Armando Marques, quando era juiz de futebol, sempre foi arrogante, autoritário, metido a besta. Cometeu erros a favor sempre dos clubes mais poderosos em partidas decisivas.
Foi assim quando validou o gol de mão do ponta Wilton, do Fluminense. Quando invalidou um gol de Leivinha na decisão do Campeonato Paulista contra o São Paulo. Foi assim quando anulou um gol da Portuguesa numa decisão contra o Santos, na Vila Belmiro. Arrumou também uma lambança quando errou na contagem dos pênaltis numa decisão entre Santos e Portuguesa, no Morumbi.
Tinha a mania de chamar os jogadores pelo nome de batismo. Só para citar um exemplo: Pelé não era Pelé, era Edson. Quando queria advertir um jogador, se posicionava com o dedo em riste, mandava que o atleta colocasse as mãos para trás, como se fazia antigamente no grupo escolar.
Na única Copa do Mundo que apitou, levou em sua bagagem essa mania de grandeza. Quis adotar o mesmo comportamento frente aos jogadores europeus. Deu-se muito mal. Sua atuação na Copa foi um desastre.
Mas Armando Marques sempre foi muito jeitoso, sabia se aproximar dos poderosos. Bajulador, um puxa-saco. Foi assim que se aproximou de João Havelange. Essa amizade fez com que sua carreira no futebol continuasse depois de sua aposentadoria como juiz.
Tanto assim, que até antes de ontem ocupava o importante cargo de diretor do departamento de árbitros da CBF. Mandava e desmandava. Chegou até a aparecer na televisão mandando um juiz, um de seus comandados, comer alfafa sem a menor cerimônia.
Agora, Armando Marques parece que cometeu um erro definitivo. Pressionou e obrigou o juiz Alfredo dos Santos Loebling a mentir no relatório do jogo entre Figueirense e Caxias. Como todos sabem, esse jogo terminou dois minutos e meio antes do tempo normal. A torcida do Figueirense invadiu o campo para comemorar a vitória antes que o tempo regulamentar tivesse se esgotado.
Loebling, ainda no campo, deu entrevistas dizendo que o jogo não tinha acabado, e que isso ele iria colocar no seu relatório. Não
colocou. Armando mandou que ele redigisse no relatório da partida
que o jogo já tinha terminado.
A consciência do juiz pesou. Angustiado, o árbitro procurou o
Superior Tribunal de Justiça Desportiva e contou a verdade para o
presidente do Órgão, Luís Zveiter. Ele foi advertido e suspenso por
trinta dias. Para a surpresa geral, desta vez as amizades de Armando Marques de nada lhe valeram. O diretor do Departamento de Arbitragem da CBF foi afastado do cargo.
Fico imaginando que esse foi apenas um caso que o torcedor brasileiro tomou conhecimento. Resta uma pergunta: quantas outras manobras indecentes, imorais, esse departamento não acobertou sem que ninguém soubesse? Pobre juiz Loebling. Pela sua fraqueza, deve ser mesmo punido. Acho que sua carreira chegou ao fim.
Quanto a Armando Marques, deve se recolher ao pijama listrado da aposentadoria. Não seja por outro motivo, por uma questão de higiene a bem do futebol brasileiro.