'Orbital' é como a estação espacial da história: gira, gira e não chega a lugar nenhum
Lançamento aguardado, o romance de Samantha Harvey premiado em 2024 com o Booker Prize é menos do que se propõe. Apesar de ter passagens excelentes, ele escorrega ao ser ginasiano demais e ter um otimismo pegajoso. Mas é bem escrito
Parafraseando as palavras de João Guimarães Rosa no conto O espelho, quando nada acontece, há um planeta indo para o saco.
De fato, uma boa forma de ler Orbital (DBA, tradução de Adriano Scandolara) talvez fosse a seguinte: encará-lo como uma espécie de oração fúnebre ou um lamento surdo pelo que fizemos com a Terra e a nossa própria espécie.
O problema é que o romance da inglesa Samantha Harvey, premiado com o Booker Prize 2024, raramente permite isso. As páginas são permeadas por certo otimismo pegajoso, ainda que o tempo avance "com seu niilismo de sempre". Afinal, olhando lá de cima, tudo é tão bonito, não é mesmo? Incluindo o supertufão que devasta as ilhas Marianas e avança célere para as Filipinas.
O texto da orelha sugere que Orbital é "mais" do que ficção científica, que "não se filia à literatura de gênero" (o tipo de bobagem que só quem desconhece literatura de gênero escreveria). Lendo o romance, contudo, percebemos que o problema não é o livro ser "mais" do que ficção científica: é ser menos. Em suas investidas pretensamente filosóficas, Samantha Harvey não sobrevive à reentrada.
Orbital
- Autora: Samantha Harvey
- Trad.: Adriano Scandolara
- Editora: DBA (192 págs.; R$ 79,90; R$ 55,90 o e-book)