MotoGP: Marc Márquez será hepta ou eneacampeão? Entenda a polêmica:
Liberty Media redefine conceito de título mundial e muda a história da MotoGP. Mudança coloca em xeque legado de campeões e revolta fãs
Marc Márquez chega ao Grande Prémio do Japão, neste fim de semana, com a possibilidade de assegurar mais um título mundial na MotoGP. O espanhol lidera o campeonato com vantagem confortável e só não será campeão em Motegi caso o vice-líder, Álex Márquez, o supere em 7 pontos.
A própria organização já confirmou a conta que garante a conquista ao piloto da Gresini. Contudo, a comemoração antecipada abriu espaço para uma polêmica: caso confirme o título, Marc será anunciado como heptacampeão e não como eneacampeão, já que os troféus conquistados na Moto2 e na Moto3 deixaram de ser reconhecidos oficialmente como campeonatos mundiais.
Mas onde isso começou?
A partir da aquisição da MotoGP pela Liberty Media, foi determinado que apenas a categoria rainha passará a ter caráter de campeonato mundial. Com isso, títulos históricos nas antigas 125cc, 250cc, Moto2 e Moto3 deixam de integrar a contagem oficial, mesmo com pilotos e fãs considerando-os parte de uma trajetória global da modalidade.
Essa mudança já gera impacto em nomes consagrados. Giacomo Agostini, maior campeão da história com 15 títulos, passa a ser referenciado apenas pelos oito conquistados na categoria principal. Pilotos como Valentino Rossi, Marc Márquez, Marco Simoncelli, Jorge Lorenzo e Dani Pedrosa também saem afetados. Pedrosa, por exemplo, deixaria de ter reconhecimento oficial dos três títulos conquistados na base, um nas 125cc e dois nas 250cc. Mais recente, o japonês Ai Ogura, campeão da Moto2 em 2024 e responsável por encerrar um jejum de 15 anos sem títulos para a Ásia, também vê sua conquista ser desconsiderada.
Apesar disso, a MotoGP mantém o discurso de que Moto2 e Moto3 continuam sendo categorias fundamentais para a formação de talentos. No entanto, a retirada do estatuto de "mundial" reforça o caráter de categorias de acesso e acende debates sobre o legado de gerações de campeões.
Novos planos da Liberty
A decisão faz parte de um conjunto de medidas que a Liberty Media pretende implementar. Uma das mudanças anunciadas é a separação física dos paddocks a partir de 2026: Moto2 e Moto3 terão estruturas próprias, fora do espaço central da MotoGP. Para parte do paddock, a alteração pode reduzir a exposição das categorias a patrocinadores e diminuir oportunidades de promoção e integração no ambiente principal da competição.
Outra proposta em estudo é a ampliação do calendário para 25 Grandes Prémios por ano. Com as corridas sprint, o total de provas saltaria para 50 ao longo da temporada. Ainda que aumente o espetáculo da MotoGP, a medida levanta preocupações para as equipes das classes menores, que operam com orçamentos inferiores e possivelmente não conseguiriam acompanhar todas as viagens caso fosse adotado o modelo semelhante ao da Fórmula 1, no qual nem todas as categorias de base participam de todas as etapas.
Repercussão entre pilotos históricos
A controvérsia em torno dos títulos já mobilizou lendas do motociclismo. Giacomo Agostini demonstrou publicamente sua discordância e descrença face a decisão:
“É algo que todos interpretámos mal. Não acredito que a Federação permita uma coisa dessas. Se alguém quiser dizer que só ganhei oito, ou cinco, ou nove, pode fazê-lo, mas para mim ficarão sempre aqueles 15 dias inesquecíveis como campeão do mundo.”
O lendário piloto também reforçou a importância da Moto2 e Moto3: "“A Moto2 e a Moto3 nunca foram meros degraus de passagem. Brilharam por mérito próprio e deram campeões que conquistaram os mais altos patamares do desporto. Não podemos marginalizar estas categorias; fazê-lo levaria a que pilotos despreparados entrassem no MotoGP.”, declarou.
A mudança também tem repercussão emocional para os fãs, que veem parte do legado dos seus ídolos ser oficialmente apagado. Com impactos tanto na história do esporte quanto no reconhecimento dos pilotos, a polêmica promete continuar a marcar os próximos capítulos da era Liberty na MotoGP.