Saída de dólares do Brasil bate recorde em 2019
Montante leva em conta tanto as operações financeiras quanto as comerciais do Brasil com outros países
Em um ambiente marcado pela economia ainda lenta e pelas baixas taxas de juros, US$ 44,8 bilhões deixaram o Brasil em 2019. O valor, divulgado nesta quarta-feira pelo Banco Central, é o maior da história, superando de longe os US$ 16,182 bilhões que saíram do País em 1999. O montante leva em conta tanto as operações financeiras quanto as comerciais do Brasil com outros países.
Pela via financeira, US$ 62,2 bilhões deixaram o Brasil no ano passado. O resultado inclui investimentos produtivos e aportes em carteira - como os realizados em ações da Bolsa de Valores ou em títulos públicos -, além de remessas de lucros e pagamentos de juros feitos por multinacionais, entre outras operações.
O fato de a Selic, a taxa básica de juros, renovar em 2019 os menores níveis da história foi um dos fatores para a saída de dólares do Brasil pela via financeira. Isso porque a taxa básica - hoje em 4,50% ao ano - deixou de ser tão atrativa como no passado para os investidores estrangeiros interessados em renda fixa. Em seu pico histórico, em outubro de 1997, a Selic chegou aos 43,41% ao ano.
O juro baixo também estimulou as remessas de dólares feitas por multinacionais ao exterior. A partir do segundo semestre de 2019, intensificou-se um movimento de pagamento, por algumas companhias, de dívidas em outros países. Esse processo foi liderado pela Petrobrás, mas outras multinacionais seguiram no mesmo caminho.
Em muitos casos, como a diferença entre a Selic e a Libor, taxa de juros de referência no exterior, diminuiu, essas empresas optaram por quitar os compromissos em outros países e fazer novas dívidas no Brasil, em condições mais vantajosas.
Essa quitação de compromissos levou à saída de dólares do Brasil. Foi o que o BC qualificou como "pré-pagamento" de dívidas, levando a autarquia a promover leilões de dólares de suas reservas para atender à demanda das empresas por moeda estrangeira. A saída de US$ 62,2 bilhões pela via financeira em 2019 também foi a maior da história, superando os US$ 52,3 bilhões registrados em 2017.
Ao tratar dos fluxos de moeda no fim do ano passado, durante entrevista à imprensa, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, ponderou que o País passa por uma transição. "O Brasil está saindo de um período no qual os investidores ganharam muito dinheiro com juros e agora passarão a investir na economia real. A diferença é que o dinheiro aplicado em juros sai rápido, e os recursos a serem aplicados em investimentos de infraestrutura entram mais devagar. Estamos passando por esse vale", afirmou na ocasião.
Comercial
A saída de dólares só não foi maior em 2019 porque houve entrada de moeda estrangeira pela via comercial, que reflete as exportações e as importações do País. Os dados do BC mostram que no ano passado o Brasil registrou fluxo positivo de US$ 17,5 bilhões nesta área. O montante foi gerado por exportações no valor de US$ 196,4 bilhões, menos as importações de US$ 178,9 bilhões.
O resultado comercial de 2019, no entanto, ficou abaixo do verificado no ano anterior, quando esta conta indicou entrada de US$ 47,7 bilhões no Brasil. Na prática, o Brasil exportou menos em 2019 e importou mais.
Entre os fatores que justificam a queda nas exportações estão a redução dos embarques de produtos para a Argentina, em função da crise econômica no país vizinho, e a queda das vendas de soja para a China, que enfrentou um surto de peste suína.