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Renda fixa x renda variável: qual a diferença e como escolher entre os investimentos

Com a queda da taxa de juros, investidores têm se interessado por renda variável em busca de maior rentabilidade; economistas alertam para adequação dos produtos ao perfil de risco

28 ago 2019 - 08h41
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A renda variável vem ganhando destaque nos últimos meses após as sucessivas reduções na taxa básica de juros da economia, a taxa Selic. Como os investimentos em renda fixa são atrelados a índices como o Certificado de Depósito Interbancário (CDI), IPCA e Selic ou têm a rentabilidade indiretamente afetada por eles, a renda variável surge como uma opção para quem quer ganhar mais dinheiro.

"Sempre foi recomendado ter alguma coisa em Bolsa, mas aquele investidor mais conservador não tinha nada porque ganhava um retorno bom com renda fixa", explica Michael Viriato, professor do Insper e membro do Instituto Brasileiro de Certificação de Profissionais Financeiros.

É preciso, porém, conhecer como as duas modalidades funcionam e quais são os riscos envolvidos em ambas. Saiba mais sobre renda fixa e renda variável.

O que é renda fixa

No investimento em renda fixa, no momento de compra do título, o prazo e o indexador de rentabilidade já ficam pré-acordados entre o cliente e a instituição emissora.

De acordo com dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), o Brasil tem hoje mais de R$ 3 trilhões investidos. Grande parte do montante é composto pela renda fixa, que hoje representa 75% do total de investimentos.

A rentabilidade dessa modalidade pode ser pré ou pós-fixada. Entenda a diferença entre ambas:

  • Prefixada

    Na renda prefixada, a rentabilidade é uma porcentagem estimada de acordo com o mercado futuro de DI, ou seja, a taxa estimada para depósitos interbancários na data de vencimento do título. "O índice estima uma taxa prefixada para o prazo do título. Os bancos buscam isso no mercado futuro de DI e conferem o vencimento para a mesma época em que você vai fazer seu pré-fixado", explica a professora dos MBAs da Fundação Getulio Vargas Myrian Lund. "Você tem uma projeção. Não sabe qual é a taxa, pode subir ou cair", afirma o planejador financeiro da Mirae Asset Pedro Galdi.

  • Pós-fixada

    Na renda pós-fixada, o investidor estabelece qual indexador vai determinar a rentabilidade dele, como o Certificado de Depósito Interbancário (CDI), o IPCA ou a Taxa Selic. O rendimento em reais, portanto, só é conhecido ao final do prazo do título, já que contabiliza as variações do indexador durante a vigência.

Outra diferenciação possível na renda fixa é quem emite o título, ou seja, para quem o investidor empresta o dinheiro em troca de juros. Os títulos podem ser públicos (emitidos pelo governo) ou privados (emitidos por bancos, empresas ou cooperativas de crédito). Saiba mais sobre os principais produtos de cada modalidade:

  • Principal título público

    Tesouro Direto

  • Principais títulos privados emitidos por bancos

    Certificado de Depósito Bancário (CDB)

    Letra de Crédito Imobiliário (LCI)

    Letra de Crédito do Agronegócio (LCA)

  • Principais títulos privados emitidos por empresas

    Certificado de Recebíveis Imobiliário (CRI)

    Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA)

    Debêntures

O que é renda variável

Ao contrário da renda fixa, nos investimentos em renda variável não há período mínimo de permanência com o título e não é possível prever quanto o investimento deve render. "Todo mundo acha que ações são de altíssimo risco, mas na verdade elas têm alta volatilidade. Você não vai perder todo o seu dinheiro, só se a empresa falir", defende Myrian Lund.

Para isso, de acordo com a especialista, é preciso ficar atento às notícias do mercado, focando especialmente nas previsões para as empresas e nem tanto na lucratividade atual. Lund afirma que, muitas vezes, o investidor leigo não se atenta às expectativas do mercado para a ação que ele possui e se recusa a vender um ativo que está em tendência de queda. "Nenhuma empresa vai falir da noite pro dia, mas o investidor geralmente é emocional e fica apegado ao título, passou a ser o filhinho dele", afirma.

Para quem quer mais risco, portanto, a melhor opção seria contratar fundos de renda variável. "Um gestor de fundos é um profissional que vai acompanhar o mercado e vender ou comprar suas ações, racionalmente. A pessoa física, para operar no mercado, não pode se deixar levar pela emoção", explica a professora.

Essa também é a visão de Michael Viriato. Além do preparo profissional exigido dos gestores, Viriato ressalta que o risco de investir em um fundo é menor do que comprar ação de uma empresa em específico. "Quando você investe em um fundo diversificado, nunca vai perder todo o dinheiro. Ali vão ter empresas que eventualmente vão se sair muito mal, outras muito bem, e elas se compensam. Se o rendimento geral for menor do que do índice da Bolsa, o gestor já troca as empresas da carteira", explica.

Além disso, Viriato chama atenção para o chamado efeito retrovisor: muitas vezes, quando as ações de uma empresa se tornam conhecidas, elas já sofreram uma alta nos preços. "O que todo mundo quer é comprar uma ação, esquecer e acordar anos depois milionário. Lógico que uma pessoa ou outra pode ter tido a sorte de acontecer isso, mas é sorte. As pessoa estão comprando ações já caras, entrando no final da festa. É quase certo que vão perder dinheiro. Elas querem fazer tudo, se automedicar", afirma.

  • Principais produtos em renda variável

    Ações de empresas

    Fundos de ações

    Fundos imobiliários

Tanto para a renda fixa quanto para a renda variável, há três tipos de riscos possíveis que devem ser observados por quem quer investir: o risco de mercado; o risco de crédito e o risco de liquidez. Entenda o que são os componentes para escolher um investimento:

  • Risco de crédito

    No risco de crédito, é preciso observar a credibilidade da instituição que emite o título para avaliar se há risco de não receber o montante investido. Isso pode ser feito por meio de consulta às chamadas agência de rating, que classificam as instituições.

    O risco de crédito é atrelado à rentabilidade dos investimentos. Geralmente, instituições de menor porte têm credibilidade menor e, por isso, precisam oferecer taxas de juros mais atrativas para atrair investidores. Outro fator para o risco de crédito é o tipo de produto. No caso dos CRIs e CRAs, por exemplo, o pagamento de juros depende dos recebíveis das empresas, ou seja, títulos que com os valores que a companhia tem direito a receber, como por exemplo notas promissórias.

  • Risco de mercado

    Os preços de títulos e ações variam de acordo com as expectativas da economia de forma geral e das empresas. No caso da renda fixa pós-fixada, o preço de venda dos papéis é baseado nas expectativas do mercado futuro. Essa é a razão pela qual há variação diária no preço de venda de títulos do Tesouro Direto.

    A professora dos MBAs da Fundação Getulio Vargas Myrian Lund explica que, com boas expectativas para a economia, a tendência é que a previsão dos índices seja reajustada para cima, ou seja, espera-se que eles terão maior rentabilidade. Com mais rendimento previsto, os títulos se tornam mais atrativos e ganham mais valor no mercado —o que os torna mais caros para compra.

    "Se vem uma notícia de que a economia vai crescer, isso pode aumentar a inflação e taxa dos mercados futuros subir. Com isso, o preço dos títulos sobe, já que eles vão render mais. Já se sai uma notícia sobre a continuidade da recessão, a taxa do mercado futuro cai e o preço do título também", exemplifica.

    Com isso, quem investe em títulos de renda fixa e quiser vender o título antes do prazo de vencimento fica sujeito ao preço de mercado do papel estimado no momento. "O investidor pode tanto ganhar muito dinheiro quanto perder muito dinheiro", afirma a professora.

  • Risco de liquidez

    No risco de liquidez, o investidor pode ser afetado pela dificuldade de vender um ativo, ou seja, de não encontrar compradores disponíveis para repassar o título rapidamente.

Estadão
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