PUBLICIDADE
URGENTE
Saiba como doar qualquer valor para o PIX oficial do Rio Grande do Sul
Logo do Seleção Brasileira

Seleção Brasileira

Favoritar Time

"Fifa cobra Brasil forte no feminino", diz novo coordenador

18 mai 2015 - 11h50
(atualizado às 11h51)
Compartilhar
Exibir comentários

A bordo de uma lancha, numa encosta de Ilha Bela (litoral norte de São Paulo), o coordenador de Seleções da CBF, Gilmar Rinaldi, dividia as iscas com Marco Aurélio Cunha, enquanto conversavam sobre o tamanho adequado dos anzóis. Seria uma pescaria despretensiosa, que lhes renderia apenas algumas anchovas e corvinas, não fosse a intenção logo revelada pelo anfitrião. "Marco, a pescaria aqui é outra. Quero você no comando do futebol feminino da CBF".

O então vereador pelo PSD da cidade de São Paulo recolheu a linha, desmontou o caniço e continuou ouvindo Rinaldi, atento e surpreso. "Tudo que eu faço para o futebol masculino, preciso fazer para o feminino. E você é a pessoa para isso. Já falei com o presidente Marco Polo Del Nero (da CBF)". O encontro, no primeiro fim de semana de maio, selou a contratação do ex-superintendente de futebol do São Paulo, um homem com experiência de mais de três décadas no esporte profissional.

Marco Aurélio Cunha é o coordenador do futebol feminino da CBF
Marco Aurélio Cunha é o coordenador do futebol feminino da CBF
Foto: Sergio Barzaghi / Gazeta Press

Aos 61 anos, Cunha vai substituir Ariberto Santos - demitido da coordenação do futebol feminino da CBF - com a missão de "fomentar" a modalidade no Brasil. Nesta entrevista exclusiva ao Terra, ele fala do "desafio" e da promessa de lutar por uma reformulação ampla que inclua campeonatos estaduais e competições nacionais fortes para as mulheres.

Terra - Por que aceitou ser coordenador de futebol feminino da CBF?

Marco Aurélio Cunha - Quero ajudar a diminuir o abismo entre o futebol masculino e o feminino do País. Gosto de desafios, e já temos pela frente a Copa do Mundo (em junho, no Canadá), o Pan-Americano (em julho, também no Canadá) e a Olimpíada (em 2016, no Rio). Meu objetivo é sair deste lugar no dia em que o namorado reservar o domingo para assistir à namorada disputando um jogo oficial.

Seleção Brasileira feminina não teve bons resultados nos últimos torneios
Seleção Brasileira feminina não teve bons resultados nos últimos torneios
Foto: Mowa Press / Divulgação

Terra - Como se diminui esse abismo?

Marco Aurélio Cunha - Criando competições, com investidores de peso, capazes de instigar o mercado.  Precisamos de Estaduais espalhados por todo o Brasil, e a partir daí organizar um Campeonato Brasileiro e uma Copa do Brasil fortes. Temos de estimular, incentivar a prática do futebol feminino. Que as escolas públicas, por exemplo, se abram para isso.

Terra - Essas ideias não são novas.

Marco Aurélio Cunha - Sim, eu sei disso. Mas agora temos uma situação diferente. A Fifa tem cobrado de nós um futebol feminino mais bem organizado e competitivo. A Fifa botou o dedo na ferida. É quase uma intimação. Temos de crescer. O Brasil forte no feminino é muito bom comercialmente para a entidade.

Fifa cobra que Brasil tenha bons resultados entre as mulheres, disse Marco Aurélio
Fifa cobra que Brasil tenha bons resultados entre as mulheres, disse Marco Aurélio
Foto: Alexander Hassenstein/FIFA / Getty Images

Terra - O senhor deixou seu mandato de vereador da cidade de São Paulo para assumir o cargo na CBF. Ao se licenciar, não se sentiu incomodado...

Marco Aurélio Cunha - (interrompe) Não me licenciei. Eu renunciei à cadeira. Por favor, esclareça que eu renunciei. Já estava no segundo mandato, há seis anos e meio como parlamentar. Não concorreria de novo. Fiz o que pude na vida política. Sou do risco. Ou arrisco total, ou não sou eu. Não fico marcando lugar.

Terra - O que o presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, lhe disse no ato da contratação?

Marco Aurélio Cunha - "Você faz isso aí".

Terra - Só lhe falou isso?

Marco Aurélio Cunha - É que eu já tinha conversado bastante com o Gilmar Rinaldi (coordenador de Seleções da CBF), e estava ciente do que a CBF queria. O presidente já estava inteirado de tudo.

Cunha renunciou ao cargo de vereador em São Paulo para assumir o cargo na CBF
Cunha renunciou ao cargo de vereador em São Paulo para assumir o cargo na CBF
Foto: Léo Pinheiro / Terra

Terra - Nas vésperas de uma Olimpíada, há sempre um novo gás para o futebol feminino. Mas depois...

Marco Aurélio Cunha -

O futebol feminino não pode morrer depois da Olimpíada. Se eu sair daqui depois dos Jogos, pode vir aqui e me dar um pontapé. Claro, a não ser que o presidente queira. Não poderia aceitar o cargo só por causa de uma agenda positiva.

Terra - Qual sua opinião sobre a MP do Futebol, que obriga os clubes a criarem departamentos de futebol feminino?

Marco Aurélio Cunha -

Isso é errado. Não se conserta nada por obrigação. Isso acaba reforçando o preconceito. Fica aquele sentimento de que "estão aqui (as mulheres) por que me empurraram vocês". Ou algo como "sou obrigado a tolerar você". Seria mais lógico dedicar uma verba específica para se fomentar o futebol feminino.

Terra - Ainda existe preconceito para quem pratica futebol feminino?

Marco Aurélio Cunha -  Muito, no Brasil. Mas na Suécia, Dinamarca, Alemanha, EUA, Japão, nesses grandes centros, a visão é completamente diferente. Aqui, havia o mesmo (preconceito) anos atrás com as mulheres do basquete, do vôlei, do handebol. No vôlei, principalmente, isso foi superado, graças aos resultados. Obtendo resultados, muda-se tudo. Agora, o handebol também segue esse caminho. E por que não no futebol feminino? Há interesse, há uma grande oferta. No início deste ano, o São Paulo fez uma peneira, e 1.500 meninas Sub-17 se inscreveram.  Podemos mudar isso.

Brasil tem Marta, uma das melhores jogadoras da história do futebol
Brasil tem Marta, uma das melhores jogadoras da história do futebol
Foto: Matthias Schrader / AP
Fonte: Silvio Alves Barsetti
Compartilhar
Publicidade
Publicidade