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Paris Saint-Germain

Discreto, explosivo e sincero: como age Leonardo, o diretor do PSG com carta branca

Homem forte do futebol, brasileiro foi responsável por atrair grandes craques, mas é afeito às polêmicas e colecionou desentendimentos com jogadores

29 ago 2021 - 02h06
(atualizado às 02h06)
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Os milhões que financiam as contratações que mudaram a lógica do mercado do futebol mundial e transformaram o Paris Saint-Germain em uma potência esportiva saem do bolso do empresário catariano Nasser Al-Khelaifi, dono do fundo de investimentos que controla o clube francês. Mas o homem forte do futebol é o brasileiro Leonardo, que tem autonomia para buscar craques como Neymar e Messi.

Leonardo está em sua segunda passagem como diretor de futebol em Paris. Ele fez parte do início do projeto ambicioso e endinheirado em 2011 e ficou até 2013. Depois treinou o Antalyaspor por apenas 13 jogos na temporada 2017/2018 e foi diretor do Milan até 2019, quando recebeu o convite para retomar o seu trabalho no PSG. O brasileiro voltou porque seu perfil linha dura era visto como essencial para os jogadores, especialmente Neymar, mudarem de postura. Naquela época, o presidente do PSG reclamou que não queria mais atletas com "comportamento de popstars."

Tetracampeão do mundo pela seleção brasileira em 1994 e jogador vencedor que deixou boas lembranças em Flamengo, São Paulo, Valencia, Kashima Antlers, Milan e no próprio PSG, Leonardo tem uma história na equipe de Paris. Jogou no time francês entre 1996 e 1997 e em seu primeiro trabalho como diretor esportivo foi capaz de atrair jogadores como Marquinhos e Verratti, e estrelas do calibre de Ibrahimovic, Thiago Silva e Cavani. Também convenceu o técnico Carlo Ancelotti a assinar.

O presidente do PSG, Nasser Al-Khelaifi, já falou mais de uma vez que Leonardo "marcou história" no clube e que o "dinamismo e o talento" do brasileiro colocaram "o clube em um novo ciclo com objetivos ambiciosos". Além disso, na apresentação de Lionel Messi, elogiou o "trabalho fantástico" que ele faz "para os torcedores e para a história do clube". Ele também tem carta branca do emir do Catar, Tamim bin Hamad Al-Thani.

"A maioria das pessoas não sabem, mas estou muito orgulhoso de você. Falo do fundo do meu coração. Não tenho aqui um discurso pronto", disse o empresário catariano, separado de Leonardo por Messi na apresentação do craque argentino.

Mas a relação, segundo a imprensa francesa, nem sempre foi boa entre eles e também entre Leonardo e parte do elenco, incluindo Neymar, que evitou por um tempo dar até bom dia ao compatriota. E isso se deve, em alguns casos, à personalidade complexa do executivo. No caso de Neymar, a tensão ocorreu principalmente pela forma como o diretor atuou, com mão de ferro, para impedir o retorno do astro ao Barcelona. Críticas a festas organizadas pelo jogador também teriam sido determinantes para o desentendimento. Considerado centralizador, Leonardo teve trabalho para contornar crises envolvendo Neymar e mantê-lo no elenco.

O dirigente é discreto, elegante e polido, mas, ao mesmo tempo, afeito às polêmicas e impetuoso, dono de um temperamento explosivo e determinado a conseguir o que almeja. Essa dicotomia que apresenta extremos em sua personalidade o acompanha desde a época de jogador. A sua gestão também foi marcada por brigas com outros jogadores além de Neymar. Na França, foi dito que o executivo virou inimigo comum contra o qual parte do elenco se uniu na temporada passada. A opção por não renovar os contratos de Thiago Silva e Cavani, considerados ídolos do PSG, faz Leonardo ser criticado até hoje em Paris.

No entanto, as desavenças parecem ter ficado para trás, até com Neymar, que passou a ser elogiado por Leonardo depois que o atacante assumiu a postura de "líder" da equipe. "Sinceramente, não temos nada a dizer sobre o Neymar em relação ao seu comprometimento e comportamento. Não é justo hoje falar dele dessa forma. Ele é irrepreensível. Ele está lá, está comprometido, é o líder. Ele é um grande jogador, é indiscutível", declarou o dirigente em entrevista recente à emissora de rádio e TV francesa RMC Sport. "Quando tínhamos que falar alguma coisa, nós dizíamos. Agora, se alguém falar do Neymar, eu vou defendê-lo. É a verdade".

Embora tenha causado poucos problemas em campo e fosse um atleta refinado, na Copa do Mundo de 1994, Leonardo ficou marcado pela cotovelada que acertou em Tab Ramos, jogador dos Estados Unidos, em pleno 4 de julho. É uma cena tão popular que talvez só fique atrás na memória dos fãs de futebol do pênalti perdido por Roberto Baggio e das imagens do capitão Dunga levantando a taça.

Na Itália, em 2009, Leonardo iniciou sua trajetória como treinador no Milan, clube do qual se despediu às lágrimas para meses depois aceitar o convite para ser técnico da arquirrival Internazionale. E anos depois, em 2018, retornou ao clube rossonero com festa, como diretor.

Como diretor, além dos desentendimentos com atletas, o brasileiro foi suspenso por nove meses pela Comissão de Disciplina do futebol francês por ter empurrado um árbitro após um jogo do PSG contra o Valenciennes. A pena acabou sendo reduzida e ele moveu um processo contra a Federação Francesa por danos morais.

Para Ricardo Gomes, que treinou brasileiro no PSG durante uma temporada, entre 1996 e 1997, em que pese alguns problemas, Leonardo é "um cara de uma cabeça aberta, extremamente inteligente, muito determinado". "Quando tem um objetivo, vai atrás dele. Quando ele começou a trabalhar comigo, no ano seguinte veio a proposta do Milan e ele resolveu ir. Tinha mais dois ou três anos de contrato, mas conseguiu, no argumento, convencer os dirigentes a liberá-lo", exemplifica o ex-zagueiro ao Estadão.

"É bem preparado, inteligente, se encaixa em qualquer lugar. Veio do futebol, não veio do nada. Fez uma carreira, foi jogador, técnico e diretor. Não chegou para aprender", acrescenta.

No entendimento de Raí, Leonardo é "inteligente, articulado, determinado e estratégico". Os dois foram companheiros no PSG na temporada 1996/1997 e, juntos, criaram a Fundação Gol de Letra, projeto que há 23 anos ajuda jovens em situação de vulnerabilidade social a ter acesso à educação. Segundo o ídolo do São Paulo, o amigo, fora de campo, sempre foi "discreto e dedicado à família."

Estadão
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