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Desafio é desmistificar ideia de que agronegócio é sinônimo de desmatamento, diz CEO da Bunge Brasil

Para Rossano de Angelis Junior, agro brasileiro é 'tecnológico, fomenta boas práticas e tem um potencial que nenhum outro país tem'; 'É fácil mostrar quando as boas práticas já são feitas', diz

20 out 2025 - 11h16
(atualizado às 11h30)
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Quando se fala em agronegócio, muitas pessoas quase imediatamente relacionam a atividade a desmatamento. Para Rossano de Angelis Junior, que comanda as operações da Bunge Brasil (o cargo oficial é country manager), porém, essa é uma ideia equivocada, que precisa ser desmistificada. "O agronegócio brasileiro é tecnológico, fomenta boas práticas e tem um potencial que nenhum outro país tem. Mostrar isso para o mundo é essencial", diz.

Segundo ele, no caso da Bunge, há dez anos foi iniciado um programa que tinha como meta ter uma cadeia produtiva 100% livre de desmatamento, objetivo que foi alcançado. "Para garantir uma cadeia livre de desmatamento, precisávamos saber rastrear e monitorar desde a origem", afirma o executivo. O desafio também envolveu o mapeamento dos fornecedores indiretos, um dos grandes problemas que diversos programas de rastreabilidade enfrentam.

Para o executivo, a COP-30 será uma oportunidade importante para o agronegócio brasileiro mostrar ao mundo o que tem feito em relação à sustentabilidade. "É até fácil falar de sustentabilidade, porque é fácil mostrar quando as boas práticas já são feitas", diz.

Bunge é uma das maiores empresas do mundo nas áreas de agronegócio e alimentos
Bunge é uma das maiores empresas do mundo nas áreas de agronegócio e alimentos
Foto: Daniel Teixeira/Estadão / Estadão

Com sede nos Estados Unidos, a Bunge é uma das maiores empresas do mundo nas áreas de agronegócio e alimentos, com receita de mais de US$ 53 bilhões no ano passado.

A seguir, os principais trechos da entrevista:

Dentro do universo de vocês, o que a palavra 'sustentabilidade' representa? Já é um pilar fundamental para os negócios ou algo que ainda está sendo construído?

É uma boa pergunta. Diria que sustentabilidade e estratégia de negócio, na Bunge, hoje se confundem, no melhor sentido da palavra. No final das contas, é a mesma estratégia. Isso começa há dez anos. Em 2015, a Bunge fez um compromisso global: até 2025, nossa cadeia de suprimentos seria 100% livre de desmatamento. Ali foi dado o pontapé inicial de tudo o que entendemos por sustentabilidade dentro da companhia. A partir disso, começamos a investir pesado em monitoramento e rastreabilidade. Para garantir uma cadeia livre de desmatamento, precisávamos saber rastrear e monitorar desde a origem. E isso é um desafio enorme, principalmente quando falamos de fornecedores indiretos, que são pulverizados e mais difíceis de engajar.

Como foi esse processo de estruturar a rastreabilidade?

Primeiro trabalhamos com os fornecedores diretos, que teoricamente são mais fáceis. Mas, mesmo assim, foi um trabalho intenso de engajamento. Criamos parcerias, como com a Vega - uma empresa de tecnologia de monitoramento - e desenvolvemos uma plataforma que nos permitiu atingir 100% de rastreabilidade dos fornecedores diretos em 2021 ou 2022, nas zonas prioritárias e críticas. Depois veio o maior desafio: os fornecedores indiretos. Desenvolvemos mecanismos para que eles também pudessem usar a plataforma ou para que nós fizéssemos o monitoramento por eles. O recado foi claro: sem rastreabilidade, não tem negócio. Em 2024, atingimos 100% de rastreabilidade também nos indiretos, sendo a primeira empresa do agronegócio a conseguir isso. Hoje são 90 revendas dentro da plataforma, cobrindo cerca de 36 milhões de hectares monitorados em zonas de risco, principalmente no Cerrado.

Essa rastreabilidade envolve apenas questões ambientais?

Não. Além da parte ambiental, desmatamento, uso da terra, também monitoramos direitos humanos e boas práticas. Ao ter acesso à propriedade, conseguimos mapear muito além do impacto ambiental. Nosso objetivo é manter os 100% que conseguimos e fazer com que o setor inteiro avance junto. A plataforma foi desenvolvida em parceria, e acreditamos que a sustentabilidade só se consolida se for coletiva.

Essa plataforma foi desenvolvida por vocês?

Sim, em parceria com a Vega (empresa de monitoramento especializada no agronegócio). Somos sócios minoritários. Isso é estratégico: sustentabilidade e tecnologia caminham juntas. Sempre que possível, nos tornamos sócios de plataformas que consideramos cruciais para dar agilidade e escala.

E os dados são alimentados pelo produtor?

Nós coletamos e inserimos os dados, com autorização do produtor. São informações confidenciais, sempre com diálogo e transparência.

O sr. comentou que, depois da rastreabilidade, vem um segundo passo: agricultura regenerativa.

Exato. A partir de 2020, a sustentabilidade deixou de ser uma área corporativa e passou a estar dentro da área de negócios. Porque a estratégia é a mesma: gerar valor para o produtor e para o cliente final. Foi aí que lançamos o Programa de Agricultura Regenerativa, começando com 250 mil hectares e chegando hoje a 345 mil. O produtor que adere ao programa recebe um prêmio de entrada. Nós fornecemos tecnologia e dados por meio da empresa parceira xFarm, que mede emissões. A Orígeo — nosso braço de originação e assistência técnica — faz um diagnóstico e um plano de implementação. O mais interessante é que o produtor brasileiro já tem práticas regenerativas: não desmata, faz rotação de culturas, usa cobertura vegetal, fertilizantes biológicos, agricultura de precisão. Ou seja, a base já é muito boa. Nosso papel é estruturar, medir e agregar valor.

E como isso gera valor?

Esses produtos certificados têm emissões mapeadas e documentadas. Clientes, principalmente da Europa, valorizam isso. Além disso, grandes empresas de alimentos estão se tornando patrocinadoras do programa, investindo diretamente nele. Já temos quatro patrocinadores. Desde o início, foram investidos cerca de US$ 20 milhões.

Quais culturas fazem parte do programa hoje?

Soja (e seus derivados, farelo e óleo), milho e trigo. Estamos começando também com algodão.

Hoje, boa parte do programa se concentra no Cerrado. Há expansão para outras regiões?

Sim. Começamos no Cerrado, que é onde temos maior presença, mas já estamos expandindo — como no caso do trigo no Paraná. Também estamos focados em novas culturas de rotação, como camelina, mamona e canola, muito voltadas para o mercado de energia e biocombustíveis.

A Bunge também atua na questão do impacto social, com a Fundação Bunge. Como isso se conecta ao programa?

Nossa fundação tem 70 anos e passou a atuar integrada à estratégia de sustentabilidade. Trabalhamos com agricultura familiar e povos tradicionais, promovendo inclusão produtiva, segurança alimentar, rastreabilidade e reflorestamento. Temos programas de polinização com apicultura, uso da metodologia Muvuca para reflorestamento e parcerias com o Ibama e o BNDES para reflorestar terras indígenas no Maranhão, Tocantins e Mato Grosso. Também capacitamos brigadas indígenas para combate a incêndios com uso de drones.

Esse trabalho com polinizadores é fundamental. Sem abelhas, não há produção agrícola, certo?

Exato. É um ponto-chave. O que conseguimos construir é um ecossistema: de um lado, o negócio; de outro, o impacto social positivo — tudo com a mesma estratégia.

Na sua avaliação, quais são hoje os principais gargalos para o avanço do agronegócio brasileiro, na sustentabilidade ou em geral?

O agronegócio brasileiro cresceu como nenhum outro no mundo nas últimas décadas. Temos produtividade, tecnologia, rotação de culturas, exportação. E também somos líderes em boas práticas sustentáveis, embora isso muitas vezes não seja reconhecido. Nosso desafio é desmistificar a imagem de que agronegócio é sinônimo de desmatamento. Na prática, é o contrário: temos uma história forte e dados concretos para mostrar isso.

O sr. sente que estão conseguindo mostrar isso para o mundo?

Sim. Pela demanda crescente, pelas certificações que colocamos no mercado e pelos acordos com clientes, é um caminho sem volta. O Brasil está muito bem posicionado. Em mercados como a Europa, sustentabilidade já virou uma commodity — é requisito mínimo para fazer negócios. A Bunge está no meio da cadeia: conectamos o produtor ao consumidor final. Ouvimos o que vem das duas pontas e construímos soluções. Esse é o nosso papel.

O sr. fala sobre desmistificar a imagem do agronegócio. A COP-30, em Belém, pode ser um palco para isso?

Com certeza. A COP é uma plataforma crucial para mostrar. É até fácil falar de sustentabilidade, porque é fácil mostrar quando as boas práticas já são feitas. O agronegócio brasileiro é tecnológico, fomenta boas práticas e tem um potencial que nenhum outro país tem. Mostrar isso para o mundo é essencial. A Bunge vai participar da COP via Fundação Bunge, apresentando os projetos que já executa - e não mais pilotos. Estamos falando de rastreamento de ponta a ponta, programas regenerativos e soluções tecnológicas reais, conectando os clientes globais à agricultura brasileira. E quem mais se beneficia disso? O produtor rural, que já faz o certo e precisa ser reconhecido por isso.

O sr. está otimista com os resultados da COP?

Acho que temos de estar. Quando a gente fala de sustentabilidade, fala muito de negócios, mas também de longevidade, de qualidade de vida. Fazer o certo em sustentabilidade é fazer o certo para o planeta e, no fim, para nós mesmos como indivíduos.

Estadão
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