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Terra na Copa

Copa em Porto Alegre é marcada por Carnaval e invasão gringa

Com a conclusão de apenas duas das 14 obras previstas para a Copa, Porto Alegre comemora a grande circulação de turistas

1 jul 2014 - 07h28
(atualizado às 11h26)
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Caminhada holandesa ao Beira-Rio em Porto Alegre
Caminhada holandesa ao Beira-Rio em Porto Alegre
Foto: Daniel Favero / Terra

Após 15 dias de festas a céu aberto e cinco jogos disputados, Porto Alegre se despediu nesta segunda-feira da Copa do Mundo, superando o clima de desconfiança que imperava na cidade antes do torneio. Apesar do atraso na conclusão das obras do entorno do Estádio Beira-Rio e do baixo aproveitamento do "legado da Copa" para viabilizar grandes reformas na infraestrutura da cidade, a capital gaúcha encerra a participação comemorando a grande circulação de turistas estrangeiros - principalmente argentinos, holandeses e australianos -, que transformaram as ruas do bairro Cidade Baixa em um Carnaval fora de época.

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Se dentro de campo a capital gaúcha foi brindada com grandes exibições de pesos-pesados como França, Holanda, Argentina e Alemanha - que renderam ao Beira-Rio uma das maiores médias de gols da Copa, ficando atrás apenas da Arena Fonte Nova, em Salvador -, fora das quatro linhas a Copa em Porto Alegre foi marcada pela intensa participação popular nas ruas.

Inicialmente vista como um "possível mico" por ficar localizada em uma área sujeita à ação de fortes ventos na beira do lago Guaíba, a Fan Fest foi um sucesso de público, reunindo mais de 30 mil pessoas em dias de jogos, mesmo com as baixas temperaturas registradas no inverno local.

As intempéries de um dos meses mais chuvosos da história recente de Porto Alegre, porém, fizeram com que o Anfiteatro Pôr-do-sol, onde a Fan Fest foi instalada, fosse fechado em mais de uma oportunidade, devido aos riscos potencializados pelos vendavais. Mas foi nas ruas da Cidade Baixa, o bairro boêmio de Porto Alegre, que os locais experimentaram de forma mais genuína a efervescência multicultural das últimas semanas.

Integração era grande entre torcedores
Integração era grande entre torcedores
Foto: Daniel Favero / Terra

Nas noites que antecediam os jogos em Porto Alegre, o cruzamento das ruas da República e General Lima e Silva era fechado para o trânsito de veículos e tomado por milhares de pessoas, transformando a região em uma grande micareta. Esse clima de Carnaval, aliado ao álcool e à presença de estrangeiros, atraiu bastante a atenção das porto-alegrenses, que partiram para cima dos gringos.

Ao longo de toda a Copa, pipocaram relatos de que as mulheres dominaram a cena da paquera na Cidade Baixa, deixando os gaúchos praticamente como espectadores do que acontecia. Mas eles não se deram por vencidos, sendo que alguns até se passaram por gringos para se dar bem na festa.

O diferencial

A grande circulação de pessoas pela Fan Fest e pelas ruas da Cidade Baixa talvez encontre explicação no êxito de uma iniciativa de Porto Alegre que, segundo a prefeitura, foi tão bem-sucedida que a Fifa já estuda a exportação para futuras Copas: o Caminho do Gol.

Em todos os dias de jogos, um trecho de cerca de 4 quilômetros das avenidas Borges de Medeiros e Padre Cacique tinha o trânsito para veículos bloqueado cerca de seis horas antes do início das partidas, criando um grande corredor para a caminhada de torcedores do centro da cidade ao Beira-Rio.

Com essa iniciativa, os torcedores tinham acesso, em uma única via, ao estádio, à Fan Fest e, após os jogos, à Cidade Baixa. Ao mesmo tempo, ao estimular o deslocamento a pé até o estádio, a cidade acabou minimizando o impacto no trânsito dos bloqueios de vias próximas ao estádio.

O ponto alto foi no dia 18 de junho, quando o Caminho do Gol foi pintado de laranja com a grande festa promovida por torcedores holandeses, que arrastaram uma multidão de mais de 50 mil pessoas - muitos sequer tinham ingresso para o confronto contra a Austrália, mas aproveitavam a oportunidade de vivenciar o clima da Copa do Mundo.

Contratempos

Como esperado, uma das principais dores de cabeça causadas aos organizadores da Copa em Porto Alegre ficou por conta do Aeroporto Salgado Filho, que foi fechado em pelo menos quatro dias devido à neblina.

Mesmo já dispondo do ILS2, equipamento que auxilia a operação de aeronaves em condições de baixa visibilidade, o aeroporto teve de aguardar a publicação no Diário Oficial da homologação do dispositivo por parte da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), o que só aconteceu no dia 20 de junho. Dessa forma, mesmo que já contasse com o equipamento, o aeroporto chegou a ficar fechado por nove horas em uma oportunidade.

Outro ponto negativo foi a falta de fiscalização da ação de cambistas nos arredores do Estádio Beira-Rio. Apesar dos alertas de que a Fifa não permitiria a comercialização dos ingressos, o mercado paralelo rolou solto nas imediações, mesmo com a proximidade da polícia.

Argentinos eram os mais brincalhões nas ruas da cidade
Argentinos eram os mais brincalhões nas ruas da cidade
Foto: Daniel Favero / Terra

Vendas do comércio abaixo do esperado

Apesar das autoridades comemorarem o grande número de torcedores australianos, holandeses e argentinos em Porto Alegre, no comércio o frenesi não foi tão grande. Na primeira semana de Copa, as vendas ficaram 50% abaixo do esperado, e a movimentação financeira levada pelos argentinos não conseguiu reduzir os impactos negativos. Tanto que a Câmara dos Diligentes Lojistas (CDL) reduziu a previsão de movimentação em 10%, de R$ 101,8 milhões para R$ 90 milhões.

Segurança reforçada contra protestos

Com reforço de efetivo de policiais do interior do Estado, a polícia agiu forte contra os protestos. Tanto que o número de policiais com intimidadores trajes pretos era bem superior ao de manifestantes. Na ação mais violenta da polícia, três jornalistas ficaram feridos com estilhaços de bombas de efeito moral.

Entretanto, o dia com o maior número de ocorrências foi 25 de junho, quando Nigéria e Argentina se enfrentaram. Tendo em vista que até 80 mil hermanos poderiam ir ao Rio Grande do Sul, a segurança foi reforçada no Beira-Rio, mas a confusão mesmo aconteceu do lado de fora: um argentino foi baleado depois de uma discussão ainda na madrugada, e durante o dia foram registradas ao menos 68 ocorrências de furtos, roubos e estelionato praticado tanto por estrangeiros quanto brasileiros.

Segundo a polícia, mais de 100 ingressos falsificados foram apreendidos. Já no jogo seguinte, entre Alemanha e Argélia, não foram registradas ocorrências até poucas horas antes da partida.

O estádio

Palco das cinco partidas realizadas em Porto Alegre, o Beira-Rio recebeu elogios de delegações pelo bom estado do gramado e das instalações. Inicialmente orçada em R$ 130 milhões, a reforma do estádio do Internacional custou ao todo R$ 330 milhões, totalizando um aumento de 154% em relação ao preço original.

<p>Torcedores argentinos aproveitaram a menor distância e foram em peso para Porto Alegre acompanhar a seleção</p>
Torcedores argentinos aproveitaram a menor distância e foram em peso para Porto Alegre acompanhar a seleção
Foto: Bruno Santos / Terra

Desse montante, R$ 275,1 milhões foram provenientes de linhas de crédito de bancos públicos, cabendo os outros R$ 54,9 milhões à construtora Andrade Gutierrez. Apesar dos elogios, o Beira-Rio rendeu uma saia justa já na partida de estreia, quando um problema técnico impediu a execução dos hinos de França e Honduras, quebrando o protocolo da Fifa.

Ao final da mesma partida, torcedores que deixavam o estádio reclamaram da falta de iluminação nas vias próximas, gerando receio de risco à segurança de franceses e hondurenhos. No dia seguinte, o prefeito José Fortunati afirmou que a falha na iluminação ocorreu devido a um carro que colidiu em um poste na véspera, afetando a rede elétrica.

O problema, segundo Fortunati, foi que os agentes de trânsito que atenderam à ocorrência não emitiram alerta aos órgãos competentes de que havia possibilidade de danos à rede. Outro episódio lamentado ocorreu na partida Argélia x Coreia do Sul, em 22 de junho, quando um torcedor argelino teve de ser levado ao Hospital de Pronto-Socorro após ser atingido por uma garrafada no olho.

Legado, só depois da Copa

Das 14 obras inicialmente previstas na cidade para receber a Copa do Mundo, apenas duas foram concluídas a tempo: o entorno do Beira-Rio - que demandou a execução de três obras - e a pavimentação do pátio do estádio, que foi incluída na matriz de responsabilidades no ano passado, com orçamento previsto em R$ 15 milhões, mas que custou R$ 33,3 milhões.

Holandeses "invadem" Porto Alegre rumo ao Beira-Rio; veja:

Com uma previsão inicial de empregar R$ 446,3 milhões em todas as obras, o poder público acabou empenhando R$ 642,1 milhões, dos quais apenas R$ 56,6 milhões já foram efetivamente pagos.

Entre as obras que ficaram para depois estão a duplicação da avenida Tronco, orçada em R$ 156 milhões; a duplicação da avenida Voluntários da Pátria (R$ 95,3 milhões); o prolongamento da avenida Severo Dullius (R$ 83 milhões); a finalização do viaduto da avenida Júlio de Castilhos (orçado em R$ 31,5 milhões, já foi liberado ao tráfego de veículos, mas ainda passa por retoques); e a implantação dos BRTs das avenidas Protásio Alves, Bento Gonçalves e João Pessoa (orçada em R$ 246,7 milhões, sem prazo para conclusão).

Algumas das obras poderão ser entregues até 2015, mas o caso mais preocupante é o dos novos viadutos da Terceira Perimetral, que contam com investimento previsto de R$ 191,1 milhões, mas ainda não têm prazo para entrega por problemas no projeto.

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Fonte: Terra
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