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Letícia Spiller mira em 'The Office' para viver secretária

Atriz enfrenta desafio de viver personagem recatada em 'Boogie Oogie'

13 ago 2014 - 12h33
(atualizado às 12h45)
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O jeito intenso e extrovertido de Letícia Spiller direcionaram sua carreira na tevê. E funcionou tão bem para mocinhas ''despachadas'', como a Babalu de Quatro por Quatro, quanto para vilãs amorais, como a Maria Regina de Suave Veneno e a Viviane de Senhora do Destino. No ar em Boogie Oogie, a atriz agora precisa se despir de toda essa força de seu próprio jeito de ser para dar vida à discreta e apaixonada Gilda. ''É a personagem mais introspectiva e minimalista da minha carreira. Gilda não tem arroubos, ela é na dela, tranquila. A vejo como um exercício em direção ao naturalismo. Até quando a personagem tem alguma comicidade, é sem excessos'', descreve.

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Natural do Rio de Janeiro e ''cria'' do Tablado, renomada escola de atuação fundada por Maria Clara Machado, Letícia viu seu caminho se cruzar com os estúdios de tevê quando foi selecionada para ser Paquita no extinto Show da Xuxa, onde ficou de 1989 e 1991. ''Foi onde aprendi a ter disciplina e foco na carreira'', garante. Ao sair do programa, Letícia deparou-se com o preconceito de ter começado como assistente de palco, mas não se deixou abater. Aos poucos, foi galgando novas personagens, sempre querendo sair do óbvio. Aos 41 anos, ela exibe no olhar a satisfação pela trajetória que construiu. ''Tenho um leque muito variado de tipos na tevê. E foi difícil chegar a essa mistura, tive de conversar e convencer muitos autores e diretores (risos). Agora, acho que a Gilda chega para mostrar um lado da minha atuação que o público ainda não viu'', valoriza.

Terra – Poucos meses separam suas participações em Salve Jorge, Joia Rara e Boogie Oogie. O que a instiga a estar sempre no ar?

Na verdade, eu queria realmente dar um tempo entre uma novela e outra. Mas aí pinta um convite legal, eu adoro trabalhar e acabo aceitando. Salve Jorge, por exemplo, é fruto da minha vontade de voltar a trabalhar com a Glória (Perez). Joia Rara é aquele tipo de projeto de época que eu não seria louca de recusar. E Boogie Oogie nasce da vontade de sempre querer trabalhar com o Ricardo Waddington. Fora que é bem diferente da Lola.

Terra – A preocupação de não se repetir está sempre com você?

Tem de estar. Até porque, se eu não tivesse isso, poderia até hoje estar fazendo personagens parecidas com a Babalu, de Quatro por Quatro, ou vilãs próximas da Maria Regina de Suave Veneno. Toda intérprete quer variar e mostrar para si mesma e para o público que dá conta de sair da área de conforto. Fico feliz de ter a possibilidade de fazer isso não só no teatro e no cinema, mas também na tevê.

Terra – Ao longo dos anos 2000 você recusou vários trabalhos na tevê, como a Jade de O Clone, para se aventurar por peças experimentais e filmes mais conceituais. Em que momento a televisão voltou a ser interessante para você?

Acho que nunca deixou de ser interessante. Mas é que eu precisava vivenciar outras coisas. Não queria ficar indo de uma personagem para outra, encarar o trabalho de forma mecânica. Perdi protagonistas fascinantes, mas ganhei em experiência e versatilidade. Essa minha relação mais próxima com as novelas acontece em um momento onde eu me sinto segura como atriz, mãe e mulher. Me sinto muito bem com a chegada dos 40 anos. Antes, eu não tinha essa disposição toda (risos). Acho que é o auge da mulher.

Terra – Como assim?

Já passei por muitas mudanças, aprendizados. Fui elogiada e criticada em proporções bem parecidas. Hoje sei bem que consegui construir uma carreira legal, ampla e que me deixa orgulhosa. Além da novela, por exemplo, daqui a pouco será lançado O Casamento de Gorete, meu primeiro trabalho como produtora de cinema.

Terra – De onde vem essa vontade de experimentar outras funções?

Das minhas vivências. Vai que uma hora deixam de me chamar para trabalhar ou me oferecem apenas coisas que eu não estou com tanta vontade de fazer? Botei a mão na massa e me enfiei na burocracia que é fazer um filme, mas o resultado é revigorante. Me dá outra visão sobre bastidores de um meio que conheço bem.

Terra – Algum dia sua porção produtora pode se sobrepor à atriz?

Acho muito difícil. Me realizo como atriz e não posso reclamar das oportunidades que tive na carreira.

Terra – O que a Gilda e sua participação em Boogie Oogie agregam?

Novidade. Até porque nunca fiz nada parecido. Vivo flertando com mocinhas, vilãs e tipos mais cômicos e fortes. Ela é uma mulher comum, com aquelas complexidades cotidianas que a gente cansa de ver por aí. Gilda é uma secretária discreta, contida, apesar de ser amante de seu chefe, o Fernando, personagem do Marco Ricca. O texto é cheio de nuances, uma delícia.

Terra – Você se limitou ao texto para encarnar o novo papel ou buscou outras referências?Sou muito intuitiva e gosto de esmiuçar o que o texto entrega. Mas por a Gilda viver em um mundo empresarial, ter a discrição necessária para sobreviver a ele, eu acabei me inspirando muito na série americana The Office. Acho que os tipos femininos da série refletem bem o ''clima'' da Gilda. Todas escondem seus segredinhos, estão em casos extraconjugais. O local de trabalho é um microcosmo de divertidas relações. Depois de uma personagem forte e histriônica como a Lola, é bacana fazer algo mais minimalista.

Terra – Suas personagens costumam ser muito intensas. Você sente dificuldade em soar mais naturalista em cena?

Tramas de tons mais realistas são muito difíceis. Você precisa esquecer sua formação teatral mais alternativa e buscar o básico (risos). A gente sente isso durante as gravações de Boogie Oogie. Gosto de diretores que conduzem atores e o Ricardo é assim. Ao menor sinal de que alguém subiu o tom, ele já nos alerta. E eu confesso que, para mim, é difícil ser ''pequena''. Na vida, eu já falo muito com os olhos, com os gestos. Então, Gilda acaba tornando-se um exercício para explorar o ''menos''.

Terra – Em 1978, ano em que a trama está ambientada, você tinha apenas cinco anos de idade. Mesmo assim, consegue ter alguma lembrança dessa época?

Muitas coisas. Principalmente, em termos de música. Eu tenho duas irmãs mais velhas que viveram muito bem o final dos anos 1970 (risos). Então, lembro delas dançando, comprando roupas, se arrumando para sair, aproveitando a discoteca. Sendo assim, não caio de paraquedas no contexto da trama.

Escolhas e renúncias

A busca por diversificação e autonomia artística fez com que Letícia Spiller dissesse "não" algumas vezes para a tevê. A grande maioria dessas recusas aconteceu no início dos anos 2000, época em que a atriz estava mergulhada no teatro alternativo de diretores como Hamilton Vaz Pereira e, em seguida, passou a investir mais no cinema, em filmes como Oriundi e ''Paixão de Jacobina. Neste período, Letícia precisou raspar a cabeça e teve de recusar o convite de Glória Perez para viver a icônica Jade, de O Clone. ''Hoje em dia, depois de ter visto o trabalho, acho que deveria ter pensado melhor (risos). Mas agora não importa. Depois de tantas novelas, eu realmente precisava me reciclar como atriz. Foi um período de autoconhecimento'', analisa, sem remorso.

O sofrimento por ter recusado um papel de protagonista só bateu mesmo quando Letícia assistiu a ''Os Maias'', minissérie baseada na obra de Eça de Queiroz, onde voltaria a ser dirigida por Luiz Fernando Carvalho, com quem havia trabalhado na primeira fase de ''O Rei do Gado''. ''Me arrependo amargamente. Ficava triste ao ver a minissérie no ar, com aquelas cenas lindas, aquela elegância. Mas, anos depois, me redimi com o Luiz Fernando e fiz 'Afinal, O Que Querem As Mulheres?''', relembra.

Em destaque

Letícia Spiller possui dois personagens fundamentais em sua trajetória. Com a Babalu, de Quatro por Quatro, há exatos 20 anos, teve seu encontro com o grande público e mostrou que poderia ser mais que uma ex-Paquita. Outro momento de destaque foi sua primeira vilã, Maria Regina, de Suave Veneno. Bem ao gosto das malvadas criadas por Aguinaldo Silva, Letícia foi do inferno ao céu durante a exibição da trama. ''Fui ajustando a personagem aos poucos. Novela é bom por isso. A partir do que você vê em cena, é possível salvar o trabalho'', analisa.

Veja fotos da carreira da atriz:

Foto: Jorge Rodrigues Jorge/Carta Z Notícias / Divulgação
Foto: Jorge Rodrigues Jorge/Carta Z Notícias / Divulgação
Foto: Jorge Rodrigues Jorge/Carta Z Notícias / Divulgação
Foto: Jorge Rodrigues Jorge/Carta Z Notícias / Divulgação
Foto: Jorge Rodrigues Jorge/Carta Z Notícias / Divulgação
Foto: TV Globo / Divulgação

Fotos: Divulgação/ TV Globo

Fonte: Terra
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