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E o modelo híbrido venceu a batalha 

As empresas e os funcionários perceberam que nenhum extremo é produtivo

12 dez 2022 - 02h00
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Foto: Adobe Stock

Participo de entidades de propaganda desde o início dos anos 1990 – Fenapro, Sinapros, APP Brasil, Abap, entre outras. Faço palestras sobre gestão em vários estados desde então. Em 2011 lancei meu primeiro livro, “Pequenas agências, grandes resultados”, com foco em gestão em propaganda.

Nas palestras, sempre abordei o tema home office e flexibilização de horário.

Por muito tempo, ninguém compartilhava da ideia. Ou por ser um tema ainda pouco desenvolvido, pela tecnologia ineficiente ou mesmo, o que acredito mais, pela cultura brasileira do velho ditado “É o olho do dono que engorda o boi”.

No meu segundo livro, “Abri minha agência, e agora?”, lançado no início de 2013, escrevi duas páginas sobre o assunto, que transcrevo aqui:

“[...] Vai se dar bem quem partir para um conceito operacional totalmente diferente do atual, que priorize a velocidade na entrega, diminuindo o prazo e eliminando etapas entre o briefing e a veiculação. Revolucionando com equipes trabalhando em casa, por exemplo. Home office. Por que não? O que faz a maioria das pessoas no escritório? Mais da metade do tempo estão na frente de um computador respondendo correios eletrônicos, Whatsapp, checando informações, preenchendo planilhas ou relatórios, atendendo telefone etc. Nada que não possa ser feito em casa.

Hoje, com tanta tecnologia, não há justificativa para exigir que um funcionário perca quase três horas por dia no trânsito, no caso de São Paulo, para ir ao escritório e depois voltar para casa. Grandes multinacionais operam a distância há muitos anos, pois seria impossível reunir equipes tão distantes umas das outras. Em países como os Estados Unidos, já é comum o trabalho em casa. Hoje é possível fazer conference calls até por meio do celular e todo laptop tem câmera para se interagir. Imagine a motivação dos funcionários podendo trabalhar em casa? A produtividade aumentaria.

Para a empresa, é uma grande economia de custo com espaço e despesas indiretas como vale-refeição, vale-transporte, horas extras e, ainda, a possibilidade de pagar até um salário menor, já que o funcionário terá menos custos e menos desgaste também.

Medo? Por que não começar devagar? Dois dias por semana, por exemplo. Com o tempo, ficará claro que não há nenhuma razão para preocupações. Visitas ao cliente? É só ser objetivo e tentar resolver sem as reuniões de corpo presente. As imprescindíveis provavelmente não ocorrerão mais de uma vez por semana. Exagerando, duas vezes por semana. Nesse caso, o funcionário pode ir de casa direto para o cliente.

É possível que haja dispersão no trabalho em casa? Existe essa possibilidade, no entanto não mais do que a que ocorre no escritório. Ou todos acham que só pelo fato de estarem no escritório os funcionários trabalham sem parar durante todo o expediente? Outra coisa que pode ajudar muito e que poucas empresas têm coragem de fazer é o horário de trabalho flexível. Já imaginou o empregado escolher, em um calendário preestabelecido pela empresa, o que mais lhe convém?

O que é preciso mesmo é quebrar paradigmas. Estamos acostumados a conferir se todos estão na empresa, se marcaram o cartão de ponto etc. Não dá mais para ser assim. Até pelas razões a seguir expostas, com as quais fica evidente que os novos empregados não querem mais trabalhar nesse tipo de estrutura.

O que vale para a empresa, na verdade, é a produtividade e a sua qualidade. Se uma equipe consegue fazer seu trabalho com qualidade em meio dia, por que mantê-la o dia inteiro no escritório em dias em que especificamente não há mais nada a fazer?”

Home office em formato de rodízio

Na verdade, minha ideia de home office era um formato rodízio, de forma que todos participassem, mas ao mesmo tempo entre 40 e 50% das equipes estivessem sempre na sede da empresa.

Em março de 2020 levei dois sustos. O primeiro pela pandemia e o outro pelo confinamento e as empresas devolvendo suas sedes e adorando a ideia de ter a empresa só “nas nuvens”.

Nessa época participei de várias lives, sendo talvez o único que não concordava com 100% das pessoas em casa em definitivo, embora entendesse que naquele momento era a única opção.

Eu tinha e ainda tenho dois argumentos. O primeiro era a perda de tudo que foi investido nas empresas ligado a cultura, integração, valores, fortalecimento das relações pessoais entre os funcionários e principalmente entre chefes e subordinados, entre outros. E o segundo, não menos importante, era a saúde mental dos funcionários. Argumentava que não fomos criados para trabalhar 10/12 horas por dia de frente para uma parede com crianças correndo, empregas domésticas limpando a casa, cachorro, papagaio, periquito etc.

Argumentava também que uma situação era a de home no sítio ou na praia, para os com melhor poder aquisitivo, e outra era trabalhar num apartamento minúsculo com a esposa ou filhos na mesma sala ou até no quarto.

Para minha felicidade, hoje vejo o mercado de locação comercial em retomada, restaurantes lotados na hora do almoço, trânsito pesado nos horários de pico. 

As empresas e os funcionários perceberam que nenhum extremo é produtivo.

O bom senso está prevalecendo e, ao que parece, deve continuar com uma boa dose de flexibilização nos horários e home office duas vezes por semana para a maioria.

Isso me remete a um filme de 1985 dirigido por Ivan Cardoso e Jonh Hebert, cujo título era “Os bons tempos voltaram – Vamos gozar outra vez”.

(*) Antônio Lino Pinto (antonio.lino@viramundoconsultoria.com.br) é consultor de gestão e autor dos livros “Pequenas agências, grandes resultados” (2011), “Abri minha agência, e agora?” (2013), “Gestão em agências de propaganda” (2017) e “Gestão para empreendedores”(2022). 

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