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'Azul na ponte aérea é cortina de fumaça', diz presidente da Gol

Para Paulo Kakinoff, concorrente usa artifício para invalidar regra de distribuição dos ativos da Avianca, caso ela quebre

10 jun 2019 - 05h10
(atualizado às 15h28)
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É pouco comum, no mundo das grandes corporações brasileiras, críticas públicas a atitudes de concorrentes. Paulo Kakinoff, presidente da Gol, resolveu, porém, questionar de forma direta a atuação da Azul no processo de disputa pela Avianca Brasil. A Justiça decidiria nesta segunda se os ativos da companhia aérea, que está em recuperação judicial, irão a leilão.

Para o executivo, a Azul está criando uma falsa imagem, junto à população, de que se tivesse mais slots (autorizações para pouso e decolagem) em Congonhas, a competição aumentaria e os preços das passagens cairiam. "A Azul desconsidera um processo de recuperação judicial legítimo e a regulamentação vigente", afirma.

Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista:

A Azul acusa Gol e Latam de entrar na disputa pela Avianca para tirá-la do jogo. Como o sr. responde a isso?

Isso é uma falácia repetida para influenciar a opinião pública. A Gol decidiu participar do processo de venda porque tem a estratégia de procurar oferecer mais voos a preços atraentes. Nossas discussões sobre a aquisição dos ativos da Avianca se iniciaram muito antes da recuperação judicial. A posição adotada pela Azul decorre apenas da sua frustração: acreditava que iria se apropriar das posições, pagando muito pouco ou quase nada. A verdade é que do ponto de vista concorrencial nada mudou.

Como assim?

Sempre foi possível à Gol ou a qualquer companhia aérea apresentar proposta concorrente à da Azul. Mas o formato proposto inicialmente pela Azul (na qual ela compraria sozinha os slots da Avianca) era extremamente anticompetitivo - favorecia apenas a ela na medida que seus principais concorrentes (Gol e Latam) enfrentariam dificuldades de ter uma operação (de aquisição) aprovada pelas autoridades. Temos agora um formato nivelado, em que todos os interessados participam em condições de igualdade. Nesse processo, a Gol foi a única aérea que nunca deixou de aceitar passageiros da Avianca. Foram 43 mil clientes desde dezembro, com custo superior a R$ 10 milhões. E fizemos um aporte de R$ 52 milhões na companhia para financiar o capital de giro e nunca abordamos nenhuma das empresas que faziam leasing para a Avianca para retirada de aviões.

Os recursos foram todos para a Avianca ou houve acordo para que fossem para o fundo Elliott, que propôs a entrada de Gol e Latam na disputa?

Todos os recursos foram para o caixa e a gestão da empresa.

Latam e Gol são as mais beneficiadas com o fim da Avianca?

A Gol não será a maior beneficiada. Se vier a decretar falência, todas as empresas que operam nas rotas da Avianca serão igualmente beneficiadas.

A Air Europa mostrou interesse pela ponte aérea. O que é melhor: Azul ou Air Europa competindo no trecho?

A Gol respeita e valoriza a livre concorrência. Neste momento, está se discutindo a possibilidade de empresas estrangeiras operarem no País com a autorização da participação de 100% de capital estrangeiro, decisão que sempre foi apoiada pela Gol.

Como o sr. viu a propaganda que pedia Azul na ponte aérea?

Esse tipo de recurso cria uma realidade fantástica com o claro objetivo de manipular a opinião pública e os órgãos reguladores. É uma prática empresarial antiga e que já deveria ter sido abolida. A Azul demonstra pretender obter os slots da Avianca por um caminho alternativo que desconsidera o processo de recuperação judicial legítimo e a regulamentação vigente. Plano que, acredito, não terá êxito, pois os órgãos reguladores do Brasil são sérios, técnicos e independentes.

A Azul na ponte aérea não favoreceria o consumidor?

Inicialmente, é importante desmistificar o tema: se realmente tivesse interesse, a Azul já estaria operando na ponte aérea, independentemente da recuperação judicial da Avianca. A Azul já possui hoje uma quantidade de horários de pousos e decolagens disponíveis em Congonhas superior àquela alocada pela Avianca para operar na ponte aérea. A Azul não opera na ponte aérea por uma questão comercial própria, e não por não dispor dos horários. Esse tema da ponte aérea é uma cortina de fumaça para invalidar a regra vigente de distribuição de slots. Ainda não conseguimos enxergar quais seriam os benefícios ao consumidor. A Azul tem as tarifas mais altas do mercado. Nas rotas que opera sozinha, as tarifas chegam a ser 70% mais caras que as praticadas pela Gol em trechos equivalentes. Basta comparar os valores das passagens para o mesmo destino.

Com a saída da Azul da Abear, houve um 'racha' no setor?

Não houve racha no setor. Tivemos um concorrente que decidiu sair da associação, sem nenhum impacto ou prejuízo em sua atuação.

Não é melhor para a Gol que o leilão não aconteça, para que ganhe os slots sem custo?

Se não houver leilão, defendemos que sejam distribuídos pela regulação 338, que determina que metade dos slots irá para novos entrantes e metade entre Gol, Latam e Azul.

Haverá novos entrantes?

Tenho absoluta certeza de que sim, haverá novos entrantes.

Azul diz não ter como competir na ponte aérea

John Rodgerson, presidente da Azul, refuta o argumento de que a companhia está usando artifícios para mudar a regulamentação e conseguir as autorizações de pouso e decolagem (slots) da Avianca Brasil. "A Azul foi a única a apresentar propostas (na disputa pela Avianca Brasil) que preservariam empregos, consumidores e credores", diz. "Já a Gol fez um acordo no qual um único credor, o fundo de investimentos Elliott, levou para fora do Brasil US$ 70 milhões, pagos antes dos funcionários, que provavelmente perderam empregos e rescisões."

Segundo ele, a Azul não teria como já operar na ponte aérea, a partir de Congonhas. "Para competir na ponte aérea, é preciso alta frequência de voos, no mínimo um a cada hora", diz. "Hoje, a Azul tem só 13 slots em Congonhas, número inexpressivo se comparado aos mais de 260 slots de Gol e Latam."

Rodgerson diz, referindo-se aos preços praticados pela Azul, que todas as 106 cidades nas quais ela opera estão abertas para que concorrentes coloquem voos. "Exceto um aeroporto, o de Congonhas", diz. "Os brasileiros merecem uma terceira opção em Congonhas, aumentando a concorrência."

Estadão
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