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Tímido, descompromissado e precoce: conheça o começo da carreira de Ceni

1 jul 2012 - 09h41
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Allan Brito

Líder, trabalhador e experiente. Esse é o Rogério Ceni que todos conhecem. Porém, há 22 anos, já existiu um Rogério Ceni diferente, desconhecido e em começo de carreira. Era tímido, de poucas palavras, um típico menino do interior. Também já foi descompromissado com a vida de goleiro, pois tinha outras obrigações profissionais. Mas logo se tornou precoce: virou destaque em Sinop aos 17 anos, viajou para a capital paulista e começou sua jornada para se tornar um dos maiores ídolos da história do São Paulo.

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Perto do fim da carreira, Rogério Ceni sofreu uma grave lesão no ombro, no começo deste ano. Já está prestes a voltar, mas durante meses ficou quieto, sumiu da mídia e se dedicou apenas aos treinos de recuperação. Calado e discreto, chegou a lembrar o menino que surgiu no Sinop, time do interior do Mato Grosso. Aos 17 anos, apesar de já mostrar talento como goleiro, ele não mostrava potencial para ser tão eloquente quanto é hoje e mostrava até timidez. Quem relatou isso foi Éder Ferreira, que atualmente é presidente do Sinop, mas foi seu companheiro de time no começo de carreira.

"Quando ele chegou no Sinop, eu tinha 20 anos e ele 17. Ele era tímido, muito tímido. Não era de falar muito. A gente se falava quando eu ficava betendo bola no gol nos treinos. Mas ninguém ouvia ele falar muito", lembrou o ex-meio-campista. Pai do ídolo do São Paulo, o senhor Eurydes confirmou essa característica. "Era tímido porque era muito garoto, tinha 17 anos. Então é complicado você ser um recém-iniciado, é difícil", contou.

Ceni esteve perto de não se tornar goleiro. Quando jovem, seu foco estava no trabalho como auxiliar de serviços gerais do Banco do Brasil. Nas peladas da empresa ele era meio-campista. No trabalho do dia a dia ele organizava tudo, conseguia se destacar, mas só aos poucos levou essas características para os gramados, quase sem querer. "Ele começou como terceiro goleiro (do Sinop), até um pouco descompromissado. Ia treinar, mas nem precisava viajar", lembra o pai. Foi quando o inesperado aconteceu: o titular Marília e o reserva Valdir Braga se lesionaram praticamente ao mesmo tempo. O jovem Rogério se tornou a única opção. Provou que era a melhor.

A inexperiência pouco pesou: em seu primeiro jogo, Rogério Ceni defendeu um pênalti. Depois, como titular, foi campeão mato-grossense, o primeiro título estadual de uma equipe que não era da capital. Mas ele precisou dar sangue para conseguir tudo isso. "Teve um jogo em Cuiabá que teve uma confusão e ele levou uma pedrada. Ou um policial bateu com o cassetete, não lembro bem. Mas ele ficou com a cabeça sangrando e a gente ficou preocupado. Ele era muito novo e foi bem preocupante", contou Éder, que foi desmentido pelo pai de Ceni. "Nem foi na cabeça. Foi nas costas que bateram. Foi a Policia, no final do jogo, mas ele não se envolveu na confusão. Não é que ele brigou, mas os caras foram batendo nele", defendeu Eurydes.

A confusão seria esquecida, mas o talento de Rogério Ceni não. Isto já estava na história do Sinop e seria observado por um olheiro do São Paulo. "Foi um diretor que trouxe ele lá de Sinop. O São Paulo sempre teve olheiro em todo lugar e alguém falou para o diretor olhar esse goleiro", relembra Gilberto Morais, que atualmente é gerente operacional do São Paulo e foi o primeiro a testar Ceni no Morumbi. O diretor citado era o conselheiro José Acras, que entrou em contato com o Sinop e intermediou a primeira avaliação do jovem campeão mato-grossense.

Durante o teste, Gilberto foi outro que viu timidez em Rogério Ceni: "ele era quieto, porque é normal isso com quem vem do interior para o São Paulo". Mas ele também enxergou o talento do goleiro. "Testei ele no campo onde hoje é a sala de imprensa e fiz como eu fazia com todos. E na hora a gente notou que ele já era diferenciado, porque o goleiro novo, de 17 anos, normalmente quer voar, quer pular e fazer defesas bonitas. Mas ele já era centrado, apesar da pouca idade. Só caía quando era necessário, tinha uma característica de goleiro europeu", observou Gilberto, que tem orgulho da descoberta, mas não exibe vaidade. "Fui eu, mas poderia ter sido qualquer um. Todo mundo aprovaria o Rogério".

Uma vez dentro do São Paulo, Ceni voltou a mostrar precocidade. "Ele chegou para ser avaliado para o juvenil, mas acho que pulou etapas. Foi direto para os juniores", relembra Gilberto. O problema é que Ceni estava "sozinho". Seu pai, que tinha lhe acompanhado para fazer os testes, voltou para Sinop. O goleiro estava longe da família, morando no Morumbi e ficou na reserva de Zetti durante anos. O São Paulo não queria lhe emprestar e por isso algumas ideias negativas surgiram. "No começo ele ficou querendo ir embora, desistir. Pensou em voltar, se sentiu sozinho, mas a gente foi aconselhando ele a ficar", contou Eurydes.

Ele ficou. Para o bem da torcida são-paulina ele desistiu de largar tudo. Virou titular, fez grandes defesas e gols mais incríveis ainda. Conquistou títulos, o mundo, resistiu ao assédio da Europa e entrou para a história. O menino tímido e descompromissado virou um símbolo de liderança e é idolatrado. Está lesionado, mas não mudou. "Ele ficou meio chateado quando sofreu lesão, mas está se recuperando bem", contou o pai. Já Gilberto aposta que seu pupilo ainda tem mais a oferecer para o São Paulo. "Tenho acompanhado o esforço dele para voltar. Ele treina o dia inteiro aqui, direto. Para ele não tem sábado e nem domingo. Ainda vai bater outros recordes pelo São Paulo", disse. O Rogério Ceni que todos conhecem já provou que é capaz disso.

Rogério Ceni e a faixa de campeão: o começo de carreira já indicava uma trajetória vitoriosa
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Foto: Comunique / Divulgação
Fonte: Terra
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