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DIÁRIO DE SYDNEY
Segunda, 2 de outubro de 2000

COB usa dois pesos e duas medidas

O Brasil terminou a última Olimpíada deste século com apenas 12 medalhas - seis de prata e seis de bronze. Ficou atrás de países como Indonésia, Cazaquistão, Moçambique e Azerbaijão, potências olímpicas para ninguém botar defeito.

Mas se na disputa pelo pódio houvesse medalha de ouro em críticas, certamente o Comitê Olímpico Brasileiro (COB), sob o comando de Carlos Arthur Nuzman, seria praticamente imbatível na classificação geral.Deixaria os Estados Unidos na lanterna.

Não foram poucas as reclamações de atletas que ecoaram pela Vila Olímpica. A grande maioria condenou o pouco caso como o esporte é tratado, a falta de apoio do governo e do COB. Não escapou nem o enxoval distribuído pela Olympikus, patrocinadora oficial da delegação brasileira.

O material variou de acordo com a cara do freguês, ou seja, de acordo com as possibilidades de medalha. "Os atletas de ponta foram privilegiados. Receberam mais roupas que os demais", revelou um dos integrantes do segundo time, que pediu para não ser identificado com medo de sofrer represálias e acompanhar os Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004, apenas pela televisão.

Também no tratamento médico os queridinhos do poder receberam mais atenção. Um bom exemplo de como imperou a política de dois pesos e duas medidas foi dado logo na abertura da competição. O mosca-ligeiro José Anastácio de Albuquerque, o Dedé, tetracampeão brasileiro e vice sul-americano, ficou fora da festa por causa de um simples par de sapatos. A Olympikus se esqueceu de enviar um ao atleta, que calça 35. Mandou um autêntico pé-de-pato ao pugilista.

Na entrega das medalhas de prata ao revezamento 4 x 100 m, mais uma prova do descaso como é tratado o esporte. O técnico da equipe, Jayme Netto, disse que não se poderia esperar mais de uma equipe que treina numa pista tão ou mais esburacada que as ruas de São Paulo. "Ela é muito perigosa, não tem a mínima condição."

Já o velocista Claudinei Quirino preferiu trocar o oba-oba por um apelo ao presidente FHC. "Não sei se ele vai me ouvir, mas não posso ficar calado. Quero apenas uma pista adequada para poder treinar com meus companheiros."

A liberação de uma verba foi solicitada várias vezes antes dos Jogos. Ninguém deu bola. Nem o governo, por meio do Indesp, e muito menos o COB. E o custo da reforma não ultrapassa R$ 500 mil, uma quantia irrisória se comparada à da nau Capitânia, que consumiu R$ 4 milhões e naufragou na festa dos 500 anos do descobrimento do Brasil.

Nuzman comanda festival de mordomias
Com a mesma prepotência que caracterizou o técnico Luxemburgo ao longo dos dois últimos anos à frente do futebol, o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Carlos Arthur Nuzman, anunciou que as 15 medalhas de Atlanta marcavam o início do nascimento de uma grande potência olímpica.

"Ganhamos mais medalhas que o Japão e o Reino Unido. E vamos colocar muito mais no peito em Sydney", prometeu o cartola, quatro anos atrás. Sempre com o ar de deus do esporte, ele embarcou para a Austrália afirmando que a delegação era menor em relação à de Atlanta porque havia trocado a quantidade pela qualidade. Todo mundo viu o resultado. Apenas 12 medalhas.

Como o COB levantou R$ 24 milhões em patrocínios, cada uma custou, a grosso modo, R$ 2 milhões. Se as medalhas foram escassas nas competições, o mesmo não se pode dizer do festival de mordomias bancado pelo COB. Embora Nuzman negue, houve farta distribuição de credenciais aos convidados do mandachuva olímpico.

Ex-atletas sem nenhuma função, filhos de autoridades de Brasília e afins desfilaram orgulhosamente pelo Parque Olímpico, enquanto técnicos e familiares de atletas foram obrigados a encarar filas nas bilheterias ou recorrer aos cambistas para poder entrar nos ginásios e estádios.

Nuzman incluiu na delegação de mais de 200 pessoas o psiquiatra Roberto Shinyashiki. Contratado para ajudar os atletas, ele mais perturbou a cabeça da turma do que ajudou. Numa das reuniões de grupo, pediu para o pessoal lavar a roupa suja e por muito pouco não houve troca de socos e pontapés, provocando uma crise que poderia ter custado uma das medalhas mais importantes do pais na última Olimpíada do milênio.

Sansão brasileiro grava CD
De volta ao Brasil, o saltador Nelson Ferreira Júnior aproveitará as férias para realizar um sonho: gravar o quarto CD. Fã do rock-pop e de blues, sem ignorar a música sertaneja, o atleta já foi baterista das bandas 'Lorraine', de Presidente Prudente, e 'Belos Maldidos', de São Paulo.

Nos momentos de folga em Sydney, o cabeludo Nelson esboçou algumas letras e pretende concluí-las com a ajuda de amigos. "Sempre fui muito ligado em som. Gosto de solo de guitarra e das letras de Renato Russo, Cazuza e Raul Seixa", disse o saltador, que atribuiu a uma contusão o fraco desempenho em Sydney. "Só não desisti da prova porque meu técnico, Aristides Junqueira, pediu. Não tinha condições para nada. Sentia muitas dores no tornozelo."

Nelson é considerado um galã das pistas pelos companheiros. Sempre provoca frisson na mulherada pelo porte físico e longos cabelos, que pretende deixar crescer até a cintura. "Nos shows, elas chegam a beliscar; no atletismo, são mais discretas. Pedem um autógrafo e uma foto", afirmou o atleta, 27 anos, pai de Aline e Fernanda.

Recém-separado, ele não pretende investir tão rápido em um novo romance. "Tenho medo de sofrer outra decepção."

Iatistas despacharam meteorologista
Como os ventos que sopram na Austrália são mais traiçoeiros que a maioria dos políticos brasileiros, os integrantes da equipe de iatismo do Brasil não quiseram correr riscos e contrataram um meteorologista da Nova Zelândia para ajudá-los na estratégia das provas.

O sujeito, porém, cometeu tantos erros, que a turma achou melhor ignorar suas previsões. "Ele não acertou uma. Decidimos, então, entrar no mar com a cara e a coragem", afirmou o sempre bem-humorado Marcelo Ferreira, proeiro de 120 kg de Torben Grael na classe Star.

Ele aproveitou também para dar uma alfinetada no comportamento da imprensa, que só se preocupa com a turma de velejadores em grandes competições. "É uma coisa interessante, o pessoal lembra da gente apenas na época de uma Olimpíada. Na verdade, até acho que isso é bom. Quando volto para casa, posso andar na rua tranqüilamente, sem ser reconhecido. Fico meio sem graça ao receber um pedido de autógrafo", disse Marcelo.

Bronze com Torben em Sydney, o proeiro afirmou ter esperanças que o esporte ganhe mais adeptos no país, principalmente entre as mulheres. "Eu, o Torben e o Scheidt não precisamos de ajuda, pois já estamos velhinhos. Deve-se, agora, apoiar o iatismo feminino, que necessita crescer no Brasil", pediu o bonachão Marcelo.

Frase do dia
"O hipismo é bem diferente de uma escola. Um oito é excelente na faculdade; no picadeiro, o melhor é tirar zero"
- General Santa Cruz, chefe da equipe brasileira de hipismo em Sydney, antes de o Brasil cair literalmente do cavalo com Rodrigo Pessoa e Baloubet du Rouet.

 

 

  Coluna do Internauta   Diário de Sydney   Juarez Soares
  Daniela Giuntini   Fernando Santos   Wanderley Nogueira