigrar ilegalmente na Europa por meio do Mar Mediterrâneo.

Esses fatores não chegam a atrapalhar a seleção, que disputa sua segunda Copa do Mundo consecutiva no Catar, mas levantam questões. Em 2018, o treinador Hervé Renard, que hoje comanda a seleção da Arábia Saudita e venceu a Argentina na estreia do Mundial do Catar, fazia sua preleção em duas línguas: o inglês e o espanhol, mas nenhuma das duas é a oficial do Marrocos, que fala árabe.

À época, a nação disputava seu primeiro Mundial em 20 anos e Renard brincou com a situação. "Algumas vezes você percebe que um jogador na sua frente não entendeu nada do que você disse. Eu chamo o assistente e digo: 'Por favor, fale com ele porque estou vendo em sua cara que ele não entendeu nada.'"

Na visão dos marroquinos, esta questão da naturalização não chega a ser um problema. "A linguagem não é um problema. Eles podem falar inglês, assim como alguns dialetos marroquinos", afirma Alaeddine Chaaby, 30 anos, empresário de futebol e administrador da página MVN_EN, especializada no futebol marroquino.

"Os estrangeiros de Marrocos trazem as qualidades necessárias para nosso elenco", diz. "Também é possível dizer que dos 26 convocados, 10 atuaram no futebol marroquino." Entre os chamados para o Mundial, o Wydad Casablanca é o clube do Marrocos com mais representantes na seleção. São três jogadores: o goleiro Reda Tagnaouti, o zagueiro Yahya Attiat Allah e o meio-campo Yahya Jabrane.

Preparação de Marrocos para a Copa

Quatro anos depois, a situação segue semelhante. A maioria dos jogadores de Marrocos são "estrangeiros", mas o comando técnico sofreu uma mudança. Após a saída de Renard, o bósnio Vahid Halilhodžic assumiu a seleção. Bem sucedido em seu país, ele ficou marcado por uma passagem problemática na equipe africana: nos últimos anos, ele deixou fora das convocações jogadores importantes nas últimas campanhas, como Ziyech.

Em agosto, a Federação Real Marroquina de Futebol (FRMF) e Halilhodžic "concordaram em se separar amigavelmente" devido a "divergências de pontos de vista sobre a preparação" para o Mundial do Catar. Em seu lugar, a entidade optou pela escolha de Walid Regragui, ex-jogador marroquino, também nascido na França, para assumir o comando da equipe nos últimos meses para a Copa.

Logo em sua primeira convocação, voltou a chamar Ziyech. Em fevereiro deste ano, o ex-treinador bósnio havia dito que não convocaria o jogador do Chelsea nem se "ele se chamasse Lionel Messi". "O comportamento de Ziyech não se encaixa na seleção", declarou em fevereiro, após a eliminação na Copa Africana das Nações.

"Regragui parou de chamar vários jogadores medíocres e trouxe de volta todos os jogadores famosos, incluindo Ziyech", comenta Ali Saccal, 30 anos, outro administrador da página. "Regragui é atualmente o melhor treinador marroquino e nós, marroquinos, preferimos um técnico que dá tudo pelo seu país do que um estrangeiro", em tom de crítica ao ex-treinador.

Ainda que não passe por boa fase no Chelsea, Ziyech é a grande estrela do Marrocos, ao lado de Hakimi. Ele defende a seleção desde 2015 e esteve presente no elenco para a Copa de 2018. Em 48 jogos, tem 18 gols e 10 assistências. "A longo prazo, as decisões de Regragui serão vistas com bons olhos", afirma Saccal.

Em busca de sua primeira classificação às oitavas de final desde 1986, ano em que terminou na 11ª colocação do Mundial, Marrocos tem pela frente um grupo complicado, com dois semifinalistas na Copa do Mundo da Rússia (Bélgica e Croácia) e o Canadá, melhor seleção nas Eliminatórias da Concacaf. A qualidade do elenco, aliada à essa reconstrução nos últimos meses sob o comando de Regragui, permite que os marroquinos sonhem. A seleção estreia nesta quarta-feira, às 7h (horário de Brasília), contra a Croácia.

Estadão
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