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'Pequeno Oratório do Poeta Para o Anjo' resgata obra de Neide Archanjo

Poesia da escritora é levada ao palco por Ana Cecília Costa na Biblioteca Mario de Andrade

10 out 2022 - 05h11
(atualizado às 07h26)
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Em outubro do ano passado, a atriz Ana Cecília Costa, de passagem pelo Rio de Janeiro, visitou a poeta Neide Archanjo (1940-2022) em um hospital, onde ela estava internada por causa de complicações de três AVCs (Acidente Vascular Cerebral). A escritora parecia lúcida, apesar do olhar perdido e da ausência da fala, e Ana Cecília, pressentindo a despedida, improvisou um sarau.

A atriz Ana Cecília no espetáculo 'Pequeno Oratório do Poeta para o Anjo'. Foto Laercio Luz
A atriz Ana Cecília no espetáculo 'Pequeno Oratório do Poeta para o Anjo'. Foto Laercio Luz
Foto: Laércio Luz/Divulgação / Estadão

Diante do leito, interpretou versos de Neide em busca de interlocução, como já tinha feito, no auge da pandemia, por meio de chamadas de vídeo para o celular da cuidadora da poeta. "Foi lindo, eu estava no meu melhor momento, como atriz e amiga, e ela no melhor dela, como poeta e amiga também", recorda.

A paulistana Neide Archanjo, que também era advogada e psicóloga e vivia no Rio desde a década de 1980, morreu no dia 14 de janeiro, aos 81 anos. "Entendi a partida dela como uma libertação porque sua poesia continua viva", afirma a atriz. Para que as palavras de Neide voltem a ganhar o espaço merecido, Ana Cecília estreia o solo Pequeno Oratório do Poeta Para o Anjo, que poderá ser visto todas as segundas de outubro, às 19h, na Biblioteca Mário de Andrade, com entrada franca.

Sob a direção de Luciana Lyra, ela interpreta os 16 poemas do livro homônimo, publicado em 1997, acompanhada da instrumentista Erika Nande, que toca piano, violão e baixo acústico na apresentação.

Luciana fez uma opção radical para levar Pequeno Oratório do Poeta Para o Anjo ao teatro. Não existe qualquer dramaturgia ou adaptação em nome da construção de personagens. Quem aparece no palco é Ana Cecília, vestindo um smoking que era de Neide, em um tom narrativo, emprestando sua voz com fidelidade às palavras da autora. "Procurei um distanciamento da Ana Cecília para extrair a sua emoção da relação dela com a poesia e não com a poeta", declara a diretora. A protagonista complementa as intenções do projeto. "Queremos valorizar o trânsito entre o sagrado e o homoerótico, algo presente em toda a obra dela."

Amizade

A atriz conheceu Neide em 1994 na festa de aniversário de uma amiga comum, a cantora Belô Velloso, no Rio de Janeiro. Pouco depois, compareceu ao lançamento do livro Tudo é Sempre Agora e, de posse do autógrafo da autora, começou a decifrar seus textos e compreender sua personalidade provocativa e até irreverente. "Neide dominava qualquer ambiente, era eloquente, carismática, sem cair nunca no desbunde, algo comum no Rio de Janeiro", conta ela, sobre a o início da estreita amizade.

Para a protagonista do solo, Pequeno Oratório do Poeta Para o Anjo trata da visita de um anjo a um escritor - e este ser celestial é a própria musa. "O poeta pode ser um homem ou uma mulher, e Neide repassa todas as etapas do amor, o enamoramento, a paixão e o abandono", explica.

Em tempos de fervorosos debates sobre a questão de gênero, Ana Cecília lamenta que Neide não seja citada como nome referencial da literatura LGBT. "Ela foi precursora ao se posicionar como poeta lésbica e corajosa ao abordar o homoerotismo com rigor e beleza", completa a atriz, que está em cartaz na cidade ainda com o espetáculo Mary Stuart, de quinta a domingos, no Teatro do Sesi.

A atriz Ana Cecília no espetáculo 'Pequeno Oratório do Poeta para o Anjo'. Foto Laercio Luz
A atriz Ana Cecília no espetáculo 'Pequeno Oratório do Poeta para o Anjo'. Foto Laercio Luz
Foto: Laércio Luz/Divulgação / Estadão
Estadão
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