CAPA ESPORTES
 FUTEBOL
 FÓRMULA 1
 BASQUETE
 TÊNIS
 VÔLEI
 MAIS ESPORTES
 COLUNISTAS
 RESULTADOS
 AGENDA




 SHOPPING
Clique aqui!



FERNANDO SANTOS
Sexta, 12 de janeiro de 2001
terraesportes@terra.com.br

A resposta de Karina


Como prometido, a coluna abre espaço para a mais brasileira das jogadoras argentinas, Karina. A pivô do Jundiaí/Quaker foi criticada aqui pelo ex-jogador Marcelo Chagas, que hoje mora na cidade paulista. Ele condenou a maneira como ela administra e atua pela equipe, em carta que foi divulgada na coluna "Reação mexicana".

Segundo Karina, em entrevista por telefone, Marcelo Chagas, também conhecido por Mexicano, estava "muito mal informado" pelo trabalho esportivo e social desenvolvido em Jundiaí. "Eu e as jogadoras da equipe fomos conversar com ele, saber de onde ele tirou tantas informações falsas. Exigimos dele uma retratação, do contrário todas nós e o técnico Antônio Carlos Barbosa iríamos processá-lo pelas mentiras e declarações sem provas que ele prestou", disse.

Karina conta que mantém em Jundiaí cerca de 1.000 crianças nas escolinhas de basquete, além de uma equipe de cadeira de rodas. "Nós somos mais do que uma equipe de basquete, existe todo um projeto em desenvolvimento. Algo que ele não conhecia e, por falta de informação, falou um monte de besteiras."

Criticada por estar "jogando mal", ao dividir a função de pivô e administradora, Karina levou a Marcelo Chagas as estatísticas do Campeonato Paulista: ela é a segunda cestinha e também a segunda em rebotes. Sua equipe garantiu vaga na semifinal por antecipação. "Se esses números não servem para mostrar como estou jogando, então ele não entende nada de basquete."

A argentina naturalizada brasileira concorda com as críticas feitas pelo ex-jogador à estrutura atual do basquete brasileiro. "Ele tem razão quando fala de nossos dirigentes, da falta de apoio aos clubes. Veja o caso das jogadoras do Vasco, que estão há três meses sem receber salários. É uma situação bastante preocupante, que não pode continuar dessa forma."

Com a experiência de quem está acostumada a bater de porta em porta em busca de patrocinadores, Karina acha que a única saída é a aprovação da nova lei de apoio fiscal ao esporte. "Sem ela, os patrocinadores não vão investir. E, sem eles, não só o basquete, mas todos os esportes irão sofrer." Ela acredita também que já é hora de a Confederação Brasileira de Basquete fazer alguma coisa. "O basquete está sendo muito mal-tratado pela CBB."

Karina revelou que na próxima segunda-feira terá uma reunião com os executivos da Quaker. "Vamos decidir se o patrocínio será mantido, se continuaremos usando Quaker ou Pepsi (nova detentora da marca). Mas já temos duas grandes multinacionais interessadas no nosso projeto. Afinal, temos cinco jogadoras e o técnico da seleção nas Olimpíadas de Sydney. É um trabalho sério, e que está dando resultado."

Com a resposta de Karina, a coluna cumpre a sua missão de deixar um espaço democrático para a discussão dos problemas do basquete, além de estar aberta a propostas que ajudem o esporte. O ex-jogador Marcelo Chagas também mandou nova mensagem, que será relatada na próxima coluna, no domingo.

Reação mexicana
Segunda, 8 de janeiro de 2001

Após relatar o drama do início do novo século, com equipes paulistas (Santo André e Jundiaí) sendo fechadas por falta de patrocínio, essa coluna recebeu uma mensagem que mostra bem o drama que afeta não os clubes, mas os jogadores, que são as maiores vítimas dessa estrutura falida. A carta foi enviada pelo ex-jogador Marcelo Chagas, o Mexicano. O relato abaixo é mais do que um desabafo, mas uma prova viva da dura realidade do nosso basquete:

"(...) Já fui jogador profissional, se é que aqui no Brasil podemos chamar os basqueteiros de profissionais, com exceção de alguns. Mas conseguia viver do basquete. Infelizmente rompi o tendão patelar a uma semana do início do Campeonato do México e acabei abrindo um bar aqui na cidade de Jundiaí chamado "Café Tequila".

"Tive técnicos como Dodi no Sírio, Edvar no Monte Líbano, Lula no Palmeiras e Hebraica e o mestre Vlamir Marques. Hoje, com 31 anos, continuo vendo as mesmas pessoas, os mesmos jogadores e as mesmas trapalhadas das federações."

"O que mais me chamou a atenção da sua coluna foi com relação à Karina, a qual é citada com sofrimento e como uma pessoa que faz tudo pelo basquete. Com o pouco contato que tive aqui com as jogadoras, posso assegurar que a única beneficiária nesse vai e vem de patrocinadores é esta pivô que, para mim, pelo fato de ser uma dirigente ao mesmo tempo, não está jogando nada e, como administradora, diretora, técnica etc... do time de Jundiaí, vale ressaltar que ela é péssima, péssima com as suas companheiras também, que não podem nem abrir a boca, pois a patroa joga junto. O Barbosa a mesma coisa, pois com a falta de times (daqui a pouco só haverá a seleção) e de alguém que banque o seu salário, melhor deixar o barco correr, só sei que para a cidade de Jundiaí o basquete da Karina e seu time não trouxeram nenhum benefício."

"Quanto ao basquete masculino só posso dizer que nem no Campeonato de Pré-Veteranos (se é que podemos chamar de pré-veteranos jogadores de 25 anos) existe organização, espírito esportivo e honestidade. Pois os times da capital (aqueles museus que você chamou na sua coluna) insistem em tapetão e coisas do tipo para prejudicar uma ou outra equipe. Cito isso porque na minha época de juvenil, 12 anos atrás, existia e com certeza ainda existe aquela condição de que filho de diretor, parente, conhecido etc... tem preferência para estar na equipe. Com isso vários jogadores do interior e mesmo da capital acabam desistindo deste esporte maravilhoso que bem poderia estar mais dentro de cada brasileiro."

Esta aí um depoimento claro do momento crítico de nosso basquete. Que mostra não apenas as dificuldades dos clubes, mas, o que é muito mais importante, dos atletas. Afinal, sem eles, o que seria de nosso esporte? Aproveito para deixar esse espaço livre caso a jogadora Karina e o técnico Antonio Carlos Barbosa, citados no texto, queiram dar a sua versão. Ou para alguém que tenha alguma solução para o futuro do nosso pobre basquete.

Bryant, claro
Sexta, 5 de janeiro de 2001

O novo século começa mal para o basquete feminino paulista. O Santo André acaba de perder o patrocínio da Arcor e o mesmo deve acontecer com o Jundiaí, que deve ficar sem o apoio financeiro da Quaker, a ser anunciado na próxima semana.

Essas são as duas principais equipes do que restou do Campeonato Paulista, que caminha cada vez mais para o buraco. Há muito tempo que a situação é crítica, e agora não se sabe nem se será possível realizar o torneio em 2001. Haverá times suficientes?

Sem falar que o campeonato de 2000 ainda não terminou. Depois das festas de fim de ano, as equipes voltam para as disputas das semifinais, em clima de total abandono.

Afinal, as jogadoras sabem que ficarão desempregadas em breve. Já está mais do que na hora de os dirigentes repensarem a estrutura dos clubes. Todos eles são reféns dos patrocinadores.

Santo André vai pedir socorro à prefeitura, que já deve ter problemas sociais demais para resolver do que sustentar um time de basquete.

Para Karina, sem a aveia no leite, será hora de recomeçar a velha batalha por um novo patrocinador. Aliás, é o que mais ela tem feito nos últimos anos: fica batendo de porta em porta das empresas em busca da sua sobrevivência. O que pode explicar a sua queda de rendimento, já que parece não ter mesmo tempo para treinar e se concentrar em jogar. Mal termina uma temporada, e já tem de correr atrás de um novo time. Jundiaí e Santo André são apenas mais duas vítimas dessa estrutura falida.

Portas fechadas
Quinta, 4 de janeiro de 2001

Afirmar que Kobe Bryant, aos 22 anos, é melhor do que foi nessa idade Michael Jordan rendeu a essa coluna diversas críticas de internautas. Ok, respeito a opinião contrária, mas continuo acreditando que o futuro rei da NBA veste a camisa 8 amarela e violeta.

E foi assim, com status real, que Kobe Bryant entrou no novo século, eleito o melhor jogador do mês de dezembro do campeonato. Com mais de 30 pontos de média por partida e líder entre os cestinhas, ele mereceu o prêmio.

Para comemorar a escolha, Bryant brilhou quase que solitário na estranha vitória do Lakers sobre o Utah Jazz, na noite de terça-feira, em Los Angeles. O jogo foi mesmo pra lá de esquisito. Para ter uma idéia: no intervalo, o Lakers vencia por míseros 33 a 28.

Foi um festival de erros. Até bandejas fáceis, sem marcação, foram desperdiçadas. John Stockton e Karl Malone tiveram uma de suas piores atuações na carreira. O Lakers conseguiu se manter à frente do placar graças à força de Shaquille O'Neal, que dominou o garrafão, tanto na defesa quanto no ataque. Até ser eliminado, com seis faltas e duas técnicas, a seis minutos do final.

Com Shaq anulando as jogadas de garrafão do Jazz, sobrou espaço para Kobe brilhar. Ele ficou, mais uma vez, acima de sua média, com 31 pontos, e foi o responsável por duas enterradas geniais. Na primeira, ele invadiu por baixo da cesta, evitou a marcação de Greg Ostertag e, de costas, cravou a bola. No final da partida, ele recebeu um passe preciso de Isaiah Rider para um ponte aérea, qua liquidou com a última reação do time de Salt Lake City.

Foi uma pequena, mas significante demonstração do talento de Bryant. Gostaria de insistir: ele tem só 22 anos, já conquistou um título de campeão, não terá mais a pressão de ter de provar sua capacidade a cada temporada. O caminho está aberto para o primeiro reinado deste milênio.

2001 reflexões
Sábado, 30 de dezembro de 2000

A virada do século não deve ser motivo de comemoração para o basquete brasileiro, nem tão pouco de lamentações. É o momento de refletir o que melhor aconteceu nos últimos anos, e as lições que deveriam, mas não foram aprendidas.

Os mais exaltados estão vibrando com a classificação do Brasil em quarto lugar no ranking da Fiba, em razão das 13 medalhas (3 de ouro) em Olimpíadas e Campeonatos Mundiais.

Méritos para gente como Kanela, Wlamir, Oscar, Paula, Hortência, Janeth... Poderiam ser muito mais, claro. Mas o que mais chama a atenção é como o basquete brasileiro não soube, nesses anos todos, transformar suas glórias numa estrutura capaz de perpetuá-las e criar verdadeiras gerações de campeões.

Afinal, chegamos ao final do século como se estivéssemos engatinhando no basquete, e não, como deveríamos ser, uma potência internacional. Ou alguém acha que essa classificação no ranking é capaz de assustar em competições internacionais?

Hoje, apenas a seleção feminina pode causar medo em torneios lá fora, já que o time masculino, há algum tempo, está longe do primeiro escalão. Também não é o caso de jogar tudo no lixo e partir do zero.

Nada disso. O momento é de elevar o modelo do nosso basquete, que não pode mais ser encarado como um esporte amador. É preciso um plano de profissionalização e não apenas de captação de patrocinadores, algo que, mais claro do que nunca, não é a melhor saída.

O patrocínio precisa ser um complemento de uma estrutura moderna para o século 21. Viver às custas das empresas é um alto risco, que hoje está sendo vivido na pele principalmente pelos clubes paulistas.

No Rio, com fartura de investimento, há maior fôlego. Mas até quando? Mais do que um projeto para o ano 2001, o basquete necessita, com urgência, de um plano se salvação para o próximo século.

Do contrário, vamos continuar vivendo, e torcendo, pelo surgimento de novas pedras preciosas. Sem elas, corremos o risco de não ter nada para comemorar na virada de 2100.

Aproveito essa oportunidade para desejar a todos os internautas que acompanham essa coluna muito mais do que um feliz ano novo: feliz século novo a todos! Afinal, como diria o amigo e colunista de Fórmula 1 Flávio Gomes, "não é todo dia que se pode desejar um século de felicidades".

Aos Marcelos
Quinta, 28 de dezembro de 2000
Essa coluna é dedicada a dois internautas, ambos chamados Marcelo, a quem agradeço pela audiência. Ao primeiro, Marcelo Lewkowitz, devo mais do que um agradecimento, mas um pedido de desculpas, por um erro grosseiro cometido na coluna "Melhor que Jordan".

O erro, caro Marcelo, infelizmente para você, não foi ter considerado Kobe Bryant melhor do que Michael Jordan aos 22 anos. Uma questão polêmica, sem dúvida, mas que este colunista não quis se posicionar em cima do muro, nem se aliar à viúvas do rei. O erro, grave, foi quando disse que, nessa idade, Jordan ainda era um astro universitário.

Mais uma vez, mês desculpo com o senhor Lewkowitz e com os demais internautas. Como bem observou o atento leitor, naquela época, em 1985, Jordan já estava no seu segundo ano como profissional do Chicago Bulls, um ano difícil, devido à mais grave lesão de sua carreira, com uma fratura no pé.

O internauta, que não aceita a defesa de Bryant, lembra com precisão os primeiros números da carreira de Jordan: média de 28.2 pontos em seu primeiro ano no Chicago, contra 22.7 no segundo, quando sofreu a contusão, mas que chegou a 43.7 nos playoffs. Uma marca digna de um rei.

Naquela época, Jordan não tinha um time suficiente para levá-lo ao título. Algo que Bryant soube desfrutar bem na última temporada, ao lado de Shaquille O'Neal e do técnico Phil Jackson. Por tudo isso, por ter conquistado um título tão cedo e pelo que está jogando, acredito que Kobe tem, aos 22 anos, mais jogo que Jordan na mesma idade. E uma oportunidade rara de superar, ao longo da carreira, o próprio rei. Algo que não se encerra aqui. Pelo contrário, será tema de muitas e muitas discussões, algo como quem foi melhor, Pelé ou Maradona.

O outro internauta a quem gostaria de agradecer é Marcelo Picka. Ele não concorda quando escrevi que o Vasco termina o século como a maior potência do basquete brasileiro. Ele cita os exemplos de Sírio, Monte Líbano e Rio Claro que, de fato, foram grande potências, mas hoje, caro Marcelo, é preciso admitir que não passam de peças de museu.

Foram clubes brilhantes, que conquistaram títulos importantes, mas infelizmente não deram continuidade ao trabalho. Algo que o Vasco se propos a fazer. Deixei claro naquela coluna que não considero o plano vascaíno como o ideal. Afinal, é fácil montar times fortes com dinheiro de patrocinador. O duro é transformar isso num projeto a longo prazo, como faz brilhantemente a cidade de Franca.

Mas essa é a realidade do nosso basquete no final do século 20, refém de patrocinadores. O Vasco promete não se dedicar apenas aos times de ponta, mas formar uma escola, como faz no futebol. Todos nós torcemos para que isso possa ser uma luz para o futuro de nosso basquete. É, no momento, o que temos de melhor. O que não significa que seja o melhor de todo o século.

Melhor que Jordan
Quarta, 27 de dezembro de 2000

Aos 22 anos, Kobe Bryant é melhor do que Michael Jordan foi quando tinha a mesma idade. Naquela época, início dos anos 80, o rei era apenas um astro do basquete universitário e estava longe de conquistar o seu primeiro título da NBA, algo que o garoto prodígio já tem.

Dizer que Kobe será melhor que Jordan, bem, isso só será possível ao final de sua carreira, digamos, no próximo século, em dez anos ou mais. Mas é indiscutível que seu potencial permite acreditar que um novo rei está a caminho do trono.

Veja, são apenas 22 anos. Michael Jordan ganhou seu primeiro título aos 28! Até chegar à idade maturidade, onde os grandes se tornam gigantes, Bryant ainda tem seis anos pela frente. Com potencial para superar os seis títulos de MJ.

Com dois meses da temporada 2000-2001, Kobe já é o cestinha com quase 30 pontos de média por partida. É o maior candidato a MVP, apesar de o Los Angeles Lakers estar longe do time amedrontador da temporada passada. Motivo: a irregularidade causada pela troca de jogadores. E é normal um time campeão reduzir o ritmo. Isso aconteceu até mesmo com o Chicago Bulls de Michael Jordan.

O momento, por enquanto, é de Kobe. Nos playoffs, será a vez dele provar se pode mesmo ser comparado ao rei, quando terá a ajuda dos experientes Shaq e Ron Harper. Até lá, a hora é de se deliciar com o novo astro.

Nesta temporada, Bryant passou a ter uma função mais agressiva. Na maior parte do tempo, ele deixa de jogar como ala-arremessador e passa a ala-de-força, mas próximo da cesta. Isso lhe dá inúmeras oportunidades, principalmente nos rebotes e na tradicional ponte-aérea. Ele já tem uma coleção invejável de grandes enterradas. Como um certo Michael...

Kobe também está brilhante nos dribles. Não é um exagero dizer que ele pode ser chamado de Garrincha do basquete. Em seus últimos jogos, seus marcadores, muitas vezes, têm ficado literalmente no chão. Como um certo Michael fez com Byron Russel no memorável lance decisivo do jogo final da Era Jordan.

O brilho de Kobe acaba de lhe render o prêmio de melhor jogador da semana. Muito pouco para quem está arrebentando. E poderia ter sido melhor, não fosse um erro grosseiro da arbitragem no jogo contra o Portland, na segunda-feira de Natal, quando Bryant, com três pontos atrás, partiu para a cesta a sete segundos do final, marcou os pontos e ainda sofreu a falta. Seria o empate, não fosse o juiz que deu a falta de ataque. Talvez essa seja a única maneira de parar Kobe hoje em dia. Ou como diria o juiz de futebol Oscar Roberto Godoi, só mesmo à bala.

 


 

 


  Coluna do Internauta   Diário de Sydney   Juarez Soares
  Daniela Giuntini   Fernando Santos   Wanderley Nogueira