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Promessa do Fluminense, João Pedro tenta seguir trilha de Richarlison

Cobiçado por grandes da Europa, garoto de 17 anos deseja ir para Watford e depois alçar voos mais altos

18 jul 2019 - 04h42
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João Pedro, a mãe, o padrasto e a avó estão empenhados em aprender inglês. Matriculados em um curso desde o início do ano, intensificarão as aulas neste segundo semestre para evitar sobressaltos na Inglaterra. Se as coisas continuarem do jeito que estão, João Pedro vestirá a camisa do Watford em janeiro e a família se mudará para a cidade de mesmo nome, que fica pertinho de Londres.

O garoto de 17 anos foi negociado pelo Fluminense com o time inglês em outubro do ano passado por um valor que pode chegar a 10 milhões euros (R$ 42,3 milhões). O acordo foi feito antes de João Pedro subir para o profissional, graças ao bom desempenho dele na base, onde fez 38 gols em 2018.

O Fluminense talvez não imaginasse que o garoto também arrebentaria precocemente no profissional. Neste ano, ele marcou nove gols em 17 jogos e chamou a atenção de grandes clubes europeus. O Manchester City enviou representante ao Rio, o Liverpool foi investigar a vida do garoto em Ribeirão Preto, onde atuou até os 11 anos, e o Barcelona estaria de olho.

Quem quiser contratar João Pedro agora terá de pagar a multa rescisória ao Watford de 20 milhões de euros (R$ 84,6 milhões). No que depender da vontade do garoto e da mãe, o destino vai ser mesmo o modesto time inglês. O plano da família é seguir a trilha traçada por Richarlison, que deixou o Fluminense em 2017 rumo a Watford e recentemente foi campeão da Copa América com o Brasil.

"A gente tem a preocupação de vê-lo jogar. O Watford trabalha para que ele se enquadre nas regras da Premier League. Imagina vê-lo na Liga Inglesa aos 18 anos?", disse a mãe Flavia Junqueira em conversa com o Estado. Ela teme que a ida do filho para um grande clube possa acarretar em empréstimo para outra equipe de menor expressão na Inglaterra. "Não gostaria de vê-lo emprestado para um time de terceira divisão só para ganhar bagagem. Queremos dar um passo de cada vez", diz.

Flavia e o marido estiveram no mês passado em Watford. Conheceram o clube, se reuniram com o presidente e deram uma volta pela cidade de 80 mil habitantes. A diretoria inglesa se prontificou em auxiliar na escolha da casa. "Eles já enviaram algumas opções. Estamos analisando tudo. Só de falar nisso já me deixa nervosa", admite.

CATAR?

João Pedro, aparentemente, está bem mais tranquilo do que a mãe. Apesar de os dois terem os mesmos gostos para tudo, como ela diz, o garoto de 17 não demonstra ansiedade. Futebol europeu, seleção brasileira, Copa do Mundo, tudo isso está em um futuro distante para ele. "Quando é essa Copa no Catar?", rebateu ao ser questionado pelo Estado sobre a possibilidade de disputar o Mundial de 2022. O assessor ao seu lado lembrou que será daqui a três anos. "Ah, tá. Nada é impossível então. Quem sabe não tem uma brecha no time?", comentou com jeito adolescente de quem não está nem aí para o mundo.

Em campo ele é outro. João Pedro é o camisa 9 que a seleção brasileira não teve na Copa América. Jogador que faz gol de tudo quanto é jeito. João Pedro já coleciona grandes atuações no profissional. Em junho, marcou de bicicleta um gol que garantiu o empate por 2 a 2 para o Fluminense na partida com o Cruzeiro pela Copa do Brasil. O resultado levou o jogo para os pênaltis, mas o time carioca foi eliminado - com um erro na cobrança de João Pedro, diga-se.

Mas sua noite fenomenal aconteceu meses antes, em maio, quando marcou três gols e deu uma assistência na goleada por 4 a 1 sobre o Atlético Nacional, pela Sul-Americana. Foi o jogo que ligou o sinal de alerta dos clubes europeus. O Watford, no entanto, já estava de olho desde a base.

INSPIRAÇÃO PATERNA

O desejo de se tornar jogador de futebol veio por causa do pai, o ex-volante Chicão, que fez parte do Botafogo-SP, vice-campeão paulista em 2001, naquele time que tinha Doni como goleiro e Leandro, no ataque. Ambos seriam contratados pelo Corinthians, que ficou com o título na ocasião.

O pai de João Pedro não teve o mesmo destino dos companheiros. Chicão, em 2002, foi preso por coautoria em um homicídio. Ele ficou por nove anos na cadeia e perdeu a infância do filho. João Pedro e a mãe não gostam de lembrar desta história. Flavia contou apenas que já estava separada de Chicão quando aconteceu o crime e que tratou de seguir a vida.

Em Ribeirão Preto, João Pedro teve uma infância de classe média. A mãe, graduada na universidade, trabalhava com vendas, tinha casa própria e o garoto estudava em uma escola particular. Desde cedo com a meta de se tornar jogador de futebol. Flavia lembra que ele treinava sozinho entre a aula e a escolinha de futebol.

Quando completou 11 anos, surgiu o convite para treinar na base do Fluminense. Foi o divisor de águas para a família. "Naquele momento, vi que já havia conquistado meus sonhos. Me formei na faculdade, trabalhava, tinha sido mãe. Conversei com minha mãe e ela também nos incentivou. Resolvi acreditar no sonho dele", contou a mãe do garoto.

Flavia conseguiu transferir o emprego para o Rio e sua mãe ficava com João Pedro em casa durante o dia. Mas depois de um anos as coisas complicaram. A avó de João voltou para Ribeirão Preto, Flavia teve de largar o emprego para conseguir dar atenção ao filho, a casa no interior paulista ficou sem inquilino, as contas ficaram no vermelho e o empresário da época aconselhou que a solução era Flavia procurar um marido. "Foram as últimas palavras que tive com ele", disse Flavia.

"O João Pedro tinha um tênis e um calça jeans. As refeições eram o básico. 'Mãe, quero Danone'. 'Não tem, filho'. 'Mãe, quero isso'. Não tinha nada. Foi então que pedi ajuda ao Fluminense", relembra.

Em 2014, Flavia foi conversar com Marcelo Teixeira, então coordenador da base do clube, que se comoveu com a situação, e conseguiu uma ajuda para a alimentação. A Adidas, que fornecia material esportivo para o Fluminense, fez o primeiro contrato com o garoto. As coisas começaram a fluir. Um pouco depois, ao completar 16, em 2017, João Pedro assinou contrato como profissional.

No ano passado, João Pedro começou a temporada na reserva até que Marcelo Veiga, o atual coordenador da base, viu que ele estava na posição errada. Até então, o filho da Flavia jogava pelas pontas. O centroavante titular se machucou e o João Pedro o substituiu. De junho, quando entrou pela primeira vez, até outubro, fez 31 e foi negociado com o Watford.

Até dezembro fez mais sete e conseguiu a vaga para o profissional na temporada seguinte. "Hoje é a posição que me sinto mais confortável. Mas se precisar faço ponta também", disse. "Quero sempre evoluir. Disputar Champions League, Copa e ser o melhor do mundo um dia. Quem sabe?". O primeiro passo é organizar a rotina e dar duro no inglês.

Estadão
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