Não vi Algodão jogar. Nem em videotaipe. O máximo que vi foram fotos
amareladas. Mas pelo currículo, não tenho dúvidas: Zenny de Azevedo, o
Algodão, foi mais importante para o basquete brasileiro do que Oscar
Schimdt. E, mesmo assim, foi enterrado como um indigente do esporte.
Campeão mundial em 1959 e duas vezes bronze em Jogos Olímpicos
(Londres-48 e Roma-60). Nem é preciso lembrar das quatro participações em
Olimpíadas e das três em Mundiais, além de outras três medalhas de bronze em
Pan-Americanos. O que mais um deus das quadras precisa?
Uma das frases célebres de Oscar seria suficiente para encerrar a
discussão: "Daria qualquer coisa por uma medalha olímpica". Algodão, lembro,
morreu com duas. O Mão Santa esteve em cinco Olimpíadas, um recorde, mas em
nenhuma delas conseguiu o precioso "souvenir".
A grande diferença entre eles é de época. Algodão não tinha a sua
disposição a TV, com transmissões ao vivo, nem uma mídia que hoje acompanha
até arremesso de pneu. Oscar tem a seu favor as imagens do histórico título
do Pan de 87 em Indianápolis e de suas participações olímpicas. Tem ainda um
recorde invejável de pontos, talvez o maior cestinha de todos os tempos fora
da NBA. Mesmo assim, suas conquistas estão atrás das de Algodão.
A comparação entre eles, neste momento, tem um único sentido:
comprovar o descaso como os ídolos do esporte são tratados neste país.
Nenhum dirigente da Confederação Brasileira de Basquete, segundo a agência
Lance!Sportpress, esteve no enterro de Algodão. Repito, nenhum. A mesma
entidade que elegeu o ex-jogador como um dos cinco maiores de toda a
história do basquete brasileiro. Imperdoável!
Não é à toa que o basquete no Brasil está na situação atual. Não
bastasse a incompetência administrativa, não existe nem mesmo respeito à
memória daqueles que construíram o esporte, hoje nas mãos dessa gente. Por
isso, vale frisar a declaração dada por Alexey, jogador do Botafogo: "O
Oscar deve tomar cuidado. Ele é um monstro sagrado hoje, mas vai ser
esquecido, como foi o Algodão. O que adianta fazer tanto e no final não ser
reconhecido?"