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Conheça o processo de escolha da trilha sonora das novelas

3 abr 2009 - 15h53
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Cada beijo, cada cena de ação, de drama ou de comédia. Tudo pede uma canção. É quase impensável desvincular o fictício casal apaixonado de uma balada romântica que os embale. Mas a escolha da trilha sonora das novelas não é tarefa fácil.

Tem de ir de acordo com o tema do folhetim, do personagem e da situação. O trabalho é feito em conjunto. Diretor, produtor musical e autor se reúnem até decidirem as faixas que servirão para a novela. Funcionamento que demora quase tanto quanto a trama é escrita.

"Levei meses a fio para fazer uma pesquisa e analisar mais de 3 mil músicas. Dessas, 100 foram classificadas para uma pré-seleção e 55 foram aprovadas", revela a cantora, produtora e diretora musical Laura Finocchiaro, responsável pela trilha sonora de Revelação, do SBT.

"É trabalhoso, mas também prazeroso. Estive ao lado do produtor Mú Carvalho durante todo o processo, e sempre participo da escolha das canções", conta o autor Antônio Calmon, responsável pelo texto de Três Irmãs, da Globo.

A seleção musical passa por um longo processo de aprovação, adaptação e autorização. Isso porque, não basta o produtor, autor ou diretor gostar de uma música para que ela entre de imediato na trama.

É feito um trabalho de liberação junto às editoras e artistas para a utilização e sincronização da obra musical na novela. O que pode levar meses até que todos os contratos e autorizações sejam fechados.

"A maior dificuldade é quanto às músicas internacionais, principalmente quando a música proposta é de um sucesso atual", afirma o diretor musical da Record, Marco Camargo, que já foi jurado do programa musical Ídolos, da emissora.

Já o preço da música vai depender do tipo de utilização que ela terá na obra. "Se ela é usada como tema principal, tem seu valor. E se para ser usada como fundo musical, tem outro. Depende de como será executada", explica Laura, não comentando sobre esses valores.

Mas se pode tomar alguns rumos durante a escolha da trilha sonora. O de trabalhar com composições inéditas ou antigas, ou ainda com composições exclusivas. Foi o caso de Gilberto Braga. Em 2007, quando Paraíso Tropical foi lançada, o autor escolheu a canção Sábado em Copacabana, de Dorival Caymmi, para ilustrar a abertura da trama.

A música resumia praticamente grande parte da história, e seria ideal para abertura. Mas a gravação da música no disco da cantora Maria Bethânia estava imprópria para a abertura, já que era "ao vivo" e continha aplausos e ruídos que comprometiam a sonoridade. "Falei com a Bethânia que tinha gostado da música para a abertura, mas que ela não serviria como estava no CD. Combinamos e ela a gravou no estúdio exclusivamente para mim", conta o autor.

E quando toda essa escolha combina com a abertura, com o personagem e com a história da trama, a canção fica nas lembranças do telespectador por muito tempo. Em 1982, a música Promessas Demais, de autoria de Z. Barreto, M. Moreira e Paulo Leminsky, gravada por Ney Matogrosso, dava o tom de abertura da novela Paraíso de Benedito Ruy Barbosa.

"A canção ficou muito famosa, pois tinha impacto, era uma música muito forte", avalia a autora Edilene Barbosa. No mesmo ano, a canção Me Deixas Louca, da autoria do compositor mexicano Armando Mazanero, foi imortalizada na voz de Elis Regina, usada como tema do casal Luiza e Paulo Cézar, interpretado por Vera Fischer e Tarcísio Meira na novela Brilhante.

"A música fez um sucesso louco e foi a última gravação da Elis na vida", relembra Gilberto Braga. Em Caminho das Índias, Dira Paes já sente que o tema escolhido para a espevitada Norminha já caiu nas graças do público.

A atriz conta que a música Você Não Vale Nada, do grupo Calcinha Preta, serve até para que ela entre em cena mais animada e concentrada. "Canto para mim mesma para pegar o espírito do personagem, que tem tudo a ver com a Norminha, foi feita para ela", assume.

A boa e velha canção

Algumas músicas podem ser velhas, mas não saem da moda. Os responsáveis pela trilha ainda recorrem a antigas canções. E isso funciona quase como uma regra. É difícil ligar a tevê e não encontrar alguma canção do tipo no ar. Para o diretor musical de Paraíso Marcelo Barbosa, os "clássicos da música brasileira" são sempre atuais em qualquer tempo. E a sincronia entre som e imagem faz com que o público se interesse ainda mais pela história.

"Se o conjunto sai bem, o público se encanta e passa até a pedir mais a música", afirma o diretor. O autor Antonio Calmon também acredita que a utilização de regravações conhecidas é sucesso na certa. "Acho que todos ganham quando resgatamos músicas de qualidade para a trilha sonora", opina.

Mas a nostalgia que as canções trazem, podem nem sempre ser um fator positivo. A diretora e produtora musical de Revelação Laura Finocchiaro preferiu usar temas inéditos, apesar de acreditar que tais canções facilitem a comunicação.

"Pode ser perigoso, pois estimula um sentimento pessoal de lembrança que o tema já havia criado em você, por isso optei pelo novo", defende.

Instantâneas

# Em Três Irmãs, a atriz Cláudia Abreu sugeriu a música-tema de sua personagem Dora. A música se chama Midnight Bottle, de Colbie Caillat.

# Gravada em 1985 pelo cantor Wando, Fogo e Paixão é usada na abertura da novela Chamas da Vida, da Record. Desta vez, foi regravada e ganhou nova interpretação na voz de Fábio Junior.

# O autor Gilberto Braga é fã de Elis Regina. Tanto que a cantora faz parte da trilha sonora de todas as novelas que ele escreveu até hoje.

# O primeiro disco misto de trilha sonora da Globo ¿ com músicas internacionais e nacionais ¿, foi feito para a novela Três Irmãs.

# Um CD só com músicas indianas foi lançado acompanhando a novela Caminho das Índias.

Fonte: TV Press
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