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Indústria tem quatro meses de avanços consecutivos, mas com resultados modestos, mostra IBGE

Expansão no setor industrial foi de 0,9% entre agosto e novembro do ano passado; tendência ainda é de estagnação, segundo analistas

5 jan 2024 - 16h27
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RIO E SÃO PAULO - Com a ajuda de uma conjuntura interna mais favorável e dos avanços nas exportações, a indústria brasileira completou quatro meses seguidos de crescimento, informou nesta sexta-feira, 5, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A produção acumulou uma expansão de 0,9% entre agosto e novembro de 2023, a sequência mais longa de resultados positivos desde o período de maio a novembro 2020, quando se recuperava do choque inicial provocado pela pandemia de covid-19, mostraram os dados da Pesquisa Industrial Mensal - Produção Física.

Os resultados deste ano, mês a mês, porém, foram modestos: agosto (0,2%), setembro (0,1%), outubro (0,1%) e novembro (0,5%, a mais acentuada para essa época do ano desde 2020).

A tendência para o desempenho do setor industrial ainda é de estagnação, avaliou o economista Helcio Takeda, da consultoria Pezco Economics.

Manutenção no ciclo de cortes nos juros e a expectativa de um bom desempenho da indústria extrativa dão margem a alguma recuperação do setor a partir do segundo trimestre de 2024
Manutenção no ciclo de cortes nos juros e a expectativa de um bom desempenho da indústria extrativa dão margem a alguma recuperação do setor a partir do segundo trimestre de 2024
Foto: Clayton de Souza/Estadão / Estadão

"Não muda a percepção de que a indústria caminha de lado, as aberturas qualitativas da pesquisa mostram isso", observou Takeda, que prevê crescimento de apenas 0,2% para todo o setor em 2023, na comparação com o ano anterior.

A manutenção no ciclo de cortes na taxa básica de juros, a Selic, e a expectativa de um bom desempenho da indústria extrativa dão margem a alguma recuperação do setor industrial a partir do segundo trimestre de 2024, defendeu o economista da Pezco.

"A projeção é de alta de 1,0% para a indústria neste ano (2024), o que é bem melhor do que 2023, mas ainda não tira aquela sensação de caminhar de lado", pontuou Takeda.

Na passagem de outubro para novembro de 2023, os avanços nas indústrias extrativas (3,4%) e nos produtos alimentícios (2,8%) impulsionaram o desempenho positivo da produção industrial nacional no período.

"A gente está falando de dois segmentos associados diretamente a exportações", confirmou André Macedo, gerente da pesquisa do IBGE, acrescentando que o bom desempenho da balança comercial brasileira em 2023 também ajudou na melhora da indústria nacional. "É um fator importante a ser considerado ao longo do ano de 2023."

No caso de alimentos, a produção avançou por cinco meses seguidos, de julho a novembro.

"Tem a questão da safra recorde, tem exportações, tem produtos identificados com a demanda doméstica", enumerou.

O crescimento recente reduziu a defasagem ante o patamar pré-pandemia, mas ainda não recupera todas as perdas anteriores.

"A gente tem um ritmo mais acentuado (de produção), mas não posso chamar alta de 0,2%, de 0,1%, como uma trajetória sustentada de crescimento", explicou o gerente do IBGE.

A indústria brasileira chegou a novembro operando 0,9% aquém do patamar de fevereiro de 2020, mas apenas sete das 25 atividades investigadas funcionavam em nível superior ao pré-crise sanitária: outros equipamentos de transporte (13% acima do pré-covid), produtos do fumo (12,4%), derivados do petróleo (11,5%), extrativas (9,7%), alimentícios (5,2%), bebidas (2,1%) e máquinas e equipamentos (0,8%).

No extremo oposto, os segmentos mais distantes do patamar pré-pandemia são artigos de vestuário e acessórios (-31,4%), móveis (-28,9%), equipamentos de informática (-26,3%), produtos diversos (-23,7%), máquinas e materiais elétricos (-22,6%) e veículos (-21,6%).

No geral, há crescimento na produção da indústria, tendo como pano de fundo algum grau de melhora nas variáveis associadas à demanda doméstica, assim como uma ajuda do aumento das exportações, mas, apesar do início do ciclo de afrouxamento monetário, a taxa de juros ainda elevada prejudica setores mais ligados ao crédito, como as categorias de bens duráveis e bens de capital, resumiu André Macedo.

"Há uma leitura melhor dos fatores conjunturais", afirmou Macedo. "Tem como pano de fundo algum grau de melhora nessas variáveis associadas ao mercado doméstico."

Entre os elementos que melhoraram, o pesquisador menciona a evolução favorável do comportamento do mercado de trabalho, com mais trabalhadores ocupados e aumento da massa de salários em circulação na economia, e a inflação mais controlada, que também confere às famílias "algum ganho de renda disponível". A inadimplência se mostra menor que no passado, mas o nível de endividamento permanece elevado, ponderou.

"O crédito permanece encarecido", disse ele. "A taxa de juros ainda permanece em patamares elevados."

A produção de bens de consumo duráveis segue afetada tanto pelo crédito caro quanto pela seca no Amazonas. A estiagem na região Norte prejudicou o acesso a matérias-primas, devido à característica de uso do modal fluvial na logística local, e algumas fábricas deram férias coletivas, relatou Macedo.

Entre os produtos impactados estão televisores, rádios, motocicletas, eletroeletrônicos e equipamentos de informática. Como consequência, a fabricação de bens duráveis acumulou uma perda de 9,7% nos últimos três meses, de setembro a novembro de 2023.

"A política monetária mais restritiva, com taxa de juros mais elevadas, tem também impacto nas decisões de investimentos de empresários", acrescentou Macedo.

A produção de bens de capital acumulou uma perda de 4,7% nos últimos três meses divulgados pela pesquisa, de setembro a novembro de 2023.

"É algo que tem muita relação com o nosso nível de investimento. São números ainda preocupantes nos investimentos", concluiu o economista Igor Cadilhac, do banco PicPay.

Estadão
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