Documentário revela troca de socos entre intérpretes do Bozo nos corredores do SBT
Produção em dois episódios mostra que nem tudo foi alegria nos bastidores do programa que fez sucesso com as crianças nos anos 1980
O lema do palhaço Bozo, que teve seu auge no Brasil entre as décadas de 1980 e 1990, no SBT, era "sempre rir". No entanto, nos bastidores do programa, o clima não era tão leve assim.
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É o que revela o documentário Sempre Rir: A História do Palhaço Mais Famoso do Mundo, produção original do SBT que entrou em cartaz na plataforma SBT + no dia 26 de julho. Dirigida por Jefferson Cândido, a produção revê, em dois episódios, a história do palhaço Bozo, criado nos anos 1940 pelo americano Alan Livingston, que estreou no Brasil em 1980, trazido pelo apresentador Silvio Santos.
Com depoimentos de ex-intérpretes do personagem aqui no Brasil, entre eles Luís Ricardo e Arlindo Barreto, o documentário ainda conta com a participação de nomes como a jornalista Sonia Abrão, que conduz a história, do ex-diretor do programa, Luís Mendes, e de ex-executivos do SBT.
Sempre Rir lembra que o primeiro intérprete do Bozo no Brasil foi o ator Wandeko Pipoca (1951-2024), que foi treinado por Larry Harmon, que adquiriu os direitos autorais do palhaço em 1956.
Com o sucesso do programa na TVS, emissora que posteriormente se integraria ao SBT, Pipoca ganhou fama e dinheiro, mas, por escolha de Silvio Santos, foi preterido por Luís Ricardo, que, em um primeiro momento, chegou a dividir as gravações com o ator original. Wandeko deixou o SBT em 1982, após se recusar a se apresentar de graça na festa de aniversário de uma das filhas de Silvio, conforme relatado no documentário.
Múltiplos intérprete do Bozo e ciúmes entre eles
Diante do aumento do tempo do programa no ar - Bozo chegou a ocupar mais de oito horas na grade da emissora -, outros atores foram chamados para dividir as gravações com Luís Ricardo. Um deles foi o ator Arlindo Barreto, que já atuava em programas humorísticos do SBT e havia trabalhado em pornochanchadas no cinema.
No documentário, Luís Ricardo conta que o clima nos bastidores entre ele e Arlindo - e, posteriormente, outros intérpretes do Bozo -, não era dos melhores. "Eu inventei o 'ai, que peninha' (um dos bordões do Bozo) e ele inventou o 'dá uma bitoca no meu nariz'. Mas um não falava o bordão do outro", conta Ricardo.
Barreto, por sua vez, diz que era necessário manter um padrão de interpretação para o Bozo, o que, segundo ele, não era seguido por Ricardo. "Ele era jurado do Show de Calouros e fazia a mesma voz nos dois programas".
O resultado foi uma troca de socos entre os dois nos corredores do SBT, conforme narrado por Sônia Abrão e pelo produtor Edílson Oliveira, que conta que teve que separar a briga. Na ocasião, Ricardo e Barreto estavam vestidos de Bozo, entre o intervalo das gravações.
No documentário, Barreto admite que fez o uso de bebida e drogas na época em que trabalhava como Bozo, mas nega que ia trabalhar sob o efeito de qualquer substância.
Outro intérprete do Bozo, Marcos Fiel, que atualmente também é pastor de uma igreja evangélica, conta que igualmente sofreu uma agressão por parte de Arlindo, que, ao vê-lo no estúdio, puxou o nariz vermelho de plástico que fazia parte da caracterização do personagem e o soltou com força contra seu rosto.
À parte das brigas nos bastidores, o documentário Sempre Rir: A História do Palhaço Mais Famoso do Mundo exalta o pioneirismo de Silvio Santos em apostar e dedicar grande parte da programação infantil da emissora ao palhaço Bozo, além de ressaltar o sucesso do programa e do personagem, que teve produtos licenciados, fila de anunciantes e shows lotados pelo Brasil.
A produção ainda destaca outros personagens do programa, como a Vovó Mafalda (Valentino Guzzo), Papai Papudo (Gibe), Salsi Fufu (Pedro de Lara) e Kuki (Rony Cócegas) e relembra os problemas de saúde e a morte do último intérprete do Bozo na primeira fase do programa no Brasil, Décio Roberto, que aceleraram o fim do programa no SBT, que já sofria com a queda de audiência no início dos anos 1990.
Em 2017, a trajetória do Bozo e de Arlindo Barreto inspirou o filme Bingo: O Rei das Manhãs, filme dirigido por Daniel Rezende e protagonizado por Vladimir Brichta.