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Marcos Caetano
Domingo, 30 Setembro de 2001, 21h32
terraesportes@terra.com.br

Bambas e perebas


Noite de sábado em São Paulo. No improvável cenário da cidade que um dia foi chamada de “túmulo do samba” por Vinícius de Moraes, este colunista, carioca de Madureira, presenciou um dos mais emocionantes espetáculos de música de sua vida. No auditório lotado do Memorial da América Latina cantaram juntos os bambas Paulinho da Viola, Monarco, Casquinha, Elton Medeiros, Jair do Cavaquinho e Nelson Sargento, num show em homenagem ao centenário de Paulo da Portela e Clementina de Jesus. Todos esses gênios da raça integraram o elenco original do show Rosa de Ouro, que enfeitiçou o país nos anos 60.

Ver essa verdadeira seleção do samba em ação, muitos dos quais com mais de 80 anos de idade, me fez refletir sobre a própria origem da palavra seleção, ou seja: a escolha, a reunião, a escalação dos melhores. Muita coisa mudou no país desde aquelas apresentações do Rosa de Ouro, mas se há algo que definitivamente mudou para pior foram os critérios de convocação da Seleção Brasileira.

Tente imaginar, amigo leitor, a boçal distância que percorremos desde 1970 – onde João Saldanha e Zagallo tiveram a grandeza de manter no time todos os craques maravilhosos que possuíamos, mesmo que para isso meias como Rivellino, Tostão, Piazza e Clodoaldo tivessem que ser deslocados para posições de ataque ou defesa – até a mais recente e controversa convocação do Felipão. Entre essas duas listas, entre essas duas atitudes, está contida toda a história da decadência do futebol brasileiro. Saldanha e Zagallo sacrificavam até mesmo a tática para escalar os melhores. Felipão abre mão dos melhores para não ter que mudar sua tática – mesmo quando ela não está funcionando.

Nem mesmo o mais fervoroso adepto do futebol de resultados seria capaz de afirmar que Felipão, de fato, chamou os melhores. É quase impossível explicar a convocação dos limitados Cris, Eduardo Costa, Lúcio, Marcelinho Paraíba e Edmilson; dos inativos Dida, Ronaldinho e Ronaldinho Gaúcho; e de jogadores em péssima fase como Beletti e Vampeta. Ainda mais se tivermos em conta quem deixou de ser chamado para que eles jogassem. Gente talentosa e em muito melhor fase como Rogério Ceni, Julio César, Zinho, Roger, Rodrigo, Juninho Pernambucano, Pedrinho e, até para quem prefere jogadores de marcação, Fernando e Fábio Rochemback.

Fosse promotor de shows de samba, e nosso Felipão fatalmente barraria o Paulinho da Viola para escalar algum pagodeiro de cabelo pintado, daqueles conjuntos melosos que tocam música com letras vulgares e de duplo sentido. Nossa sorte é que, insisto, já estamos na Copa do Mundo – pois só jogaremos com times eliminados e desmotivados, dois dos quais dentro de casa. Os chilenos sequer convocaram os jogadores que atuam no exterior – e escolheram para técnico um sujeito que até então treinava um time que sequer sei dizer o nome. Só espero que vitórias sobre essas mangas de colete, como diria a Dona Eulália, não sejam alardeadas como a fatal e definitiva prova da superioridade da retranca sobre o futebol vistoso. Isso, não nos deixemos iludir, jamais funcionará na Copa do Mundo.

Mas se na Seleção o momento é de encarar adversários mais fáceis, no Campeonato Brasileiro acabou a hora do recreio. Os jogos entre os times mais tradicionais e os de menor torcida – não direi mais fracos, pois os resultados mostram que isso não é verdade – terminaram ontem. Daqui para a frente, só clássicos – o que significa dizer que jogarão entre si os quatro grandes clubes do Rio, os quatro de São Paulo, os dois de Minas e os dois do Rio Grande do Sul.

A tarefa vai ser muito mais dura, e quem não conseguiu até aqui sua vaga entre os oito vai ter que suar em dobro até o final da fase de classificação. Dentro dessa lógica, Palmeiras, Atlético Mineiro, Fluminense, Inter e São Paulo cumpriram seu papel, por terem ficado entre os oito. E melhor ainda estão São Caetano, Paraná e Atlético Paranaense, que mesmo tendo enfrentado todos os grandes clubes garantiram um lugar entre os primeiros colocados. Teoricamente, essas três equipes são favoritas para ficar com as vagas, pois daqui para frente só pegarão times de menor tradição.

Na situação oposta estão Flamengo, Corinthians, Vasco e Botafogo, que mesmo poupados dos confrontos mais duros, estão cada vez mais líderes... da parte de baixo da tabela. Só que como é mais fácil encontrar lógica num filme do Buñuel ou num quadro do Dalí que num campeonato de futebol, é bem possível que algumas dessas equipes encontrem seu melhor nível justamente contra os adversários mais tradicionais. Mas quem viu o Botafogo mantendo a tradição de perder quase todas em casa; o olé do Gama no Flamengo; a goleada do fraco Guarani no Corinthians; e o Vasco brigando com patrocinadores, com fornecedores de material esportivo, com Romário, com a CPI e com a televisão, custa a crer nessa hipótese.

Vamos torcer para que o que resta da temporada permita que Felipão e o Campeonato Brasileiro consigam separar mais claramente quem é bamba de quem não sabe sambar.

 

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