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Ironia: jogadora compulsiva é pessoa mais sensata da novela

Silvana esbanja coerência de atitudes enquanto não enxerga o próprio vício em ‘A Força do Querer’

22 set 2017 - 14h49
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A arquiteta interpretada por Lília Cabral é altruísta e, ao mesmo tempo, autodestrutiva
A arquiteta interpretada por Lília Cabral é altruísta e, ao mesmo tempo, autodestrutiva
Foto: Divulgação/TV Globo

Grande atriz que é, Lilia Cabral dá show de atuação até em cenas curtas e com poucos diálogos.

A expressividade facial transmite a convulsão de sentimentos que tomam sua personagem, a arquiteta Silvana de ‘A Força do Querer’.

Trata-se de uma compulsiva por jogo que não admite a dependência que a corrói por dentro e coloca em risco a relação com a filha, Simone (Juliana Paiva), e o casamento com Eurico (Humberto Martins).

Sensível e equilibrada, a jovem tenta ajudar a mãe fazendo inúmeros alertas em relação à necessidade de tratamento contra a ludomania, nome científico do vício em jogar.

Horrorizada com as reprimendas da filha, Silvana se nega a reconhecer o transtorno patológico e ainda se coloca como vítima de incompreensão. “Não sou viciada, paro de jogar quanto quiser”, repete à exaustão.

A empregada e cúmplice nas mentiras, Dita (Karla Karenina, em excelente performance), também tenta convencer a patroa a parar de enganar a si mesma e buscar ajuda especializada. Igualmente em vão.

Eurico, o marido turrão, já fez inúmeras ameaças de separar-se caso Silvana se entregue à jogatina. Cego por sua ignorância, não percebe que a mulher a quem tanto ama jamais deixou de arriscar a dignidade nas mesas de poker.

Nos próximos capítulos, a arquiteta terá o apartamento invadido por agiota a quem deve dinheiro. Semanas atrás, ficou refém de jogadores por não ter como pagar uma dívida na hora.

Seu carro de luxo foi consumido pelo vício e ela até falsificou a assinatura de Eurico para retirar altas quantias de uma conta da empresa da família. A dependência a fez perder a ética e o senso de autopreservação.

Contudo, diante de problemas alheios, Silvana é a personificação da coerência. Enxerga além das aparências e dá conselhos sábios.

Um exemplo é o acolhimento da sobrinha, Ivana (Carol Duarte), que foi rejeitada pelos pais ao se assumir transexual e adotar o nome Ivan.

A arquiteta obrigou o marido a contratá-lo como jardineiro para que o rapaz tivesse como sobreviver sozinho. Ao mesmo tempo, fez o possível para convencer a intolerante Joyce (Maria Fernanda Cândido) a não rejeitar a filha trans.

Em outro momento, a personagem mostrou a capacidade de empatia ao acolher Bibi (Juliana Paes) em sua casa, para que a ‘baronesa do crime’ não fosse detida pela polícia.

Foi uma retribuição por ter sido salva pela ex-estudante de Direito do cativeiro onde foi mantida após perder uma pequena fortuna numa noite de jogo clandestino.

E assim, tropeçando na própria dependência e, ao mesmo tempo, ajudando pessoas ao seu redor, Silvana se tornou uma das personagens mais interessantes e críveis de ‘A Força do Querer’.

Ela é como a maioria de nós: imperfeita, ambígua, frágil e também forte, autodestrutiva e altruísta. A contradição em pessoa.

O talento e o carisma de Lília Cabral, no auge da maturidade artística aos 60 anos, fazem um tipo com aspecto às vezes tão sombrio como Silvana despertar a compreensão e a torcida dos telespectadores.

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Fonte: Especial para Terra
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