Defesa de Luigi Mangione critica promotores por gravação ilegal de interrogatório
'Escuta telefônica ilegal' foi motivo pelo qual os promotores retiraram as declarações que Mangione fez às autoridades de Nova York em Altoona, Pensilvânia
Esta quinta, 18, foi o nono e último dia de audiências de supressão de provas na Suprema Corte do Estado de Nova York, em Manhattan, no caso de Luigi Mangione, suspeito do assassinato de Brian Thompson, CEO da United Healthcare. Ele se declarou inocente.
O objetivo da audiência de supressão de provas é excluir determinadas evidências do processo judicial, por serem consideradas ilegítimas ou impertinentes, ou por serem colhidas ilegalmente.
A equipe de defesa de Mangione argumentou que as provas encontradas na sua mochila e as declarações que ele fez durante sua prisão em Altoona, Pensilvânia, em 9 de dezembro, foram obtidas por meio de uma busca e apreensão ilegal, violando seus direitos constitucionais. Sua defesa está tentando suprimir essas provas antes do julgamento por homicídio contra Mangione no estado de Nova York.
A promotoria argumentou que tudo foi obtido legalmente pela polícia de Altoona, que eles revistaram a mochila porque temiam por sua segurança e que as provas deveriam ser admitidas no julgamento.
Nas últimas três semanas, a promotoria convocou vários policiais de Altoona para depor, exibindo imagens das câmeras corporais dos policiais presentes na prisão de Mangione em um McDonald's de Altoona. Mangione foi inicialmente preso sob a acusação de falsificação por apresentar aos policiais uma carteira de motorista falsa de Nova Jersey com o nome de Mark Rosario. Na Pensilvânia, policiais podem revistar bolsas sem mandado judicial, com base em uma lei chamada "busca incidental à prisão", e os policiais de Altoona testemunharam que encontraram uma arma impressa em 3D, um silenciador e munição na mochila de Mangione.
Além dos depoimentos e das imagens das câmeras corporais, a promotoria apresentou como prova as gravações das ligações para o serviço de emergência 911. O detetive Oscar Diaz, do Departamento de Polícia de Nova York (NYPD), deveria depor na quinta-feira, mas a promotoria optou por não convocá-lo e encerrou sua apresentação de provas. A defesa também encerrou sua apresentação de provas, recusando-se a convocar qualquer testemunha.
A única prova retirada até agora é uma declaração que Mangione fez às autoridades policiais de Nova York, na Pensilvânia, em 9 de dezembro.
Policiais de Altoona leram os Direitos de Miranda para Mangione no McDonald's — direitos que a polícia nos EUA deve informar a um suspeito sob custódia antes de interrogá-lo, garantindo proteção contra a autoincriminação, conforme a Quinta Emenda da Constituição Americana. Mas o promotor assistente de Manhattan, Joel Seidemann, leu os mesmos Direitos de Miranda para ele em relação ao assassinato de Thompson na delegacia de polícia de Altoona.
Mangione exerceu seu direito de permanecer em silêncio, solicitou um advogado e pediu para fazer uma ligação telefônica, dizendo que preferia não responder a nenhuma pergunta. Ele então teria sido deixado sozinho na sala. Nesta terça, 16, Marc Agnifilo apresentou ao tribunal provas de que Mangione estava sendo gravado em vídeo e áudio durante todo o interrogatório sem o seu consentimento, em um dramático contra-interrogatório do policial David Leonardi, do NYPD.
Diferentemente de Nova York, a Pensilvânia exige o consentimento mútuo, o que significa que Mangione precisaria sido informado de que estava sendo gravado para que as provas fossem admissíveis em juízo. Leonardi testemunhou que Seidemann o instruiu a configurar as gravações de Mangione antes de sua conversa com o promotor de Manhattan. Leonardi afirmou não que não sabia se Mangione foi informado da gravação. Essas interações, segundo o depoimento de Leonardi, foram registradas por um dispositivo de áudio, uma câmera corporal e uma câmera atrás de um espelho unidirecional. Leonardi disse que não estava presente na sala, mas Seidemann e outros policiais do NYPD, incluindo Diaz, estavam.
Durante o interrogatório, Marc Agnifilo afirmou que, em determinado momento, os policiais saíram da sala e Mangione ficou sozinho, sem saber que estava sendo gravado.
"Você sabe se isso é legal?", perguntou Agnifilo a Leonardi, que respondeu estar seguindo orientações do Ministério Público. Poucos instantes depois, a acusação, a defesa e o juiz se reuniram no tribunal. Agnifilo anunciou que a acusação havia optado por retirar as declarações de Mangione prestadas à polícia de Nova York e a Seidemann, portanto, não tinha mais perguntas.
Na terça, Marc Agnifilo não chegou a afirmar que Mangione havia sido gravado ilegalmente, mas na quinta-feira, a advogada principal, Karen Friedman Agnifilo, disse que o único motivo pelo qual a promotoria retirou as declarações de Mangione foi por causa dessa "escuta telefônica ilegal".
"Francamente, a única razão pela qual retiraram a notificação para o interrogatório foi porque, creio eu, perceberam que havia uma escuta telefônica ilegal do Sr. Mangione na Pensilvânia quando foram interrogá-lo naquele dia", disse.
Ela expressou decepção pelo fato de a promotoria não ter chamado o detetive Diaz para depor, porque ela queria questioná-lo sobre uma declaração que, segundo o NYPD, a mãe de Mangione, Kathleen, teria feito às autoridades.
Em uma coletiva de imprensa realizada em 17 de dezembro de 2024, uma semana após a prisão de Mangione, o chefe de detetives da polícia de Nova York, Joseph Kenny, afirmou que a mãe de Mangione havia dito às autoridades que o tiroteio na UHC era algo que ela "poderia o imaginar fazendo". A equipe de defesa de Mangione solicitou provas de que Kathleen tenha dito isso e, na quinta-feira, exigiu uma retratação dessa declaração, que, segundo eles, era falsa e prejudicou seu cliente.
"Não existe tal declaração. Ela nunca foi feita", disse Friedman Agnifilo em uma coletiva de imprensa do lado de fora do tribunal na quinta. "Na verdade, foi o oposto. O que a Sra. Mangione disse foi que ela jamais imaginaria seu filho representando um risco para si ou para os outros."
Na conferência de imprensa, Friedman Agnifilo reiterou suas preocupações sobre a gravação ilegal de Mangione pela polícia.
"Foi somente depois do depoimento do Tenente Leonardi sobre a escuta telefônica ilegal do Sr. Mangione em Altoona, Pensilvânia, que [a promotoria] retirou o pedido de depoimento e, de repente, não teremos mais o detetive principal do caso", disse Friedman Agnifilo. "Isso é significativo. Havia muitas perguntas em aberto sobre as quais queríamos interrogá-lo, especialmente sobre a declaração muito prejudicial feita pelo Chefe de Detetives na época."
O gabinete do promotor distrital de Manhattan se recusou a comentar quando questionado sobre as acusações de gravação ilegal. Quanto à alegação de Friedman Agnifilo de que não teve a oportunidade de confrontar Diaz, tanto Seidemann quanto o juiz Gregory Carro afirmaram que ela poderia tê-lo convocado como testemunha se quisesse interrogá-lo.
Carro afirmou que tomará sua decisão sobre a supressão de provas no dia 18 de maio. Nenhuma data para o julgamento estadual foi definida, embora Seidemann tenha dito que gostaria de marcar uma data em breve, já que a mãe de Thompson tem 77 anos e precisa saber se Mangione é a pessoa que atirou em seu filho.
Nesta sexta, 18, a defesa de Mangione deverá apresentar documentos relacionados ao seu processo federal, no qual ele enfrenta a pena de morte. Sua próxima audiência federal está marcada para 9 de janeiro de 2026.