O tarifaço pode baixar o preço da carne no Brasil?
Quedas pontuais de preço no curto prazo apenas mascaram um efeito maléfico à economia do Brasil
Desde que Donald Trump decidiu aplicar tarifas de 50% aos produtos brasileiros, diferentes setores se dedicam a calcular os impactos. Empresas exportadoras estão sendo obrigadas a buscar outros destinos para produtos perecíveis, como a carne bovina, o que nem sempre é possível.
Neste cenário, com frequência nos deparamos com declarações equivocadas por parte de alguns setores da sociedade, de que, ao exportar menos, sobrará mais alimentos no mercado interno brasileiro, e, consequentemente, haveria uma redução dos preços ao consumidor.
O sucesso do Brasil na exportação também garante uma oferta maior de itens na mesa dos brasileiros.
Uma família da zona rural do Brasil, seja pequena ou grande propriedade, só vai plantar ou criar animais se souber que, ao vender seus produtos, o preço recebido será levemente maior do que o custo que teve para produzir. É a regra que vale para qualquer negócio.
Em 2008, na Argentina, as retenciones sobre a carne, um tipo de imposto sobre exportação de produtos, causaram prejuízo para o consumidor. No começo, a exportação perdeu competitividade e até sobrou mais carne no mercado interno, fazendo cair o preço do produto no supermercado e a cotação do boi.
O resultado foi um desestímulo ao pecuarista, que parou de investir no rebanho, abatendo fêmeas. A sequência de um cenário assim é a menor oferta de boi (e de carne) no mercado, que causa, novamente, uma alta de preços ao consumidor.
O consumo per capita de carne na Argentina chegou a cair de 60kg para 40kg ao ano, como lembrou recentemente o analista Maurício Nogueira, da Athenagro. É um ciclo que não desejamos para o nosso Brasil, hoje maior exportador de carne bovina do mundo.
Os Estados Unidos compram aqui cortes dianteiros do boi. Ao parar de exportar para lá, cai a oferta também dos cortes traseiros, considerados mais nobres, bastante consumidos no Brasil. Afinal, não é possível abater o boi "pela metade", só para os mercados que seguiriam comprando.
Se uma situação como essa perdurar, podemos viver o desestímulo por parte do produtor brasileiro. Por isso, defendemos o diálogo, acima de tudo, para que o agro siga trazendo divisas ao País, gerando empregos e alimentos na nossa mesa.
Sobre a pergunta que abre este artigo, a resposta é não, principalmente no médio e longo prazo. Quedas pontuais de preços no curto prazo apenas mascaram um efeito maléfico para a economia do Brasil, que viria na sequência de uma queda abrupta nas exportações.