Novo TV Mulher é feito com emoção olho no olho
No dia em que completou inaparentes 68 anos, Marília Gabriela presenteou o telespectador com a estreia arrebatadora do novo TV Mulher, no Canal Viva.
Exibido na noite de terça-feira (31), o programa foi uma aula de como se faz televisão de qualidade na base da boa conversa entre pessoas com interesses convergentes e um objetivo comum: o fim de todos os preconceitos.
A atração começou com overdose de emoção. Melodia do clássico 'Fascinação' como trilha sonora, Gabi leu um editorial em formato de carta pessoal endereçada a Elis Regina, primeira entrevistada do TV Mulher, em 1980.
De maneira poética, a apresentadora relatou os avanços, as estagnações e os retrocessos da luta feminina por igualidade em todas as áreas.
Falou de violência doméstica, salário ainda menor em relação aos homens, preconceito racial, direitos conquistados pelas empregadas domésticas, diversidade sexual. Um dossiê do que vivemos todos, homens e mulheres, nos últimos 36 anos.
O telespectador que se sentiu motivado a um exercício lúdico foi capaz de imaginar Elis ali, brava com algumas informações, reagindo passionalmente a outras, gargalhando ao final das palavras amistosas de Gabi, quase em lágrimas. Uma abertura com grau de sensibilidade raro e valioso na TV feita hoje em dia.
Elis, Elis, Elis
Quem assistia a tudo, do camarim, era Maria Rita, filha de Elis. Emoção silenciosa no ar.
Mais tarde, no palco, a cantora surgiu com a filha, Alice. Durante o papo, a cantora e Marília Gabrila relembraram as idas de Maria, quando criança, ao antigo programa, e também a morte de Elis. Houve confiança mútua para revelações íntimas.
Maria Rita admitiu ter tido momentos de raiva extrema ao descobrir, na adolescência, que a mãe usava drogas e havia morrido em consequência daquele vício. Nunca antes o tema havia sido discutido diante das câmeras de maneira tão aberta e honesta.
Na despedida, a cantora comentou: "É necessário esse espaço, essas conversas". Sim, Maria Rita, você tem absoluta razão. A televisão precisa ser menos imediatista, menos superficial. E, tomara, o telespectador há de se reeducar para ter a paciência de um bom observador e o interesse de um dedicado ouvinte.
Elas e eles
O programa conta a participação de especialistas de vários assuntos. Entre eles, a jornalista Flávia Oliveira comenta o cotidiano da mulher, a psicanalista Regina Navarro Lins aborda as questões de sexo e prazer, e o jornalista Ivan Martins apresenta o olhar masculino na relação com o universo feminino.
No quadro Elas na TV, o multiartista Theodoro Cochrane assume a função de entrevistador de grandes atrizes. Ao rememorar personagens marcantes da teledramaturgia, traça-se um panorama com a trajetória da mulher ao longo das últimas décadas. Regina Duarte participou da estreia e falou de Malu, do seriado Malu Mulher, e de Raquel, de Vale Tudo. Dois tipos inesquecíveis que suscitaram discussões sobre violência contra a mulher, emancipação feminina e orgasmo. Bem-humorada, Regina surpreendeu ao opinar sobre Raquel: "Era uma chata. Mas tinha um lado importante: a briga contra a corrupção".
Caçula de Marília Gabriela, Theodoro provou, mesmo sem a necessidade de fazê-lo, que o convite da direção para integrar o programa foi mesmo por mérito próprio. Conduziu a entrevista com segurança e leveza.
Da vinheta de abertura ao cenário, dos depoimentos de ex-integrantes da equipe original aos novos colunistas, das análises entre Gabi e os colaboradores às imagens de arquivo, o TV Mulher recriado pelo Viva é um regalo aos saudosistas e um privilégio às novas gerações.
TV Mulher (Canal Viva) - Roteiro: Beth Ritto, Mariliz Pereira e Clarisse Goulart. Direção artística de Jorge do Espírito Santo. Direção geral: Leticia Muhana. Terças às 22h30. Reapresentações: sábado, às 21h, e domingo, às 19h.