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Copa do Mundo

O comportamento de Dunga passo a passo

12 jul 2010 - 03h48
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Allen Chahad
Direto de Johannesburgo

"É como um aluno. Não adianta estudar o ano todo e ser reprovado na hora da prova. A Seleção é isso". São palavras do próprio técnico Dunga. Ditas em 27 de maio de 2010, dia da chegada da deleção brasileira à África do Sul para a disputa da Copa do Mundo. O resultado da prova já saiu. Dunga e a Seleção foram reprovados.

Dunga não fez um simples jogo de palavras. Sabia o que dizia. Já havia habitado o céu e o inferno como jogador pela Seleção. Disputou as Copas do Mundo de 1990, 94 e 98 como atleta. Carregou o rótulo da "era Dunga" na fracassada campanha da primeira participação. E teve sua redenção ao levantar como capitão a taça do tetra no segundo Mundial que disputou.

Sem nunca ter treinado uma equipe sequer, assumiu a Seleção em 4 de julho de 2006. Com uma missão clara de colocar ordem na casa depois da polêmica derrota nas quartas de final da Copa da Alemanha - do elenco com jogador fora de forma, baladas constantes, treinos em clima de festa com milhares de torcedores, etc.

Dunga realmente foi um disciplinador. Obcecado. E, como a história já mostrou, exagerado.

Muito questionado no começo do trabalho, Dunga calou a boca dos críticos com conquistas - Copa América 2007, a Copa das Confederações 2009 e o primeiro lugar nas Eliminatórias para a Copa do Mundo 2010. O maior revés foi a indigesta medalha de bronze na Olimpíada 2008, derrotado pela Argentina na semifinal.

Seleção fechada

Mas Dunga sabia que a sua prova final era a Copa do Mundo 2010. E, ao lado do auxiliar técnico Jorginho, fez suas escolhas. Uma das mais polêmicas foi a realização de treinos fechados. Enclausurou ainda mais a Seleção, que já havia adotado desde a semana de trabalho em Curitiba antes da viagem à África o esquema de concentração máxima. Com hotéis exclusivos, torcedores do lado de fora na maioria dos treinos e dois jogadores por dia à disposição da imprensa.

Dunga preferia chamar os treinos fechados para imprensa de atividades "privadas". Antes do jogo de estreia, não permitiu acesso durante três treinos completos, desrespeitando inclusive orientações da Fifa. Apesar de não se punida, a Confederação Brasileira de Futebol recebeu uma cópia de um documento lembrando que apenas uma sessão poderia ser 100% restrita antes de cada jogo. Nas demais, pelo menos 15 minutos deveriam ser abertos à mídia.

Ataques à imprensa

Poucas horas antes de fazer sua estreia em uma Copa do Mundo como treinador, Dunga atacou. "Vou falar uma coisa aqui e os caras vão falar que eu sou rabugento ou algo assim. As críticas maiores são porque os treinos são privados, porque não há entrevistas exclusivas, porque não tem jantar com cinco ou seis. Então as críticas são essas... São mais direcionadas à minha personalidade do que propriamente ao trabalho", completou.

Após a vitória magra por 2 a 1 sobre a Coreia do Norte, no jogo de estreia, admitiu que a Seleção precisava apresentar um futebol melhor no decorrer da competição. Ficou chateado principalmente pelo gol sofrido nos minutos finais.

Mas não perdeu a chance de alfinetar os jornalistas enquanto elogiava a atuação do atacante Robinho. "Estou muito feliz com o crescimento dele. Há um ano ninguém queria ele. No ano passado, quando ele estava no Manchester City, lembram? Queriam tirar ele da Seleção. Sabe qual é meu maior defeito? Tenho memória de elefante", declarou.

Pouco antes da partida da segunda rodada, Dunga fechou mais um treino depois de alguns minutos abertos à imprensa. Do lado de fora, fotógrafos flagraram o volante Josué atipicamente treinando no time titular. Surgiram então boatos de Gilberto Silva teria uma lesão que o impediria de jogar contra a Costa do Marfim.

No dia seguinte, véspera do jogo, Dunga fechou o treino sem aviso prévio pela primeira vez. Diferente das ocasiões anteriores, quando o departamento de comunicação informava a mídia sobre as restrições, Dunga solicitou a saída dos jornalistas com o treino em andamento. Pouco depois, negou que fosse uma retaliação, mas não escondeu sua irritação.

"Eu não vou vir apagar fogo aqui. Eu não sou bombeiro de vocês. (...) Abrimos parte do treino para vocês filmarem. Depois, não sei quem foi bater uma fotografia e criou todo um circo de que o Gilberto (Silva) não estava", disse.

Polêmica Dunga x Globo

Depois da vitória por 3 a 1 sobre a Costa do Marfim, Dunga explodiu de vez. Interrompeu a entrevista coletiva que concedia no estádio Soccer City para discutir com o apresentador Alex Escobar, da Rede Globo. Chegou a murmurar alguns xingamentos. Antes de sair, ainda falou em direção a outro profissional da emissora. "Tem que ser homem. Tem que olhar no olho". A sala ficou tomada por um ar de constrangimento.

Em repúdio à atitude do comandante da Seleção Brasileira, o apresentador Tadeu Schmidt fez críticas declaradas a Dunga durante exibição do Fantástico no mesmo dia. Em um tom de editorial, Schmidt afirmou que "o técnico Dunga, no comando da seleção há quase quatro anos, não apresenta nas entrevistas comportamento compatível com a imagem de alguém tão vitorioso no esporte. Com frequência usa frases grosseiras e irônicas. Hoje depois de uma vitória incontestável mais uma vez foi assim".

Foram cinco dias de muita repercussão. Até Dunga voltar a se pronunciar, já às vésperas de encerrar a participação na primeira fase contra Portugal. Pediu desculpas as torcedores pelo seu comportamento e disse que só queria liberdade para poder fazer seu trabalho tranquilo. Em nenhum momento se dirigiu à Globo.

Com fala mansa, o treinador da Seleção disse: "vou falar uma única vez sobre esse assunto. Quero pedir desculpas ao torcedor brasileiro pela indevida forma como eu me comportei. Porque o torcedor que sempre tem me apoiado na Seleção Brasileira não tem nada a ver com os meus problemas pessoais. Ou com uma ou outra situação. E eu como brasileiro, como todo torcedor, só quero trabalhar. Só quero que me deixem trabalhar. Então eu peço desculpas ao torcedor brasileiro que não tem que saber de algumas coisas ou ouvir algum desabafo meu. Só tem que torcer pela Seleção Brasileira, ser feliz com o que a Seleção Brasileira faz. Só quero fazer o meu trabalho".

O nervosismo em campo

E foi no próprio jogo contra Portugal que ficou clara a transferência de nervosismo do treinador para os jogadores dentro de campo. No segundo tempo, diante do jogo truncado, Dunga deu espetáculo de gritos e gestos. Ele já costumava dar show à beira do gramado para reclamar da arbitragem. Mas desta vez chegou a discutir com seus jogadores porque queria jogadas pelas laterais. O capitão Lúcio retrucou e também esbravejou contra o treinador.

Dunga explicou depois do jogo o que queria de seus atletas. "Sobre erros de passe, quando um time se defende e 20 jogadores ficam no meio de campo, o espaço acaba reduzido. É normal tentar ir pelo meio, deveríamos ter jogado mais pela lateral. Na ânsia de vencer tentamos muito pelo meio. "

O mata-mata

Classificado em primeiro lugar, Dunga teve pela frente nas oitavas de final o Chile. Na entrevista pré-jogo, fez discurso de lealdade ao presidente da CBF Ricardo Teixeira e disse que jamais pensou no que faria depois da Copa.

"Nunca pensei o que eu fazer depois dos quatro anos que vão se encerrar com a Copa do Mundo. Mas sinceramente não pensei no que vou fazer depois, meu trabalho é focado aqui na Seleção e na Copa do Mundo. O que vai acontecer depois não me interessa muito. Me interessa mais o que vai acontecer aqui", completou.

Ganhou mais alguns dias de trabalho com a vitória por 3 a 0 sobre os chilenos. Mas lamentou a mudança de rotina que a Seleção teria fora de campo após a classificação para as quartas de final. Desde a chegada à África do Sul, a deleção só havia dormido quatro noites fora do "quartel" em Johannesburgo - para os amistosos com Zimbábue e Tanzânia, além do duelo com Portugal em Durban.

"(...) Estávamos bem acomodados no hotel. Habituados, tranquilos, com um ambiente muito saudável e favorável. Tínhamos até agora o que um atleta precisa para disputar uma Copa do Mundo. Ficar focado, falando somente sobre futebol. Agora vamos ter que passar a outra realidade", lembrou.

A eliminação

Já na cidade de Port Elizabet, Dunga teria pela frente a sua prova final. Antes do mais importante jogo de sua carreira como treinador, contra a Holanda, lembrou que já trabalhava com o imponderável. "Esperamos que seja um jogo aberto. Daqui para frente são todas partidas eliminatórias, então não pode ficar se cuidando muito. Tem que jogar para vencer".

E Dunga, junto a seus comandados, foram do céu ao inferno mais uma vez em 90 minutos. Fizeram um primeiro tempo arrasador e chegaram ao intervalo com o placar favorável de 1 a 0. Mas no segundo tempo, depois do gol de empate holandês em falhas do goleiro Júlio César e do volante Felipe Melo, a equipe se desintegrou. Mostrou um nervosismo assustador dentro de campo. E assistiu Sneijder, de apenas 1,70 m de altura, fazer de cabeça o gol da virada. "Foi meu primeiro gol de cabeça e não acontecerá de novo", diria o jogador da Holanda após o jogo.

E o requinte de crueldade veio em uma tragédia mais do que anunciada. Na expulsão de Felipe Melo, que já havia provado tanto que era bom jogador quanto que não tinha equilíbrio psicológico. O cartão vermelho depois da virada sepultou qualquer chance de reação do Brasil.

"Não conseguimos manter a mesma concentração, a mesma forma de jogar do primeiro tempo. Sabíamos que numa Copa do Mundo são 90 minutos, são decididos em detalhes. Infelizmente não conseguimos nosso maior objetivo, que era ser campeão do mundo", afirmou Dunga após a partida. Abatido e catatônico.

"Quanto ao meu futuro, já se sabe bem quando eu cheguei na Seleção que eram quatro anos que eu ia ficar", lembrou o treinador, que seria então atropelado pelo desenrolar do fim do sonho do hexacampeonato.

Na mesma noite da derrota, desceu no restaurante do hotel para jantar e encontrou um clima péssimo. Silêncio e choro. Ouviu Júlio César pedir a palavra e agradecer ao treinador em nome do grupo. Respondeu com carinho e tudo terminou em um abraço coletivo.

O fim

Pouco mais de 24 horas depois da derrota, o voo com a delegação partiu de volta para o Brasil. Dunga ainda teve que enfrentar uma maratona. Depois das escalas já previstas no Rio de Janeiro e em São Paulo, teve que fazer mais uma parada imprevista em Florianópolis por causa das condições climáticas. Quando finalmente chegou a Porto Alegre, defendeu seu trabalho. "O povo está satisfeito, pois viu os jogadores comprometidos, sem polêmica, sem bagunça, representando o País da melhor forma possível", disse após desembarcar.

Sinalizou ainda com alguma incerteza com relação ao seu futuro, dizendo que ia esperar conversar pessoalmente com Ricardo Teixeira. Não deu tempo. Foi destituído do cargo horas depois com a publicação de uma nota oficial de três linhas no site da CBF.

No dia seguinte, publicou carta enviada a Teixeira. Com alguma mágoa. "Agora, como sempre foi à postura por mim adotada, incontinenti, resta-me acatar à sua decisão, pois, certa ou não, a mim não cabe questioná-la, na medida em que essa é a prática, de longa data, adotada no futebol, de todos conhecido, considerando que a vida segue, os compromissos são muitos e os interesses variados e complexos", escreveu.

Pouco depois, o presidente da CBF concedeu entrevista exclusiva no programa de Galvão Bueno, apresentador emblemático da Globo, dento do estúdio da emissora na África do Sul. "Não encontrei explicação. Vi ontem o VT do jogo com amigo e ficou claro no segundo tempo um time profundamente nervoso. Levamos o gol de empate e não precisava aquela hecatombe, era apenas o reinício do jogo. Tinha jogador que era zagueiro e depois do empate já estava de ponta de lança. Se sou presidente da CBF e entro em campo, desestabilizo a todos. O que realmente ficou muito patente foi o nervosismo de todos os jogadores no segundo tempo. Era um time completamente fora do esquadro por ter tomado um gol", disse o cartola.

"Quando você nomeia a comissão técnica ela tem que ter autonomia para tocar o projeto. Também há determinados momentos em que você viaja, o avião está no meio do Atlântico e não tem como voltar. Quando ele decola tem que completar a travessia, não tem opção. A mudança de treinador foi natural", declarou ainda Teixeira, sepultando a "era Dunga treinador" na Seleção Brasileira. Foram 60 jogos - 42 vitórias, 12 empates e 6 derrotas.

A eliminação e as explicações

Aos 8min do segundo tempo do duelo entre Brasil e Holanda pelas quartas de final, Wesley Sneijder cruzou a bola na direção do gol à esquerda das cabines de televisão do estádio Nelson Mandela Bay, na cidade de Port Elizabeth. Enquanto a bola fazia sua trajetória pelo ar, Felipe Melo caminhava de costas e olhava para o alto. Júlio César também fixou seu olhar e deixou o gol. Quando a bola estava na altura exata ou para o volante cabecear, ou o goleiro socar, os dois jogadores brasileiros trombaram. Sem nenhum holandês por perto.

A bola ainda resvalou na cabeça do volante. Ainda no ar, Júlio César virou o pescoço para ver a bola entrar. Felipe Melo viu só depois de aterrissar a rede já balançando. Os dois brasileiros envolvidos no lance sequer se olharam depois. Assim como os demais companheiros de equipe, caminharam lentamente. Silenciosos e assustados.

O naufrágio

O lance marcou a virada do destino da Seleção Brasileira na Copa do Mundo. Até ali era uma campanha com pinta de vitoriosa. O time se classificou em primeiro lugar no Grupo G depois de bater Coreia do Norte (2 a 1) e Costa do Marfim (3 a 1), além de empatar com Portugal (0 a 0). No primeiro jogo mata-mata, atropelou o Chile (3 a 0). E, no primeiro tempo das quartas de final contra a Holanda, dominou e chegou ao intervalo com vantagem de 1 a 0 no placar.

O mesmo Felipe Melo havia dado uma assistência espetacular para Robinho marcar com dez minutos de jogo. Quando a Holanda parecia uma engrenagem perfeita na marcação, o volante desmontou os europeus com passe do meio de campo que deixou o atacante na cara do gol. O Brasil podia até ter marcado mais vezes antes do intervalo.

Mas veio na etapa final o gol contra de Felipe Melo. Que o telão do estádio chegou a anotar para Juan. E que o árbitro corrigiu na súmula. E a Fifa interveio um dia depois e deixou registrado na história para Sneijder. O empate desestabilizou completamente a Seleção dentro de campo. Abalado, o Brasil passou a assistir à Holanda em campo.

O time europeu aproveitou e virou o placar aos 23 min. Depois de cobrança de escanteio de Robben, Kuyt desviou no primeiro pau e Sneijder nem precisou pular para arrematar. Sozinho, sem marcação. A zaga brasileira toda ficou apenas assistindo ao lance. Com apenas 1,70 m de altura, nem o próprio holandês acreditava depois do jogo. "É o meu primeiro gol de cabeça e não acontecerá de novo", disse.

Para completar de vez o naufrágio da Seleção, Felipe Melo foi expulso. Pisou em Robben. Tirou qualquer chance de reação da Seleção.

Explicações?

Ao apito final do árbitro japonês Yuichi Nishimura, os brasileiros desmoronaram. Era o fim do sonho do hexa. O fim de uma longa jornada de trabalho, que fracassou na obcecada busca pelo título da Copa do Mundo. Ainda no gramado do Estádio Nelson Mandela Bay, em Port Elizabeth, os jogadores caíram no choro.

Dunga foi um dos primeiros a sair para o vestiário. Reapareceu pouco depois na sala de entrevista. Abatido. "Sem dúvida todos nós estamos muito tristes. Não esperávamos", foram as primeiras palavras do treinador, que ouviu a segunda pergunta: Nessa eliminação da Copa do Mundo, que erros você cometeu que redundaram nessa eliminação? "Erro que... Não conseguimos manter a mesma concentração, a mesma forma de jogar do primeiro tempo. Sabíamos que numa Copa do Mundo são 90 minutos, são decididos em detalhes", justificou.

Felipe Melo

"Jogar com um jogador a menos em uma Copa do Mundo, com jogadores de qualidade da outra parte, sempre dificulta mais, né? ", disse Dunga, para em seguida defender o volante. "Mas seria injusto eu falar alguma coisa do Felipe, porque quando nós ganhamos, ganhamos todo mundo. Não foi a primeira vez que um jogador foi expulso dentro de uma Copa do Mundo, ou em uma partida. Então a responsabilidade é de todos".

O volante foi o mais procurado na área de entrevistas aos o jogo. Não mudou o tom de voz e não fugiu de nenhuma pergunta. Foi um dos últimos a entrar no ônibus. Pediu desculpas. Mas não pela expulsão. "Queria até pedir desculpas ao torcedor brasileiro porque realmente o objetivo era ser campeão mundial", disse.

"Eu sei da minha responsabilidade e tenho a humildade de assumir meu erro. É um grupo... É minha primeira derrota, uma derrota realmente dolorosa. Tenho minha vida a seguir. Assim como milhões de brasileiros eu estou muito triste, arrasado. Infelizmente aconteceu", completou.

Embora admitisse sua parcela de culpa pela derrota brasileira, Felipe Melo achava que nem deveria ter recebido cartão. "A expulsão dói muito, mas vi entradas mais duras durante o jogo que não foram punidas desta forma. E não dei soco na cara de ninguém. Ele deu um carrinho e eu acertei ele. Tenho força suficiente para quebrar a perna dele, mas não fui para isso".

O primeiro gol...

Também envolvido na falha do primeiro gol holandês, Felipe Melo não tinha explicações para o lance após o jogo. Ficou sem palavras. "O primeiro gol... É até difícil explicar o primeiro gol deles".

Júlio César, o outro envolvido, foi o primeiro jogador a sair dos vestiários e encarar a longa fila de jornalistas. De olhos inchados e cabisbaixo, respondeu pacientemente todas as perguntas. Perguntado se era um dos dias mais amargos de sua carreira, afirmou categoricamente que era "o mais".

O goleiro apontou o excesso de vontade como o motivo da bobeada. "Os dois foram na bola. A vontade de vencer era muito grande. Tenho minha parcela de culpa e assumo isso", resumiu.

Enfim, pouco tinham a dizer sobre o lance.

Lágrimas

Depois de Júlio César, os demais jogadores demoraram aparecer. Ainda derramavam lágrimas no vestiário. O clima nas quatro paredes fechadas da Seleção era, óbvio, dos piores. Saíram todos juntos, com cara de velório.

Um dos mais abalado, senão o mais, era Kaká. Chegou para falar com a imprensa com o semblante transfigurado. Faltaram palavras. A voz embargou. Precisou segurar o choro. "Não sei nem o que falar", foi a frase que marcou o início do discurso do meia.

O capitão Lúcio, mesmo com os olhos marejados, manteve a postura de líder da equipe. "Trabalhamos bastante desde que chegamos aqui e amanhã a gente já retorna a sonhar. Temos que olhar para frente", discursou.

Noite longa...

Após as primeiras palavras de decepção, a Seleção Brasileira partiu de volta para seu hotel em Port Elizabeth. Enquanto o ônibus estacionava, torcedores hostilizaram Dunga. Chamaram o técnico de "burro" e gritaram alguns outros xingamentos impublicáveis.

Dentro do hotel, ganharam uma salva de palmas triste dos funcionários. Depois, fizeram um jantar triste e silencioso. Dunga chegou um pouco depois e ganhou um discurso elogioso do goleiro Júlio César. Seguido de aplausos. Retribuiu também com palavras de carinho aos jogadores. E o dia terminou num demorado abraço coletivo.

Na manhã do dia seguinte, só a comissão técnica apareceu para o café da manhã. A maioria dos jogadores passou a noite em claro e ficou no quarto até perto da hora do almoço. Alguns desceram no saguão do hotel e conversaram sobre amenidades, nada de falar sobre a tragédia.

A fuga

A delegação ficou trancada no hotel em Port Elizabeth até a hora de voar de volta. Apesar de não haver mais proibição para sair da concentração, ninguém quis encarar a multidão de jornalistas e torcedores de plantão do lado de fora. Por meio da assessoria de imprensa, mandaram o recado de que se pronunciariam na chegada ao Brasil.

Promessa não cumprida pela maioria. No Rio de Janeiro, primeira escala do voo, Felipe Melo saiu escoltado pela polícia. Quem foi para São Paulo despistou imprensa e fãs por uma saída lateral do aeroporto.

Dunga entra em conflito com a imprensa, "fecha" a Seleção e volta sem o hexa
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Foto: AFP
Fonte: Terra
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