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Marcos Caetano
Segunda-feira, 03 Setembro de 2001, 17h35
terraesportes@terra.com.br

Experiências


Vou direto ao caroço da questão, que o momento não é de fazer literatura. Amigo leitor, perdemos de um timeco. E não de um timeco com camisa igual a da Argentina, como andaram falando por aí os mais generosos, mas um timeco de camisa igualzinha a do Paissandú. Escrevo isso com todo respeito ao clube carioca, afinal de contas o bravo Paissandú tem indiscutivelmente muito mais tradição futebolística que Honduras.

Mas continuemos com a questão da camisa. Algumas coisas falam por si – e o time de Honduras usa material esportivo de alguma marca da estirpe de Sulze, Abidas, Alda´s, Red Dock ou assemelhadas. Todas com a imprecisa origem das camisas falsificadas que são vendidas aos incautos ou durangos na porta do Maracanã. É bem verdade que na minha época de garoto de Madureira, na falta de um short Adidas ou até de um honesto Silze ou Athleta, um suspeitíssimo Abidas quebrava o maior galho. Mas eis o fato cruel, urgente e inapelável: o Brasil, do polêmico e bilhardário contrato da Nike, apanhou do time que joga de Abidas.

Culpa do Felipão? Nem o mais obtuso papagaio da feira de Caxias seria capaz de repetir tal bobagem. Generalizemos, que a hora é de generalizar: o problema é de todas as seleções que vêm jogando nos últimos tempos, cheias de jogadores desconhecidos, de jovens revelações que representam a “renovação do futebol brasileiro”, como parte da crônica vive a celebrar e que o ciclotímico Galvão Bueno, dependendo do chá que tomou antes da transmissão, enaltece também.

O Nelson Rodrigues tinha uma frase perfeita para essas seleções cheias de revelações. “O jovem tem todos os defeitos do mundo e mais este: é jovem”. Falar isso, como meter o pau no regime comunista, hoje é moleza. Difícil era falar assim no final dos anos 60 – época em que todo indivíduo que não quisesse ser tido como canalha praticante precisava ser, além de comunista de carteirinha, a favor da tal “razão da idade”, do poder jovem. Pois o Nelson ia lá e falava. Apanhava até dos conservadores Gustavo Corção e Tristão de Athayde. Mas falava. E a frase do mestre resume bem o drama que vivemos: se os times vêm tremendo na hora de decidir e pecando pela inexperiência, por que diabos temos que seguir insistindo com jogadores cada vez menos conhecidos?

Convenhamos, somos de um tempo em que podíamos xingar os jogadores respeitosamente, pelo nome. Me lembro claramente da torcida brasileira pegando no pé de bons jogadores como Müller e Alemão na copa de 90. Note: a pior Seleção Brasileira da história até o curto-circuito frente a Honduras era a de 1990. Pois esse time, que apesar de tudo tinha craques como Careca, Renato Gaúcho, Branco, Taffarel e Mauro Galvão, só foi eliminado da copa após uma derrota para a então campeã do mundo – a Argentina – com ninguém menos que Maradona em campo. Que saudade, amigo! Que saudade de poder xingar gente consagrada, como o Serginho em 82, o Elzo em 86, o Dunga em 90, o Raí em 94... Era bom xingar pelo nome.

Hoje minhas orações ofensivas carecem de sujeito. Um lateral faz o décimo cruzamento bem na cabeça dos repórteres de campo e eu grito: “Ô você aí sei lá o nome, você é um bereba, rapaz!” Ou ainda: “Felipão, tira aquele menino horroroso ali! Bota o, o, o... como é mesmo aquele outro?...” Convenhamos, assim não dá. Aliás, não faria a menor diferença se o locutor da TV anunciasse assim a escalação da seleção: “O Brasil vai de Três-com-goma, Zé-das-Couves, Lôxa, Sunda e Fedegoso; Côdias, Birunda e Brederodes; Cocó, Ranheta e Facada”. Palavra de honra: não notaria a diferença entre a escalação oficial e essa, com os outrora famosos e agora lamentavelmente desaparecidos personagens da malandragem carioca. (Quem fim, aliás, levou o Brederodes?...)

Já que temos que partir para o tudo ou nada, vamos usar os jogadores experientes, que não têm razão para tremer como está tremendo cada jovem promissor lançado com a apavorante missão de salvar a pátria. Vamos jogar com o melhor e mais consagrado time que pudermos escalar. Se perdermos, azar. Ao menos teremos a consciência tranqüila que fizemos o melhor possível. Em tempos de desespero, fazer o melhor possível costuma ser uma estratégia bastante razoável.

Eis o meu ponto: acho quase normal um time de desconhecidos perder para Honduras. Mas honestamente duvido que Taffarel, Cafu, Mauro Galvão, Aldair e Roberto Carlos; Mauro Silva, Leonardo, Zinho e Rivaldo; Djalminha e Romário percam daquele time. E duvido ainda mais se considerar que Marcos, Juninho Paulista, Vampeta, Juninho Pernambucano, Juan, Denílson e outros que não vêm comprometendo podem ser mesclados ao grupo, para dar-lhe mais vigor e velocidade. Não caio nessa do “time de mercenários”, dos jogadores que já estão ricos e não querem jogar. Ora bolas, o trabalho que dá para fazer um cruzamento certo é o mesmo – ou até menor – que o de fazer um cruzamento bisonho.

Em resumo, a solução para as mazelas da nossa seleção é uma simples questão de experiência: menos experiências nas táticas e nas convocações e mais experiência dentro de campo.

 

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