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Marcos Caetano
Segunda-feira, 03 Setembro de 2001, 17h34
terraesportes@terra.com.br

Laranjas tricolores


Tarde de sábado no Maracanã e lá estava eu renovando um hábito mais antigo que a própria memória. Jogo do Fluminense, estádio com bom público, calor e luminosidade que só o Rio de Janeiro sabe proporcionar e a companhia dos únicos amigos que, graças à paixão comum, sabemos que jamais deixaremos de rever: os amigos de arquibancada. A ordem natural do meu universo se apresentava, portanto, maravilhosamente dentro da mais pachorrenta e tranqüilizante rotina. Tudo como sempre foi, como sempre existiu, como eu sempre quis. Tudo. Tudo menos um pequeno detalhe. E esse detalhe se fez notar, robusto, inadiável, fatal, no exato instante em que o inverno de trinta e tantos graus começou a cobrar seu preço e eu senti sede.

Sede no Maracanã é algo que se trata, desde os tempos do Gravatinha, com um bom mate gelado. Pois foi exatamente naquele instante, quando eu decidi pedir ao vendedor um prosaico copo de mate, que pude constatar a novidade. Misturados à torcida do Fluminense, encontravam-se não os dois ou três habituais vendedores, mas milhares deles. Amigo leitor, no último sábado a torcida do Fluminense parecia abrigar alguma coisa como dez ou doze mil vendedores de mate. Confesso que por um instante cheguei a pensar que o Matte Leão havia sido comprado pela Coca-Cola, e que essa estaria usando o estádio carioca como ponto de partida para a conquista avassaladora do mercado mundial de bebidas. Mas não foi nada disso. O que meus olhos viram não foram multidões de vendedores de Matte Leão, mas sim um novo fenômeno das arquibancadas: a camisa laranja do Fluminense.

Os leitores de outros estados a essa altura já estarão indagando que relação pode haver entre o Fluminense Football Club e uma camisa laranja. Mas a relação já existe: quase todos os torcedores do Fluminense têm ido ao estádio com uma camisa laranja e amarela. É isso mesmo, amigo: a torcida não veste mais verde, grená e branco, mas laranja e amarelo. Não chega a ser absurdo um clube de futebol ter um terceiro uniforme, mesmo que com cores bem distintas das que tingem seus mantos históricos. Mas o caso do Fluminense é realmente peculiar. A começar pela divertida justificativa da cor laranja, que segundo seus defensores refere-se - é óbvio! - ao clube das... Laranjeiras. Só que há uma outra situação ainda mais insólita: é que a tal camisa auri-laranja, ainda que devidamente fabricada pelo fabricante autorizado da equipe e falsificada pelos falsificadores desautorizados da entrada do Maracanã, não conta com a aprovação do estatuto do clube. Ou seja, oficialmente a camisa não existe. Não existe, mas para quem esteve no estádio anteontem, parecia ser mais oficial até do que Marcos Carneiro de Mendonça ou os vitrais da rua Álvaro Chaves.

Tudo poderia fazer sentido se a camisa do Fluminense não fosse uma das mais belas e invejadas do futebol brasileiro. Mas a camisa ''das três cores que traduzem tradição'' é justamente uma das mais importantes do país. Seu estilo e disposição de cores - com uma faixa mais estreita a separar duas faixas mais largas - foram adotados por várias das maiores equipes do país, entre as quais Bahia, Santa Cruz, Grêmio, Sampaio Corrêa, Joinville, Fluminense de Feira de Santana, São Paulo e Botafogo de Ribeirão Preto. Todos esses clubes não são tricolores por acaso. São tricolores inspirados pelo mais antigo clube de futebol de uniforme tricolor no Brasil: o Fluminense. E eis aqui o meu ponto: por que será que a torcida do Fluminense estaria deixando 99 temporadas de história guardadas no armário para sair às ruas envergando o uniforme dos vendedores de mate?

Há várias respostas para essa pergunta - e todas são muito esclarecedoras. Os estilistas argumentam que é puro modismo, e que o laranja é fashion. Outros, mais chegados aos mistérios da cromoterapia, alegam que é para espantar a uruca, a má fase que há tantos anos persegue o time. Já os empresários consideram que, como a camisa da Holanda foi a mais vendida na Copa de 98, nada melhor para os cofres do clube que um novo modelo laranja. Eu, que não sou estilista, cromoterapeuta ou empresário - mas apenas um tricolor de quatro costados - gostaria de, humildemente, discordar da multidão cor-de-laranja.

Ora, se o problema é moda, nada mais básico e eterno que uma camisa histórica e de tantas glórias. Se, por outro lado, o caso é espantar a uruca, ajuda muito saber que a velha camisa tricolor foi vestida por gente como Preguinho, Pinheiro, Castilho, Didi, Rivellino, Gérson, Assis e tantos outros craques que, justamente com ela, somaram 28 títulos cariocas, dois brasileiros e um sul americano para o clube. Aos pensadores do vil metal, prefiro observar que nada melhor para as vendas de camisas que um bom time e muitos títulos na prateleira.

Se a diretoria pensa em ter um terceiro uniforme, para quebrar a rotina e fazer tilintar uns cobres no caixa, que tal a única camisa no Brasil que consegue ser mais tradicional que a mítica jaqueta tricolor? Me refiro justamente à camisa original, da fundação do Fluminense: a cinza e branca, com o escudo com letras em vermelho. Considerando que no próximo ano o amado Tricolor estará completando 100 anos - não de regatas ou críquete, mas de futebol de verdade - e que ''laranja'' no país das CPIs nunca foi coisa que prestasse, que tal o resgate da nossa cinza e branca? Vamos deixar a cor laranja no único lugar no qual ela fica muito bonita: na home page do Terra.

 

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