Irônico, Nei Lopes lança CD de samba com rap
É no ritmo falado do rap que Nei Lopes abre o CD Chutando o Balde. Mas, finda a introdução da faixa-título, fica claro que o compositor continua fiel ao samba e à cultura nacional, cujos valores defende com ironia - nem sempre fina - neste disco de tom mordaz. Em Samba de Fundamento, faixa que evidencia a opção pela economia percussiva, o alvo são os que forjam imagem de sambista para estar na moda e na mídia.
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Samba-enredo e até rumba
Nei Lopes é bamba. Aos 67 anos, o compositor é dono de obra fundamentada nos pilares do samba. O que explica a facilidade com que o eficiente dublê de cantor transita por ritmos como samba-enredo (Samba Emprestado), partido alto (Confraria), samba de gafieira Deusas e Devassas) e samba de breque (Águia de Haia).
Já Saracuna-Seropédica, o maior destaque do repertório de inéditas, tem arranjo e naipe de metais que evocam o balanço da rumba, remetendo ao CD anterior de Lopes, Partido ao Cubo.
Na letra, o compositor relata o caso de um ovni que teria aparecido no trajeto que dá título ao samba, feito por Lopes em parceria com Ruy Quaresma, produtor e arranjador do disco.
Saracuna-Seropédica mostra que as letras de Lopes são mais interessantes quando fazem espirituosas crônicas do cotidiano sem a preocupação de alfinetar. Os versos de Dicionário, por exemplo, estão repletos de ironias bobas quanto ao significado de palavras como "axé" e "roqueiro".
"A boca mais sábia é aquela que cala", reconhece o próprio compositor em verso da música. Letras e críticas à parte, o CD apresenta ótimos sambas como Ondina (em que o compositor perfila uma baiana bissexual) e Oló. No todo, Chutando o Balde mostra que a inspiração de Nei Lopes continua acima da média.