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Copa do Catar

Febre de figurinhas da Copa une gerações de colecionadores em trocas no Pacaembu

Museu do Futebol e Praça Charles Miller recebem centenas de pessoas nos fins de semana: o que todas querem é completar suas coleções do álbum do Catar 2022

13 set 2022 - 10h11
(atualizado às 12h06)
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A pouco mais de dois meses para o início da Copa do Mundo do Catar, o álbum de figurinhas da competição já se tornou um vício e um verdadeiro aperitivo do contato do público com os atletas, jogos, grupos e tabela. Há mais de 50 anos, a Panini lança nas bancas e livrarias a publicação, com todas as seleções, escudos e principais craques do torneio. Às vésperas da Copa Catar 2022, os colecionadores estão enlouquecidos pelos cromos e figurinhas especiais, as mais raras nos pacotinhos. Pontos de trocas fazem a festa em busca das figurinhas que faltam e de ver o livro completo o quanto antes. É uma corrida para preencher o álbum.

Lançado em agosto em parceria com o Estadão, a edição de 2022 já é uma febre entre torcedores e colecionadores de todas as idades. Seja nas praças, nas escolas, nos condomínios, nos shoppings, ou em qualquer outro lugar, é possível observar núcleos de trocas. Até o mundo digital já foi dominado pela edição deste ano, com a versão online do álbum e grupos de colecionadores marcando pontos de encontros para as negociatas.

Um desses locais de trocas, que recebe centenas de pessoas nos fins de semana, é o Museu do Futebol e o Estádio do Pacaembu, localizados na Praça Charles Miller, em São Paulo. A partir do encontro entre amigos para colecionar, jogar conversa fora e trocar figurinhas, a organização do Museu "abraçou" os colecionadores, cedendo o espaço para eles na área externa. Ali, todo mundo fala com todo mundo. A diversão faz parte do negócio. O único objetivo é achar nos bolinhos de repetidas dos colegas, o cromo que lhe falta. Negociar faz parte.

Colecionadores se reúnem na parte coberta do Museu do Futebol para trocarem figurinhas da Copa do Mundo. Foto: Taba Benedicto/Estadão

Desde o último sábado, esse evento de troca de figurinhas se tornou "oficial" pelo Museu do Futebol, mas ele acontece desde a última coleção, na Copa do Mundo da Rússia, em 2018. O encontro é gratuito e aberto a todos os públicos das 9h30 às 15h. Em um rápido olhar nas imediações do Pacaembu é possível encontrar todas as faixas etárias de colecionadores. Há apenas uma regra: dentro do Museu é proibida a comercialização de quaisquer itens, sejam figurinhas avulsas, envelopes ou até álbuns completos.

Leandro Fonseca, de 40 anos, é um dos fundadores e organizadores do encontro. Colecionador há anos, já completou sete álbuns somente da edição da Copa do Catar, mas não deixa de estar presente todos os sábados no Pacaembu. "É uma paixão que tenho, já perdi as contas de quantos (álbuns de figurinhas) já completei na minha vida", diz. Leandro também traz consigo aos sábados uma pasta com todas as suas repetidas para o Museu do Futebol, além de uma planilha impressa, organizada pela ordem do sorteio dos países na Copa do Mundo. Tem tudo muito bem organizado.

Com ao menos sete álbuns completos em 2022, ele é sucinto em afirmar que a edição deste ano é uma das mais "fáceis" para encontrar as figurinhas. "Não tem figurinha difícil. Nos últimos anos, em 2018 e 2014, sempre tinham alguns cromos que eram difíceis de encontrar, mas não existe isso mais".

Carolina Motta, gerente de marketing da Panini, afirmou durante evento de lançamento do álbum, realizado no Allianz Parque, que "todas as figurinhas são produzidas na mesma quantidade". A exceção à essa regra são as figurinhas extras. Novidade na coleção da Copa do Catar, a Panini criou 80 cromos de 20 craques da competição (Messi, Cristiano Ronaldo, Mbappé e Neymar foram alguns dos escolhidos). A cada 100 envelopes, um contém esse "brinde" exclusivo. Cada um destes jogadores possui quatro versões do cromo: bordô, bronze, prata e ouro. São as mais disputadas e valiosas.

A exceção à essa regra são as figurinhas extras. Novidade na coleção da Copa do Catar, a Panini criou 80 cromos de 20 craques da competição (Messi, Cristiano Ronaldo, Mbappé e Neymar foram alguns dos escolhidos). A cada 100 envelopes, um contém esse "brinde" exclusivo. Cada um destes jogadores possui quatro versões do cromo: bordô, bronze, prata e ouro. São as mais disputadas e valiosas.

Leandro, colecionador assíduo, também busca ter todas essas figurinhas, apesar de elas não fazerem parte da coleção - não há espaço para colá-las no álbum. Das 80 figurinhas, ele já conta com 56 em suas mãos. "Tenho certeza de que, até o fim da Copa, vou ter ao menos 79, senão todas. Meu medo é não conseguir a versão prata do Neymar", diz.

Objeto de desejo dos colecionadores, a figurinha extra do craque brasileiro é a mais procurada nesses encontros - na internet, um "Neymar dourado" foi colocado à venda por R$ 9 mil.

O colecionador Leandro Fonseca, 40 anos, é o organizador das trocas em frente ao museu do futebol. Foto: Taba Benedicto/Estadão

Mas por que a figurinha prata do astro do Paris Saint-Germain é uma das mais difíceis da coleção? Segundo Leandro, apesar da versão ouro ser teoricamente mais rara, os colecionadores têm dificuldades em encontrar as versões pratas nos envelopes. "Todos com quem converso falam sobre isso (raridades dos cromos pratas). Eu mesmo tenho mais figurinha extra ouro do que prata", relata.

Colecionadores, trocas de figurinhas e cromos extras

No Pacaembu, cada colecionador tem o seu próprio método de troca. "Uma brilhante vale duas normais" ou "uma figurinha extra por 20 normais" são frases comuns ouvidas em uma tarde de sábado no Pacaembu. A reportagem do Estadão esteve lá. Além do Museu do Futebol, eles se encontram ao redor da Praça Charles Miller, sempre com a mesma cena: centenas de pessoas com seus "bolinhos" de figurinhas repetidas nas mãos e anotando as que faltam, seja no papel ou no celular.

Com o estádio fechado desde 2020 para reformas - o Tobogã, arquibancadas atrás de um dos gols, foi demolida e o empreendimento privatizado -, os encontros de colecionadores trazem vida ao entorno do bairro. O sucesso foi tão grande que, assim como em outras regiões da cidade, as bancas próximas ficaram sem envelopes para comercialização por algumas semanas. Em uma destas bancas de jornais, a jornaleira relata que seu estabelecimento ficou ao menos uma semana sem cromos para vender.

Entre as centenas de pessoas que se juntam na Praça Charles Miller estão aqueles que vendem figurinhas, além de trocar. Envelopes, álbuns de capa dura e cromos avulsos à venda são sempre acompanhados de dezenas de curiosos e clientes. José Ferreira, de 60 anos, é um desses vendedores. Multicolecionista (coleciona todo e qualquer álbum, seja de futebol ou de princesas da Disney), ele afirma ter todas as figurinhas de qualquer Copa do Mundo à disposição de seus clientes. "A ideia é ajudar todos a completarem sua coleção", conta.

O colecionador José Ferreira, 60 anos, possui uma banca onde comercializa os cromos de forma avulsa, tanto da Copa do Mundo do Catar como de outras edições. Foto: Taba Benedicto/Estadão

Dono de uma loja de multicolecionismo (Wancards) na Rua 24 de Maio, José se diz generoso. Além das figurinhas avulsas - que são vendidas por R$ 1 ou R$ 5, no caso da Copa do Mundo do Catar -, ele cria kits com todos os cromos de cada seleção e álbuns completos, até mesmo de outros Mundiais. Um livro ilustrado da Copa de 1990, por exemplo, sai por R$ 900. "As pessoas compram (os álbuns) para guardar de recordação da infância ou até para ter um registro histórico", afirma.

Aos sábados, quando leva sua mesa e seus álbuns para exposição e venda no Pacaembu, José revive seu passado como colecionador. "São 40 anos que as coleções estão na minha vida. Comecei com selo e cartões até chegar nas figurinhas", diz. Ele tem álbuns de Copa desde 1958, mas sua primeira coleção foi com o livro de 1982, na Espanha, que leva consigo na Praça Charles Miller sempre que pode. Em 2022, já perdeu as contas de quantos já completou.

Famílias e encontro de gerações com o álbum da Copa

A coleção de figurinhas da Copa do Mundo é uma oportunidade de apresentar o mundo do futebol às crianças. Não é raro observar durante os fins de semana famílias inteiras envolvidas nas trocas de cromos no Pacaembu. Pais, mães e filhos, em um sábado ensolarado, se juntam aos outros colecionadores.

Mas além de completar o álbum, essa ação evidencia um outro fato importante: a formação de laços entre pais e filhos. Flávio, médico de 50 anos, é um dos que apresentaram aos filhos a paixão pelo futebol pela coleção. "Fazia dez anos que não colecionava figurinhas, mas voltei por conta dos filhos", brinca. Mas o alto custo dos envelopes (R$ 4 na edição de 2022) é um obstáculo para completar a coleção. "Toda nossa família está fazendo apenas um álbum, mas é muito divertido essa prática".

Avô e neto

Essa relação faz com que haja um encontro de diversas gerações em torno dos cromos no Pacaembu. O caso de Valentim Catelan, de 81 anos, e seu neto, Augusto César, de 14 anos, é um dos que mais chamam a atenção. Sentados no gramado, trocando figurinhas, Valentim conta que nunca colecionou ou foi atrás de completar um álbum sequer - até a chegada de Augusto.

Tiago de Lima (dir), 45 anos, Renato Abibi (esq), 45 anos, Henrique Abibi, 11 anos, Augusto Cesar Catelan, 16 anos, e Valentim Catelan (ao fundo), 81 anos, se reúnem para fazer as trocas dos cromos no Pacaembu. Foto: Taba Benedicto/Estadão

Com apenas dois anos de idade, o jovem perdeu seu pai. "Desde então, eu me tornei pai e avô para o meu neto. E acho que tenho cumprido meu papel". Valentim brinca que tem até mais energia do que a maioria das crianças e adultos para correr atrás das figurinhas. "Nós vamos ao Pacaembu todo fim de semana. Ele (Augusto) já completou um este ano, agora está fazendo o segundo".

O avô ressalta outro ponto importante nessa vivência com seu neto: a volta do contato humano, após dois anos cercados pela pandemia. "É emocionante ver a praça cheia novamente. Com as quatro doses de vacina, me sinto até mais seguro para voltar à vida social e ir atrás das figurinhas".

Estadão
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