'Poder Paralelo' traz bom texto, mas não consegue conquistar audiência
Poder Paralelo tem tudo para ser uma grande novela. Daquelas que ficam guardadas na lembrança por muito tempo. A trama da faixa das dez da Record conta com texto inteligente e eletrizante de Lauro César Muniz, elenco de primeira, recursos técnicos e efeitos especiais bem cuidados.
No entanto, mesmo com tudo tão superlativo, a trama não tem colhido bons frutos na audiência. A média tem ficado em torno dos dez pontos, seis a menos que Chamas da Vida, que ocupava o mesmo horário.
Apesar disso, o autor tem se mantido na proposta que fez nas primeiras semanas em que a trama estreou: resgatar o estilo mais consistente de se fazer novela. Assim como era nos anos 70 e 80. O texto denso e bem amarrado dá a impressão que a história não tem falhas. E, mesmo tendo como trama central a história de Tony Castellamare, os núcleos restantes não são menos interessantes.
As atuações são marcantes e os protagonistas estão dentro de cada história. A começar por Fernanda, de Paloma Duarte. A atriz conseguiu sair do papel de vítima e passou a desenvolver sua própria história ao lado de Rudi, de Petrônio Gontijo. Outro que tem despertado olhares com a boa interpretação do empresário drogado e apaixonado por Fernanda. Sem cair em exageros ou caricaturas, Petrônio passa credibilidade na hora em que o dependente químico tem crises.
No romance mais "água-com-açúcar" na trama, Patrícia França e Guilherme Boury tiveram um encaixe fácil. Tiro certeiro da escalação do elenco em relação ao casal de pombinhos. A diferença de idade da dupla, que desperta o drama dos dois na história, não incomoda os olhos e tem torcida. O filho da autora Margareth Boury mostra talento ao lado da atriz veterana. Como Nina e Pedro, os dois têm interpretações equilibradas.
O tal equilíbrio, aliás, é o que tem faltado a Miguel Thiré, intérprete do fotógrafo Dog. O rapaz que na trama se envolve com Gigi, de Karen Junqueira, a melhor amiga da namorada Luísa, de Fernanda Nobre, parece ficar sufocado ao lado das companheiras de cena. Falta emoção, malandragem e verdade. Itens fundamentais para convencer como um bom cafajeste.
No núcleo mafioso engravatado, Paulo Gorgulho se sobressai. No estilo David Bowie, com um olho de cada cor, movimentos e texto em cena saem com uma facilidade admirável. Mas Iago, de Antonio Abujamra, não fica atrás. A experiência o leva ao mesmo patamar do intérprete de Santanna.
E ambos não deixam esfriar o mistério em torno de Tony Castellamare. E é mesmo por conta disso que ainda é agradável ligar a TV e perceber que, mesmo após muitas semanas no ar, o protagonista vivido por Gabriel Braga Nunes ainda não se mostrou mocinho ou bandido.
Os segredos de sua vida são escondidos até mesmo de sua mãe Freda e seu pai Don Caló, interpretados com maestria por Lu Grimaldi e Gracindo Jr. Ao melhor estilo de Honra e Vendetta, é bom que Lauro César mantenha o foco. E não deixe mostrar os mistérios que fazem de Poder Paralelo a trama mais interessante no ar atualmente.