"Punk Rock sempre vai existir", diz X antes de show com Pearl Jam
- Rafael Machtura
Convidados pessoalmente para abrir a turnê sul-americana do Pearl Jam, que começa nesta quinta-feira (3) em São Paulo, no Estádio do Morumbi, o grupo punk rock X é pouco conhecido pelo público brasileiro. Formado em 1977 em Los Angeles por John Doe, Exene Cervenka, Billy Zoom e D. J. Bonebrake, o quarteto é uma das principais bandas da cena californiana ainda na ativa, sendo idolatrada por ninguém menos que Eddie Vedder.
Em entrevista ao Terra, John Doe comenta sobre a primeira turnê da banda no Brasil, sobre o que espera dos shows no País ("Nós vamos tocar o máximo que a gente conseguir em 45 minutos") e ainda sobre a falta de sucesso que fez Zoom deixar a banda em 1986. "Eu acho que isso foi apenas uma parte do que levou ele sair. A outra foi que ele sentiu que tudo estava muito repetitivo", explica.
No papo, o vocalista ainda contou da apropriação do nome da banda pelo trio francês The XX - "aconteceria uma briga e nós os derrubaríamos se nós conhecêssemos" - e sobre a sua música - "punk rock é algo que sempre vai existir no underground, onde há 200 ou 400 pessoas assistindo-o em pequenos clubes".
Confira a entrevista completa:
Terra - Esta é a primeira vez que vocês tocam no Brasil. Como vocês estão?
John Doe - Todos nós achávamos que nós nunca viríamos para cá, e isso não aconteceria se o Pearl Jam não fosse fã da banda. Estar aqui é bem animal. Eu vi uns vídeos dos Ramones na América do Sul e é bem maluco.
Terra - E como surgiu o convite para tocar com o Pearl Jam na turnê sul-americana?
John Doe - Nós abrimos para eles em 1999 para quatro shows nos Estados Unidos e ficamos amigos. Então Eddie e eu fizemos algumas coisas juntos e ele gravou uma das minhas músicas, The Golden State. E aí surgiu o convite novamente. Eu acho que há um monte de semelhanças entre o punk rock e o grunge, porque nós somos duas bandas honestas que fazem um som direto.
Terra - Vocês não são muito conhecidos por aqui. Tem algum plano para conseguir a atenção do público?
John Doe - Não. A gente sabe que a música irá se comunicar por ela mesmo, porque eu sei que no Brasil as pessoas gostam de punk; Nós vamos tocar todas as músicas bem rápidas e tocar o máximo que a gente conseguir em 45 minutos de show.
Terra - A banda não tem nenhum material inédito desde 1997. Vocês estão planejando lançar algo inédito em breve?
John Doe - Eu acho que no próximo ano. A gente tem tocado bastante este ano e isso abre um caminho para composições.
Terra - Você acaba de lançar um álbum solo. Como você está promovendo ele tocando com o X?
John Doe - Eu lancei The Keeper mais ou menos há um mês, e quando eu não estou com o X eu saio de turnê sozinho.
Terra - E qual é a diferença entre a banda e o projeto solo?
John Doe - O que faço é um pouco mais variado, mais lento, voltado para as letras e também mais blues e country.
Terra - Em 2009 Exene foi diagnosticada com esclerose múltipla, mas isso não era certo. Ela realmente tem a doença ou foi erro médico?
John Doe - Até agora parece que foi erro médico. Ela está bem e saudável como sempre.
Terra - Billy Zoom deixou a banda em 1986 porque Ain't Love Grand! não foi um grande sucesso comercial. Como vocês estão lidando com o sucesso ou a falta de sucesso hoje?
John Doe - Neste momento nós não estamos na mesma situação do que antes. Eu acho que isso foi apenas uma parte do que levou ele sair. A outra foi que ele sentiu que tudo estava muito repetitivo; a gente gravava e saia em turnê, gravava outro disco e saia em turnê. Eu acho que a falta de sucesso foi apenas essa repetição, mas hoje nós estamos em um bom nível de reconhecimento. Nós tocamos entre 50 a 75 shows por ano, há pessoas de todas as idades nas nossas apresentações e é melhor para nós dessa maneira porque não tem muita pressão.
Terra - E como é tê-lo de volta na banda e tocar com a formação original?
John Doe - Billy voltou para banda quando abrimos para o Pearl Jam em 1999, então já 12 anos. É sempre bom tê-lo de volta porque ele toca um estilo particular de rockabilly-punk na guitarra que é único.
Terra - E como é para vocês depois de mais de 30 anos de banda, um grupo francês se apropriar do nome e montar o The XX?
John Doe - Eu não gosto disso. Fora a batalha judicial, tanto faz. Nós sabemos quem somos e eles podem ser o que são. Mas particularmente eu não gosto da música deles.
Terra - Vocês entraram na justiça para brigar pelo nome?
John Doe - Não, é sem sentido. Muito problema.
Terra - E vocês já se encontraram?
John Doe - Aconteceria uma briga e nós os derrubaríamos se nos conhecêssemos. (risos)
Terra - O que você acha dessas novas bandas que se denominam punk rock?
John Doe - Eu acho que é uma forma diferente de punk, e isso tem acontecido desde o começo. Bandas inglesas eram diferentes das de Nova York, assim como bandas de Los Angeles eram diferentes dos grupos de Nova York; Eu acho que há um grande mundo punk no underground dos Estados Unidos e um público muito maior para esse tipo de punk mais pop, que é Green Day, Blink 182 e NOFX. Mas punk rock é algo que sempre vai existir no underground, onde há 200 ou 400 pessoas assistindo-o em pequenos clubes. Eu acho que essa é a maior parte do seu sucesso.