Bonner quer paz: ataques em público o fizeram evitar avião e viajar 900 km de carro para ver os pais
Âncora que se despede do ‘Jornal Nacional’ após 39 anos pagou um preço caro por sua posição de poder no telejornalismo
Alvo de xingamentos e ameaças na internet e presencialmente, William Bonner foi obrigado a se isolar do mundo.
Certa vez, tomava um café numa padaria do Rio quando uma mulher exaltada passou a criticá-lo em voz alta, chamando a atenção de todos.
“Não só me insultava, como fazia a 1 metro e meio de distância do meu rosto. E eu não posso reagir. Apenas dizia: 'Não faça isso, não faça'. E as pessoas ao redor num constrangimento”, relembrou no ‘Conversa com Bial’ em 2020.
“E eu me sentia culpado por isso. Todos à volta só queriam tomar um café da manhã. Não queria tornar o dia de ninguém ruim.”
Odiado por extremistas da esquerda e da direita, ele se viu impedido de exercer o direito de ir e vir livremente. “A polarização chegou a um ponto em que minha presença em determinados locais públicos era motivadora de tensões.”
A vida social do âncora se restringiu a encontros com parentes e amigos próximos. “Eu recebo muitos convites, mas qual é o meu temor. Se eu for ao teatro e houver um, porque basta um, num teatro, num avião, num aeroporto. Basta um levantar a voz e fazer uma graça com o celular filmando, eu arruíno o show, arruíno a peça de teatro e estrago a viagem de todo mundo”.
Aliás, viagens pelo Brasil se tornaram quase proibidas. Desistiu inclusive dos voos da ponte-aérea a fim de evitar possíveis manifestações políticas de passageiros.
Para visitar os pais dele, William Bonemer e Maria Luiza, quando estavam doentes (ambos já faleceram), o jornalista fazia frequentes bate-voltas de carro entre Rio e São Paulo, dirigindo quase 1.000 km nos dois trechos.
A partir de 4 de novembro, quando não estará mais na bancada do ‘JN’, ele vai ter uma rotina mais tranquila ao lado da mulher, a ceramista Natasha Dantas, e dos cães do casal.