Com que dinheiro a Netflix vai bancar compra bilionária da Warner Bros. Discovery? Entenda trâmites
Aquisição dos ativos da Warner custará US$ 72 bilhões; transação também envolve dívidas da empresa, o que eleva o valor total para US$ 82,7 bilhões
A Netflix anunciou nesta sexta-feira, 5, um acordo para comprar os estúdios e o serviço de streaming da Warner Bros. Discovery, em uma transação avaliada em US$ 82,7 bilhões. Ao todo, a compra dos ativos da Warner custará US$ 72 bilhões, mas a proposta também envolve as dívidas da empresa, o que eleva o valor total para US$ 82,7 bilhões.
Em comunicado divulgado aos investidores, a Netflix afirmou que pagará US$ 27,75 por ação, em uma transação que envolverá ações e dinheiro. Segundo a empresa, cada acionista receberá US$ 23,25 em dinheiro e US$ 4,50 em ações ordinárias da Netflix para cada ação ordinária da Warner em circulação no fechamento da transação. Assim, cerca de 84% do acordo deve ser pago em dinheiro.
No mesmo comunicado, a Netflix explicou que contará com o apoio de três instituições financeiras para financiar o negócio: Wells Fargo, BNP Paribas e HSBC. "O Wells Fargo está atuando como consultor financeiro adicional e, juntamente com o BNP Paribas e o HSBC, está fornecendo o financiamento de dívida comprometido relacionado à transação", afirmou.
O serviço de streaming encerrou o ano passado com mais de 300 milhões de assinantes, após ganhar 18,9 milhões de novos clientes no último trimestre de 2024, um número recorde que superou as expectativas do mercado.
Já neste ano, a empresa registrou lucro operacional de US$ 2,98 bilhões no primeiro trimestre, US$ 3,77 bilhões no segundo trimestre e US$ 2,55 bilhões no terceiro trimestre.
A margem operacional do terceiro semestre, no entanto, ficou abaixo do esperado: a previsão da Netflix era de 31,5%, mas a realidade foi de 28%.
Segundo a empresa, esse resultado foi uma consequência de "disputas tributárias com autoridades brasileiras", que envolveram o pagamento de US$ 619 milhões em impostos. A notícia, divulgada no final de outubro, fez com que o serviço de streaming perdesse US$ 33 bilhões em valor de mercado em apenas um dia, chegando a US$ 494 bilhões na época.
Com a aquisição da Warner, a Netflix espera atrair mais assinantes, impulsionar o engajamento e gerar receita e lucro operacional adicional. "A empresa também espera obter uma economia de custos de pelo menos US$ 2 a 3 bilhões por ano a partir do terceiro ano e prevê que a transação contribua para o aumento do lucro por ação a partir do segundo ano", afirmou.
Quais são os próximos passos?
A transação foi aprovada por unanimidade pelos Conselhos de Administração da Netflix e da Warner, mas ainda depende da conclusão da separação da Discovery Global em duas empresas: uma de estúdios e serviços de streaming, que será adquirida pela Netflix, e outra de canais de televisão por assinatura, que inclui marcas como CNN e TNT Sports nos EUA. Esse processo deve ser finalizado até o terceiro trimestre de 2026.
A venda também precisa da aprovação dos acionistas da Warner, antes de partir para uma etapa complexa: a aprovação de agências regulatórias. As regras variam de um país para o outro, mas órgãos de defesa da concorrência costumam exigir aprovação sempre que a empresa adquirente e a adquirida atuam de forma significativa naquele mercado. Neste caso, se a transação for aprovada, a Netflix pode se tornar um dos maiores conglomerados de mídia do mundo.
Nos EUA - país de origem das duas empresas -, a compra será avaliada pelo Departamento de Justiça e pela Comissão Federal de Comércio (FTC, na sigla em inglês). No Brasil, a aprovação deve ser responsabilidade do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e, na União Europeia, da Direção-Geral da Concorrência da Comissão Europeia.
Produtores querem barrar compra
O processo, no entanto, não será simples. Segundo o jornal The New York Times, um grupo de produtores de cinema anônimos enviou uma carta ao Congresso dos EUA para expressar "sérias preocupações" sobre a transação. "A Netflix considera qualquer tempo gasto assistindo a um filme no cinema como tempo não gasto em sua plataforma", diz a carta. "Eles não têm incentivo para apoiar a exibição cinematográfica e têm todos os incentivos para acabar com ela."
O texto também cita a preocupação com o "controle monopolista" do mercado de streaming. De acordo com o jornal, os produtores disseram que não assinaram a carta por "medo de represálias".